Estradas ficaram velhas e defasadas

Última reportagem da série mostra que gos não acompanharam crescimento do estado
Alfredo Mergulhão
Com muita idade e poucos investimentos, algumas rodovias goianas tornaram-se estruturas de engenharia arcaica. Elas chegaram à velhice imposta pelos anos de uso, superiores a uma década, afetadas pelo aumento do tráfego, das cargas e das ações climáticas. Pelo menos dez trechos de estradas pavimentadas ficaram com a estrutura defasada diante da utilização que têm hoje em comparação à data em que as obras foram concluídas, de acordo com levantamento da Agência Goiana de Transportes e Obras Públicas (Agetop).
Inaugurada em 1999, a GO-428 é a principal ligação entre Alto Horizonte e a BR-153, na Região Norte do Estado. O município viu sua população aumentar 75% nos últimos dez anos, impulsionado pela indústria da mineração. Com o crescimento demográfico, revelado no Censo divulgado em novembro do ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), vieram as mudanças no uso da rodovia, que está entre as que precisam ser restauradas. A mineração também é responsável pelo crescimento econômico e consequente aumento do tráfego nas rodovias GO-237 e GO-241, que dão acesso aos municípios de Niquelândia e de Minaçu.
Em situação semelhante se encontra a GO-154, nas proximidades de Rubiataba. O município tem se destacado na criação de gado, nas indústrias de cerâmicas e de móveis, e na produção de álcool. Essas características econômicas provocaram mudanças no uso da rodovia, pois compõem cargas volumosas e pesadas, transportadas por via terrestre. A cadeia produtiva da cana de açúcar também é responsável pela ampliação do uso das GOs 184 e 302, que ligam Serranópolis a Aporé, e da GO-164, entre Quirinópolis e Paranaiguara.
Além da cana, o transporte da soja mudou o perfil dos veículos que trafegam nas GOs 050, 184, 220 e 174. As rodovias não suportam o escoamento da produção de municípios como Chapadão do Céu, Rio Verde, Jataí e Iporá. A Agetop sabe que o tráfego, mas não tem levantamento da média de veículos que passam nesses locais. A última conta tem data de 2006 e a próxima começará a ser feita com os radares eletrônicos dotados de tecnologia OCR, que iniciaram a instalação na semana passada.
Essas rodovias têm idade entre 11 e 26 anos e os pavimentos são projetados para ter vida útil de cerca de uma década. A sobrevida depende de manutenção preventiva, corretiva, da elaboração de projetos de reforço ou da reconstrução do trecho, dependendo do caso. Pesquisadora em Geotecnia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), a professora Lilian Rezende afirma que algumas dessas rodovias já duraram muito e outras estão chegando ao fim, pois o material utilizado não consegue mais atender às solicitações a que estão sendo submetidos.
"O correto é atualizar a contagem de veículos e fazer as intervenções para o pavimento funcionar bem", sustenta a docente. Lilian Rezende usa as rodovias privatizadas para exemplificar a existência de técnicas e metodologias corretas para manter as vias em condições adequadas de uso, pois onde paga-se pedágio encontra-se asfalto de boa qualidade.
Outra preocupação refere-se ao peso transportado nas rodovias. De acordo com a Agetop, há dez anos circulavam basicamente caminhões "toco", com capacidade de carga de até nove toneladas, ou veículos trucados que suportavam no máximo 20 mil quilos. Uma década depois, a produção aumentou, a tecnologia automotiva desenvolveu e os investimentos na malha viária não acompanharam esse ritmo. "As carretas de hoje carregam mais de 70 toneladas, realizam o trabalho que quatro faziam antes", disse o diretor de manutenção do órgão, Francisco Humberto Moreira.
O excesso de peso colabora para a deterioração das estradas. Como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) pretende colocar balanças em todas as rodovias federais em fevereiro, existe a preocupação de um deslocamento do tráfego para as estaduais. A Agetop estuda adquirir balanças móveis de grande precisão para aumentar a fiscalização nas estradas.
Terceira Via deve ser remodelado, diz Agetop
Responsável pelo serviço de manutenção da malha viária estadual, o programa Terceira Via será remodelado. As próximas licitações da Agência Goiana de Transportes e Obras Públicas (Agetop) serão separadas em duas categorias: rodovias pavimentadas e não-pavimentadas. A medida visa dedicar mais atenção às estradas de terra, uma vez que, sistematicamente, as empreiteiras oferecem mais cuidados às vias asfaltadas.
A terceirização na prestação de serviços vai servir para contemplar um número maior de empreiteiras que atuam no ramo da pavimentação e conservação de estradas. Inclusive empresas de menor porte, que ficarão com a responsabilidade de cuidar da sinalização e da roçagem das vias, além de tapar buracos rotineiramente. A justificativa da Agetop para a modificação é que os maquinários e projetos são diferentes nos dois tipos de rodovia.
Estradas vicinais têm importância econômica pelo fato de servirem como meio de escoar a produção agropecuária até as rodovias asfaltadas. É o que faz diariamente Joaquim Mesquita Neto, ao se deslocar entre a fazenda e a cidade. Produtor rural em Marzagão, ele encara 15 quilômetros de estrada de terra na GO-443 para entregar leite a uma empresa de laticínios em Morrinhos. "Quando chove a gente sofre com atoleiros. Quando faz sol, o problema é a trepidação", reclamou.
O Terceira Via também cuidará da recomposição de bueiros simples que estão em ruínas e da recuperação de trechos afetados por erosões, provocadas pelo desmatamento feito na abertura de novas estradas, que quase sempre vêm acompanhadas pela falta de cuidados com a vegetação que fica às margens. O Plano de Situação e Recuperação das Rodovias Goianas detectou 26 erosões que comprometem a estrutura do pavimento.
A drenagem das rodovias também carece de cuidados. O levantamento observou a existência de 33 bueiros estourados, que danificaram o pavimento e precisam ser recuperados. Os mais simples demandarão investimentos de R$ 30 mil para construção de 59 metros da estrutura de escoamento de água. No entanto, alguns trechos precisarão de intervenções complexas. São seis bueiros que necessitam de obras especiais, cuja soma de custos ultrapassará os R$ 5,4 milhões.
O programa continuará com o serviço para o qual foi criado: tapar buracos. Conforme o POPULAR mostrou no último domingo, os buracos nas estradas goianas ocupam um volume de 2,5 mil metros cúbicos. "Eles já existiam antes das chuvas e dos desvios por conta das interdições", reclamou o fazendeiro Ribamar Santos, que tem propriedade em Vianópolis e utiliza GO-010. "Está mal cuidada e mal sinalizada". ▩