Agência Goiana de Comunicação começa a implantar o projeto de emissora de tv com notícias 24 horas em abri
A implantação e a consolidação de um projeto idealizado pela atual gestão da Agência Goiana de Comunicação (AGECOM) poderá elevar a Televisão Brasil Central (TBC) a um novo patamar de qualidade e importância enquanto veículo público de comunicação. Sob a direção do presidente da Agecom, José Luiz Bittencourt Filho, e a coordenação do jornalista Marcos Villas Boas, que também é o responsável pela sua implantação, o projeto visa transformar a TBC em um canal de notícias 24 horas. Sob nova concepção all news, a emissora passará a se chamar TBC News.
Ainda não há um projeto por escrito sobre o novo modelo de TV a ser adotado pela estatal goiana, mas a discussão de sua implantação, prevista para começar em abril, já está adiantada. Na última quinta, 17, os responsáveis pelo projeto comandaram da primeira audiência pública para discutir o projeto. Jornalistas, funcionários da TBC, representantes das comissões de comunicação da Assembleia Legislativa e da Câmara de Goiânia, representantes do setor de comunicação público e privado e lideranças sindicais participaram da discussão.
Segundo Marcos Villas Boas, a discussão do projeto continua por meio de páginas da TBC News em sites de relacionamento, como o Facebook e Twitter, pelo email pensar@tbcnews.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. , por videochat e em mais uma audiência pública marcada para o dia 24. Depois disso, até o dia 31, o projeto estará fechado, e o modelo não será mais discutido, pois começa a fase de implantação. A partir daí, estão agendadas duas reuniões para a avaliação do funcionamento da TBC News, uma em julho e outra em dezembro.
Estrutura
Embora possua uma equipe superior, em número de profissionais de comunicação, a qualquer outra emissora do Estado, há grandes desafios a serem superados para a implantação da TBC News. O mais visível deles se refere à necessidade de modernização dos equipamentos disponibilizados aos profissionais. Para citar um exemplo, as câmeras são antigas e sucateadas. De acordo com Villas Boas, este problema será superado, pois a TBC passará por uma completa reformulação.
"Até o mês de setembro ela será digitalizada. Até o fim do ano, vamos trocar todo o parque de equipamentos. Será feita uma reforma física, que será acompanhada por uma troca do sistema operacional. Não sei quando isso vai se dar, demora um ano ou um ano e meio para acontecer. Mas a TBC News não vai demorar tanto. Ela vai acontecer em três meses. Vamos fazer parceria com o setor privado para disponibilizar a parte de equipamentos e vamos utilizar nosso corpo de funcionários, que é muito grande. O governo de Goiás tem mais jornalistas do que a prefeitura de Goiânia tem de fiscais de trânsito", afirma Villas Boas.
Grade básica
A definição da linha editorial e a produção de um conteúdo o jornalístico de qualidade e com credibilidade são outras questões bastante desafiadoras para a TBC, pelo fato de se tratar de uma estatal. Para Villas Boas, a TBC, hoje, não está sob o controle do Estado e o que ocorre na emissora é que, ao longo do tempo, "as pessoas perceberam que a tv não tinha conteúdo e vieram propor projetos específicos. Uns vieram falar sobre esporte, outros sobre política, saúde, e vieram gerar conteúdo. São projetos pessoais dentro da TV Brasil Central", explica.
Para Villas Boas, ao tornar-se TBC News, os projetos individuais que forem apresentados à emissora terão que se enquadrar no novo formato. "Hoje, a tv é praticamente terceirizada. A pessoa vem, tem uma hora de concessão, paga mil reais de cessão e fatura R$ 150 mil. Eles geram conteúdo, não estão errados. Agora nós vamos colocar um produto na TBC", ressalta.
Segundo Villas Boas, a Agecom e o governador Marconi Perillo tomaram a decisão política de transformar a velha TBC em TBC News. "É um perfil de tv "all news", que terá programação regional em 95% da grade e os outros 5% nós vamos comprar de redes nacionais e internacionais ou buscar por meio de parceria. Vamos produzir só noticiário regional. Agora estamos discutindo a modelagem da tv.", informa.
