Alem das salas de aula

 

Cursos a distância estão presentes em 64 cidades goianas. Entre 2000 e 2010, matriculados somavam 814 mil no País
 

Tão longe, tão perto. Essa é a realidade da Educação a Distância (EAD), uma modalidade de ensino que acelera o processo de democratização no País e contribui para o aprendizado e o desenvolvimento social de jovens e adultos. Em Goiás, de Norte a Sul há um goiano matriculado em algum curso superior virtual. É uma porta que se abre para estreitar os laços com o mundo e dar oportunidade àquele cidadão do interior, sem condições de frequentar uma universidade longe de casa, de conquistar o tão sonhado diploma.
A Educação a Distância evolui em ritmo acelerado no Brasil. O Ministério da Educação (MEC) informa ao Diário da Manhã que, entre 2000 ao primeiro semestre de 2010, 814 mil estudantes estavam matriculados em cursos de graduação a distância no País. Neste período, o aumento foi de 1.652%. A previsão do MEC é de 500 mil alunos somente em 2012. A EAD surgiu no território nacional no início do século XX. Pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), o diploma de graduação de um curso a distância é igual ao fornecido pelo ensino presencial.
Atualmente, a EAD está presente em 64 cidades goianas, de acordo com o órgão federal. Em Goiás, as universidades Federal (UFG), Estadual (UEG) e Pontifícia Universidade Católica (PUC) são as três instituições de ensino superior do Estado autorizadas pelo MEC para oferecer cursos de graduação, especialização e extensão continuada. Também existem universidades de outros Estados brasileiros aptas a ofertar esse tipo de ensino em Goiás.
Entre as principais vantagens oferecidas pelos cursos a distância, estão a flexibilidade de horário e atendimento personalizado para esclarecimentos de dúvidas. A EAD é ofertada pela internet, vídeos ou teleconferências. A principal motivação desse tipo de ensino é a mobilidade. Mas, ao contrário do que muitos pensam, o aprendizado virtual é tão difícil quanto o ensino presencial.
Segundo a estudante de Licenciatura em Biologia Juliana Terra Borges, 22, o curso a distância exige dedicação igual ou maior do aluno em relação ao presencial, na leitura de textos, questionários e na preparação teórica dos conteúdos, que fazem parte do projeto pedagógico. Para ela, as diferenças do curso virtual para o tradicional consistem no fato de que não é necessário estar todos os dias presente na sala de aula, além da maneira como são ministrados os conteúdos. 
“A parte mais importante de qualquer curso são os trabalhos práticos e o estágio obrigatório, tendo esse último fator a mesma carga horária exigida pelas normas do presencial”, diz. Ela conta que quando foi publicado o edital do processo seletivo, vislumbrou a possibilidade de fazer o curso que sempre sonhou com um número menor de concorrentes do que o vestibular tradicional. “Talvez pela precocidade da EAD, o método não era bastante conhecido, por isso menos concorrido.”
Juliana é aluna da primeira turma do curso de Biologia da Universidade Federal de Goiás (UFG). Durante quatro anos esteve matriculada no curso a distância. A cada 15 dias e sempre aos sábados, durante todo o dia, comparecia pessoalmente na instituição para assistir às aulas. Ela começou o curso no segundo semestre de 2006 e o concluiu em dezembro do ano passado. A colação de grau acontecerá em março. Recorda que a EAD carregava certo estigma de descrédito, porém, com o passar dos anos, os alunos do presencial entenderam melhor o sistema e deixaram de criticá-lo.

Horário
A feirante Elaine Quinta Soares, 37, optou pela EAD por causa da flexibilidade de horários. Ela é aluna do curso de Licenciatura em Artes Visuais pela UFG – Polo de Inhumas. Frequenta as salas de aula duas vezes por mês e estuda todos os dias pela internet. As disciplinas são ministradas por meio de fóruns, atividades e trabalhos. Para ela, a principal diferença entre o curso presencial e o virtual é que o primeiro oferta um conteúdo pronto, já o segundo busca-se adquirir maior conhecimento. “O ensino a distância me dá a oportunidade de realizar o sonho de ser graduada em licenciatura.”

Instituições sofrem febre mercadológica no Estado

Em Goiás, a expansão dos cursos a distância tem sido imensa, tanto em número de instituições que ofertam essa modalidade de educação, como em número de alunos. Em 2009, a Universidade Estadual de Goiás (UEG) contava com 2.450 alunos matriculados. Para o diretor da Unidade Universitária de Educação a Distância da instituição, professor e doutor Francisco Severo, o crescimento da EAD no País pode ser avaliada de duas maneiras: a mercantil e pedagógica.
Para o doutor, em relação à primeira, constata-se que várias instituições perceberam a EAD como um grande mercado e estão entrando nesse segmento apenas com essa visão. “Nesse sentido, pode-se dizer que existe uma febre, uma correria para essa modalidade”, diz. Na segunda visão do diretor, a EAD é encarada não como um modismo, mas como uma realidade que veio para ficar, em função das facilidades que apresenta para os alunos em um País com dimensões continentais e com condições socioeconômicas diversificadas.
Severo afirma ainda que a principal preocupação da UEG é tornar a EAD uma das formas de sustentação de sua política de interiorização do ensino superior em Goiás. Para isso, tem uma filosofia que privilegia a qualidade e, por isso, a consolidação gradativa dessa modalidade. O fato de o aluno fazer o curso no lugar que quiser e em seu próprio ritmo tem sido as principais facilidades da EAD.
“No caso desse tipo de ensino via web, basta o estudante ter um bom acesso à internet em casa, no escritório ou lan house para adequar o horário dele aos estudos.” Para Severo, a EAD vai ampliar muito o seu espaço, mas acredita que os cursos a distância não devem substituir os cursos presenciais, porque eles têm características específicas e exigem que seus alunos tenham também um perfil específico. “O aluno de EAD precisa querer estudar nesse tipo de modalidade e necessita de muita disciplina e comprometimento.”

 

Qualidade do ensino preocupa especialistas

Graças ao ensino a distância, milhares de brasileiros têm-se aprimorado profissionalmente. Mas apesar do crescimento da oferta de EAD, uma das principais preocupações de especialistas na área de Educação tem sido a qualidade do ensino. Segundo a pró-reitora de Graduação da Universidade Federal de Goiás, Sandramara Matias, a instituição procura assegurar ao estudante um projeto pedagógico eficiente, com a finalidade de formar bons profissionais.
“A formação nos cursos a distância não deixa a desejar em relação ao ensino presencial. Nossas equipes de professores são qualificadas para isso. Nossa preocupação é com a qualidade, sempre procurando que a EAD tenha um projeto pedagógico semelhante ao presencial”, afirma. Assim como o vestibular tradicional, os estudantes de EAD também são submetidos ao processo seletivo, exceto os cursos para formação de professores que estão trabalhando na rede de ensino.
A UFG oferece na área de graduação os cursos de Administração, cuja primeira turma colará grau em abril –, Artes Cênicas, Artes Visuais, Educação Física e Física. A universidade oferece cursos nas áreas de graduação, pós-graduação e extensão continuada. Ao todo, estão matriculados nesses cursos 3.741 alunos, conforme o Centro Integrado de Aprendizagem em Rede (Ciar/UFG). A instituição conta com 27 polos de EAD espalhados pelo Estado.