Mulheres Cabeças

Elas estão cada vez mais no topo da vida acadêmica e intelectual; as universidades mostram isso

Quer saber até que ponto as mulheres conquistaram espaço nas tomadas de decisão do país? Dê uma olhada em Brasília. Além da presidente, há nove ministras. Mas para ver a ponta desse fio revolucionário talvez o melhor exemplo sejam as universidades. É lá que se encontram as principais cabeças femininas, no topo da cadeia pensante.
Cada vez mais, as mulheres vêm ocupando um lugar de destaque nas universidades, tanto como alunas quanto como professoras e pesquisadoras, inclusive chefiando núcleos de estudo. Mais do que os homens, elas se tornam doutoras e abraçam a causa acadêmica. Vão formar novos profissionais ou pesquisar novas descobertas que muito marmanjo sequer sabe do que se trata.
No Brasil inteiro, há esse avanço da participação feminina no topo da vida acadêmica e intelectual. Em Goiás, não é diferente. Para se ter uma ideia, 60% dos alunos de graduação da Universidade Federal de Goiás (UFG) são mulheres. Mas não é só isso. De modo geral, elas são maioria da graduação aos cursos de doutorado.
Elas batem os homens nas salas de Medicina, Direito, Veterinária e numa série de outras áreas. O universo acadêmico se tornou uma espécie de forte da mulher moderna por diversas razões, uma delas é o de ser um ambiente nulo de sexismo. Não há interferências machistas.
Desde o vestibular, para o ingresso na graduação, até o processo seletivo para o mais alto grau de titulação, o doutorado, tudo é feito por meio do mérito. De acordo com a professora do curso de Farmácia da UFG, Eliana Martins Lima, o mérito independe do sexo ou de qualquer outra circunstância. "Depende de dedicação, isso sim", diz ela.

A vida inteira
Dedicação é uma das palavras-chave do vocabulário feminino. No caso de Eliana (41 anos), sua vida inteira vem sendo dedicada à pesquisa e à docência. Graduou-se na UFG, em 1989, depois fez mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Há 20 anos é professora na federal goiana.
Segundo Eliana, o trabalho na universidade consome de 16 a 18 horas do seu dia. "Às vezes fico no laboratório até as 10 horas da noite, e não existe um dia que eu não leve um volume enorme de trabalho para casa", diz. Mas os resultados iluminam todos os anos em que vem se dedicando à pesquisa.
Na última década, ela foi uma das pessoas que mais levantaram recursos de projetos individuais de pesquisa para a universidade (aqueles que não foram angariados pela instituição). O valor gira em torno de R$ 20 milhões, com os quais Eliana montou um dos mais modernos laboratórios de pesquisa em tecnologia e nanotecnologia do país.
O laboratório em questão é o FarmaTec, que fica ao lado do Museu Antropológico da UFG, na Praça Universitária. Para Eliana, não é exagero dizer que ele está entre os melhores do mundo em sua área de pesquisa, com foco no tratamento de câncer. "Digo isso em termos de infraestrutura e capacidade de desenvolvimento e inovação em medicamentos", completa.
Essa estrutura toda, diz Eliana, é a responsável pelas dezenas de artigos científicos publicados em periódicos internacionais da mais alta avaliação. Entre eles estão o Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis, dos Estados Unidos, o European Journal of Pharmaceutical Sciences, com sede na Suécia, e a revista inglesa Nanotechnology.

Feeling
Eliana nasceu em Jataí, interior de Goiás a 325 quilômetros da capital. Saiu da cidade natal para estudar. Desde então já preparava a vida para um trabalho que a levasse a um alto patamar de realização intelectual. "Existia um feeling que me apontava para esta direção" diz.
Em 2006, ela fez pós-doutorado na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Embora seja um diferencial na vitoriosa carreira, a professora prefere mesmo é se lembrar com orgulho dos inúmeros alunos que formou na UFG. Só doutores já foram cinco, além de estar orientando outros seis agora.
Um desses doutores formados por Eliana é Rodinelli Borges de Oliveira, que vem se tornando uma figura graúda no universo das entidades públicas. Atualmente é pesquisador titular do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, responsável pela concessão de patentes.
Para um professor não há recompensa melhor do que ver as teses de seus alunos se tornando objeto de referência nas melhores instituições. "É minha tarefa, pôr gente no topo", diz Eliana, que também já formou 16 mestres, que hoje fazem doutorado ou estão trabalhando no setor privado.
A clareza da ideia do que é uma universidade ajuda a explicar porque Eliana é bem sucedida. Para ela, a função da universidade é gerar conhecimento e transmiti-lo. "O doutor pesquisador é que tem a qualificação e a capacitação para passar esse conhecimento aos alunos, sejam de graduação ou pós. Por isso faço meu trabalho com bastante dedicação."