De acordo com Villas Boas, neste momento não estão sendo discutidos os projetos de pessoas dentro da TBC. "Vamos discutir a grade ideal para depois chegar aos projetos. Se formos discutir começando pelos projetos faremos um Frankstein. Em abril vamos colocar em prática nossa grade básica, que são os telejornais, inserções de notícias factuais. Este perfil ideal está em debate. Vamos saber ainda como, para cumprir seu papel, a TBC vai intervir na programação, de quanto em quanto tempo", revelou.
O papel institucional da TBC News, para Villas Boas, é de dar transparência ao governo. "O papel jornalístico é de interpretar as informações para o leitor, é dar o fato e o contexto.". Embora defenda a interpretação da notícia, o coordenador da TBC News diz que os telejornais não serão opinativos. "Interpretar não é opinar. É dar o fato e mostrar o contexto e a influência. Não faremos um jornal opinativo porque com este perfil teríamos que ter um embate diário de opiniões. Como o próprio governo é formado por um grupo de opiniões contraditórias, nós não vamos entrar nessa", explica.
O desafio da credibilidadeO modelo de jornalismo a ser seguido pela TBC News, de acordo com Marcos Villas Boas, buscará a "fidelidade absoluta à informação". "Nunca vamos deixar de dar a notícia", garante. Segundo Villas Boas, "a tendência que os governos e governantes tem em relação a uma TV estatal é de que ela é feita para bajular, para promover a pessoa, mas que isso faz a TV perder credibilidade. Hoje temos uma TV sem credibilidade, que ninguém assiste, então não tem viabilidade, pois não vendemos nenhum produto", ressalta.
Villas Boas disse que o governo está convencido de que a TBC tem que retomar a sua credibilidade para, quando falar do próprio governo, ter mais crédito. "O governo tem um instrumento de comunicação chocho, inerte, incapaz. Não vamos passar a bater no governo. Vamos dar a informação e ouvir o governo. Não podemos deixar de dar a informação", argumenta. Para Villas Boas a maneira de fazer jornalismo e se relacionar com o poder é tendo ética. "Basta ter ética. Se tiver ética, não precisa ser televisão do governo para se dar bem com o governo. Daremos a informação dando ampla condição das partes se manifestarem", teoriza.
Comercial
O projeto da TBC News também prevê grandes mudanças na área comercial, que, segundo Villas Boas, hoje sequer existe. "Vai mudar. Hoje não temos parte comercial aqui. O que existe são terceiros que ocupam o espaço e faturam seus próprios projetos comerciais. Ninguém mais vai faturar para o próprio bolso dentro da TBC. Todos farão parte de um projeto, a TBC vai faturar para o projeto e remunerar os profissionais. Não terá mais a venda de espaços", garante.
O coordenador da implantação da TBC News afirma que esta questão está sendo discutida para as pessoas perceberem como estes projetos que hoje estão na grade são inviáveis. "Por exemplo. Tem um programa que a pessoa ocupa uma hora de programa e paga R$ 2 mil para a TV. Mas a TV gasta R$ 18 mil para manter o programa dele no ar. Mostrando os custos nós provamos que é inviável. Nenhum programa será mantido sem que se adeque ao modelo de TV "all news", explica.
Segundo Villas Boas, a TV all news vai trabalhar em cima de fatos, não vai ser no estilo revista, porque se for assim, terá que atender a vários projetos de programas neste molde. Por isso trabalhará somente com informação.
Outra meta da TBC News será ampliar a cobertura nos municípios do interior do Estado. A idéia é estruturar sucursais em pelo menos 15 municípios pólos. "Nossa intenção fazer com que o Estado de Goiás se conheça. Hoje a televisão fala de Goiânia para Goiânia. Já temos a capacidade de falar para as regiões. A TBC está em 183 municípios, as outras não passam de 40 ou 45 cidades. A capilaridade da TBC é muito grande. Como Estado, como não visamos lucro, podemos montar uma torre para retransmitir o sinal para um município pequeno, com poucos habitantes, onde as outras TVs não vão porque não tem como faturar lá", afirma Villas Boas.
