Mercado de games enfrenta percalços

Jornal Diário da Manhã, 24/02/2011

Mercado de games enfrenta percalços

Brincadeira de criança para alguns, a produção de jogos eletrônicos movimenta bilhões de dólares ao ano no mundo
Quem pensa que os jogos eletrônicos não passam de brincadeira de criança e são apenas um meio de entretenimento pouco valorizado está completamente enganado. Feito principalmente para gente grande, o mercado de jogos movimenta bilhões de dólares em todo o mundo e está em incrível ascendência. No Brasil, o segmento enfrenta dificuldades de crescimento, mas segue adiante, ainda que a passos lentos.

Pesquisa realizada pela Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos) no ano de 2009 contabilizou 42 empresas produzindo software para jogos eletrônicos no Brasil, com maioria concentrada em São Paulo. De toda a produção nacional, 43% se destinava à exportação, enquanto a produção de hardware era 100% consumida internamente. O faturamento da indústria brasileira representava 0,16% do faturamento mundial, e o PIB (Produto Interno Bruto) do setor à época era de R$ 87,5 milhões. De lá para cá, o quadro pouco foi alterado.

De acordo com representantes do setor, o que dificulta que o mercado se fortaleça no Brasil é a alta carga de tributação imposta ao setor e o reconhecimento, por parte do governo, de sua solidez. A pirataria, surgida a partir dos altos preços atingidos pelos games importados, é outro forte ponto negativo, que prejudica a imagem do País frente às indústrias estrangeiras.

“As grandes indústrias de games ainda relutam em se instalar em solo brasileiro por terem uma imagem de que, aqui, as pessoas só pirateiam, ou seja, de que não existe a intenção de se comprar jogos. O problema é que tudo isso ocorre pelo alto valor dos impostos que o governo coloca sobre os games”, diz o desenvolvedor de jogos, diretor de criação da empresa goiana GameBlox, Diego Leão. “No Brasil, os games são taxados como jogos de azar. Isso é péssimo, além de não ter fundamento.”

Diego é o proprietário da empresa que produz games para dispositivos móveis, com foco na publicidade. “Desenvolvemos propagandas interativas para a internet, o que acreditamos ser o novo filão da publicidade”, ressalta. Ele conta que abriu a empresa há um ano, e já investiu cerca de R$ 200 mil. “E com capital do meu pai, porque, como um iniciante consegue tanto dinheiro assim?”, reclama.

Ele revela que sua pretensão inicial era atuar no ramo do entretenimento, e que acabou trabalhando com publicidade meio “sem querer”. “Essa não era minha área, mas a falta de investidores no entretenimento me empurrou para cá. É aquela roda-gigante, as empresas de fora não vêm, o mercado interno não é estimulado, e por aí vai”, diz.

O professor do curso de Design Gráfico da Faculdade de Artes Visuais da UFG e coordenador do Núcleo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Mídias Interativas (MediaLab) da instituição, Cleomar Rocha, explica que, em Goiás, só existem duas alternativas para quem queira se tornar um desenvolvedor de games. “Ou vai para a área de desenvolvimento, cursando Ciência da Computação, ou para a área de design de interfaces, cursando Design Gráfico.”

Um pouco mais otimista quanto à posição do governo em relação ao mercado de games no País, Cleomar pontua os editais, como o da Cinemateca Brasileira, que apoia laboratórios voltados para a pesquisa e experimentação em tecnologias audiovisuais, em que o próprio fora contemplado com a participação na 1ª Feira de Inovação Tecnológica Audiovisual, em abril, em São Paulo.

Segundo ele, tudo não passa de uma questão de vocação. “Enquanto nos Estados Unidos e na Ásia há as grandes indústrias de games do mundo, no Brasil, o foco é o desenvolvimento de jogos para dispositivos móveis, que têm crescido muito, inclusive internacionalmente”, opina.

Errata: o endereço da página da Estação Digital é http://www.goiania.go.gov.br/shtml/estacaodigital/principal.shtml, e não http://www.goiania.go.gov.br/estacaodigital/index.htm conforme publicado na última edição (17/02/11).