Em 5 anos, multas mais que dobram
Galtiery Rodrigues
O número de notificações de multas em Goiás cresceu significativamente mais nos últimos cinco anos que o de condutores e veículos. Entre 2006 e 2010, a quantidade de autuações em todo o Estado saltou de 805.039 para 1.698.392, ou seja, mais que dobrou, registrando acréscimo de 110,97%. Enquanto isso, no período, os motoristas aumentaram 27,7% – de 1.569.687 para 1.989.829 – e os veículos, 49% – de 1.680.360 para 2.504.084. Há cinco anos, os números refletiam a média de uma multa para cada 0,51 condutor. No ano passado, ela subiu para uma autuação para cada 0,85 motorista, sendo uma razão de pouco mais de 4.653 multas aplicadas por dia.
No período, uma variante se manteve. Quatro tipos de infração lideraram a lista das notificações tanto em 2006 como em 2010 e todas registraram crescimento nos cinco anos. São elas: excesso de velocidade, que cresceu 96,8%, falta do uso do cinto de segurança, com aumento de 632%, desobediência de sinal fechado ou parada obrigatória, 23,8%, e dirigir falando ao celular, 85,3% (veja quadro).
A tendência de aumento das notificações de multas também é constatada em Goiânia. Em cinco anos, o número de autuações na capital, tanto em perímetro urbano, quanto nas rodovias próximas, cresceu 69,7%, saltando de 340.831, em 2006, para 578.374, em 2010. Se comparar o dado referente a 2009, quando a quantidade foi de 683.256, vê-se que, no período, houve época em que a estatística, assim como em âmbito estadual, dobrou, registrando acréscimo de 100,4%. Paralelo a isso, o número de veículos aumentou 31% – de 732.235 para 959.954.
O presidente da Agência Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (AMT), Miguel Tiago, considera difícil analisar graficamente a questão sem levar em consideração o contexto de cada ano. Ele exemplifica que em 2009, a fiscalização do órgão contava com o auxílio de cerca de 200 policiais. No ano passado, isso já não ocorreu e o número de autuações no perímetro urbano caiu. “Os instrumentos de notificação não são os mesmos. Eles variaram e, consequentemente, isso interfere nos dados. Houve fiscalização boa, mas também houve fiscalização ruim”, coloca.
Tiago explica que a postura da AMT é liquidar com todas as infrações e diminuir o número de acidentes e mortes. Se pudesse, toda irregularidade seria contida, mas, conforme ele, a prioridade é autuar pedagogicamente, buscando orientar e educar o condutor, e não multar aleatoriamente.
A visão defendida pela doutora em transportes e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Márcia Helena Macedo, é que o número de multas acompanha o número de infrações. Apesar de acreditar que os dados exigem avaliação profunda e estudo técnico que possibilite uma melhor conclusão, ela aposta que a única explicação para o acréscimo significativo das notificações é a ausência de uma fiscalização operante e ativa. “À medida que o condutor vê que pode não ser punido, ele relaxa. A certeza da impunidade é um estímulo para o desrespeito e muitos acabam excedendo”, opina.
Ela continua a explicação exemplificando o caso do uso do celular no trânsito. Para a doutora, mesmo que exista lei que assegure a irregularidade, é raro o caso de um motorista que tenha sido punido por falar ao telefone enquanto dirigia. “E isso é uma atitude corriqueira. Vê-se muito por aí.” Mesmo que aposte nessa visão, ela prefere crer que a estrutura da fiscalização tenha desenvolvido de acordo com o crescimento da demanda.
CONDUTORES JOVENS
O que se confere hoje, segundo Márcia, é que os condutores mais jovens acabam cometendo mais infrações. E isso poderia ser explicado de diversas formas. Uma delas seria, provavelmente, o fato de dirigirem e ser mais ativos no volante do que pessoas de outras idades. Eles estariam, dessa forma, mais suscetíveis às autuações. Ela só não descarta, no entanto, os problemas na formação de novos condutores verificados nos últimos anos, sejam estruturais ou metodológicos.
Conforme o Detran, entre os homens, a faixa etária que mais se envolve em acidentes está entre 25 e 34 anos (24%), seguida pelos motoristas entre 18 e 24 anos (13%).
Entre as mulheres, tal relação é mantida. O índice de acidentes é liderado pelas condutoras que tem idade entre 25 e 34 anos (33%). A presidência do Detran, por motivo de agenda, segundo a assessoria, não pôde se pronunciar sobre o aumento das multas.
EXEMPLO RARO
A representante comercial, Gláucia Batista de Castro, de 27 anos, é um exemplo raro. É uma das motoristas, entre os mais de 1,98 milhões de condutores goianos que nunca foram autuados por qualquer órgão regulador. Ela acredita que talvez isso tenha ocorrido por causa do pouco tempo que dirige, mas reconhece que encontrar pessoas como ela é difícil e diz se lembrar de, no máximo, cinco que nunca foram autuados no trânsito. Há nove anos, Gláucia tirou a habilitação e só há três meses começou a transitar pela capital. “Até então, usava a carteira, no máximo, como documento de identificação para entrar em boates e bares”, disse.
No que depender dela, a condição continuará do jeito que está. Ela relata que procura sempre prestar bastante atenção e nunca exceder os limites, tampouco dirigir embriagada. Mesmo assim, Gláucia não deixa de considerar a fiscalização do trânsito, na capital, deficiente quando deveria ser ativa e oportunista em momentos que facilitam as autuações. “No horário de pico, de muito carro na rua, você não vê nenhum agente para organizar o tráfego. Já na saída das baladas, de festas, quando é propício para multar, você vê um carro da polícia em cada esquina”, descreve.