Controle
Villas Boas descarta a possibilidade de constituição de uma fundação para gerir a TBC. Segundo ele, a TBC News permanecerá sob o controle do Estado, pois considera o sistema de gestão por meio de fundação muito pesado. "A TV Cultura está afundando por isso. O corpo de decisão é muito grande. A Assembleia, a OAB, a CNBB, a FENAJ, todos dão palpite, não sai nunca a decisão. A TV Cultura acaba de tirar seu telejornal do ar porque não tem gestão" explica.
Professora tem visão crítica da TBC News
Uma televisão que veicule somente notícias, ou uma televisão "all news" é algo extremamente caro, pois tem que ter algo novo o tempo todo. Essa é a opinião da professora de comunicação da UFG, Ana Carolina Temer. Ela explica que o sistema "all news" que existe no Brasil é uma cópia do modelo norte americano, em que a emissora de sinal aberto produz telejornalismo e dilui o conteúdo e o custo com a veiculação do produto na TV "all news", de sinal fechado.
No Brasil, os canais especializados em notícias estão restritos à tv paga. Assim, a Agecom tem a pretensão de ser uma tv "all news" veiculada pelo sinal aberto. No modelo vigente, o canal pago aproveita o que não foi utilizado pela matriz de sinal aberto, como programas de serviço, documentários, entre outros, para complementar sua grade jornalística.
Assim, uma tv "all news", como a que deve ser criada pelo governo de Goiás sob o nome de TBC News, é um reaproveitamento de conteúdo que se faz na emissora de sinal aberto. Porém, no caso goiano, não existe uma tv aberta para subsidiar a produção do modelo de tv de notícia. "O fazer televisão, assim como telejornalismo, está ligado a um processo de produção econômica. Se você tem recursos, é possível fazer", esclarece Ana Carolina.
A principal queixa do governo estadual é referente às dívidas herdadas e aos problemas financeiros enfrentados, o que tem impedido investimento em vários setores da administração pública. Assim, as parcerias público-privadas elencadas pelo coordenador da TBC News, Marcos Villas Boas, e defendidas pelo governador Marconi Perillo (PSDB) serão fundamentais para sua efetivação devido ao preço.
Limite tênue
Ana Carolina é categórica ao analisar a TBC News sob o aspecto de seu comando. "A interferência direta do governo é sempre prejudicial ao desenvolvimento de uma agência de notícias. É impossível para o dono do jornal aceitar passivamente a crítica. Quando o dono é também o governante a tendência é que os fatos não sejam relatados com toda a clareza. Existem exceções, mas essa é uma situação-limite".
Por outro lado, a professora enfatiza que o problema não é ser uma tv feita pelo governo, mas que o espaço midiático deve ser o mais plural possível. "O governo tem direito a voz, assim como todos. Ter uma televisão que defenda o ponto de vista do governo não é necessariamente ruim. O que é ruim é o desequilíbrio". Assim, Ana Carolina defende que vários setores da sociedade organizada tenham possibilidade de divulgar seus conteúdos e pontos de vista.
Uma televisão estatal, que tem como gestor o governo, mas que renda lucros e tenha credibilidade é o que almeja o coordenador Marcos Villas Boas. Porém, saber dosar o compromisso com o governo e o compromisso com a sociedade é um dos maiores desafios da nova tv que pretende se instalar. As pressões políticas terão que ser amenizadas para se construir um veículo que não seja visto como mero porta voz oficial.
Marketing
Um modelo de tv "all news" pressupõe a veiculação de matérias frias, reportagens longas, entre outros elementos jornalísticos, ao contrário do que pretende Villas Boas, que visualiza uma programação focada no factual. Ana Carolina caracteriza a fala do coordenador como "elemento de marketing". "Nenhuma emissora de televisão no mundo que tenha telejornal trabalha só com o factual. A informação agendada pode ser, dependendo do contexto, tão importante quanto a factual", completa.