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Sem manutenção, asfalto vira lama

 

 

Sem manutenção, asfalto vira lama

Especialistas ouvidos pelo popular dizem que faltam investimentos preventivos nas ruas de goiânia

A falta de manutenção preventiva e eficiente é a principal causa para a formação de milhares de buracos nas ruas de Goiânia, que surgem em uma velocidade muito maior do que a capacidade do poder público de acudir os trechos mais degradados. Aliada a fatores como as chuvas intensas - acima da média histórica dos meses de fevereiro e março na capital - e o desgaste esperado do pavimento, cuja vida útil é estimada entre 10 e 20 anos, ela resulta em locais com sério comprometimento do asfalto, desconforto e prejuízos para usuários.

É o que apontam professores de Engenharia ouvidos pelo POPULAR para explicar a grande quantidade de buracos nas ruas da capital. "O pavimento tem vida útil, geralmente entre 10 e 15 anos, dependendo de uma série de fatores", diz a professora da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Goiás (UFG) Lilian Rezende, doutora em geotecnia. A Agência Municipal de Obras (Amob) estima que cerca de 30% do asfalto da capital já extrapolou a vida útil.

Lilian Rezende ressalta que no Brasil não há a cultura da prevenção. Ela lembra que as normas para rodovias nos Estados Unidos não preveem a ocorrência de buracos, porque eles simplesmente não se formam. "Com a manutenção é possível detectar e corrigir quando surge uma trinca (estágio inicial do problema) no asfalto", explica. "Geralmente o buraco é uma trinca não tratada a tempo". Ela observa que não se percebe, por aqui, investimento preventivo, mas só para correção.

O engenheiro civil Benjamim Jorge Rodrigues dos Santos, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado de Goiás (IFG), acrescenta que o ideal é que as trincas que surgem no asfalto, em um processo de desgaste natural, sejam seladas com lama asfáltica, em um trabalho preventivo, que deve incluir ainda a manutenção das galerias de águas pluviais (das chuvas). "Para a próxima temporada chuvosa, a tendência é de que a situação se agrave ainda mais", diz.

Outro aspecto é a opção pela quantidade, em detrimento da qualidade. "Os asfaltos urbanos muitas vezes são feitos pela produtividade, para comparar que prefeito asfaltou mais. Para isso, economiza-se no revestimento", critica. O resultado é a construção de pavimentos com espessura de 2 ou 3 centímetros, quando o ideal seria de 5, 7 ou 8 centímetros, dependendo do tráfego. "Não se pode padronizar. Cada setor tem sua característica", diz Benjamim.

 

Os professores veem com reservas os tapa-buracos que são feitos pontualmente pela Prefeitura, especialmente no período chuvoso. Eles sugerem que em vez dos tapa-buracos sejam feitos remendos nos locais onde o pavimento está comprometido. "O pedaço de terra de onde foi arrancada a cobertura não serve mais para tapa-buraco. É preciso que seja feito um remendo", diz Lilian. Benjamim cita que os tapa-buracos custam 30% mais e duram três vezes menos que os remendos.

 

 

Tapa-buracos gastou R$ 5 milhões em 2010

 

A Agência Municipal de Obras (Amob) aumentou de 12 para 17 o número de equipes trabalhando nos últimos dias em operações tapa-buracos nas ruas de Goiânia nos últimos dias em consequência das chuvas longas e diárias que têm castigado o asfalto de todas as regiões da cidade. Todos os dias estão sendo aplicadas, em média, 140 toneladas de massa asfáltica, mas na semana passada houve dias em que esse volume chegou a 220 toneladas. Ainda assim, os buracos continuam brotando a cada chuva.


A assessoria de comunicação da agência informou que no ano passado foram gastos R$ 5 milhões em operações de tapa-buracos na capital. Segundo a Amob, o desgaste e os investimentos em tapa-buracos são inevitáveis, já que cerca de 30% do asfalto nas ruas da cidade já ultrapassou o tempo máximo de vida útil, estimado em até 20 anos. Por ser um asfalto muito antigo, ele apresenta muitas trincas e perde a elasticidade em função do desgaste provocado pelo clima e também pelo tráfego de veículos.

Para otimizar a aplicação de recursos e resolver de vez o problema de buracos nesses trechos em que o asfalto já está totalmente comprometido, a Amob informa que serão recapeados 200 quilômetros de vias urbanas em Goiânia, dentro do Programa de Pavimentação 2011, lançado neste mês pelo prefeito Paulo Garcia, que contempla ainda a pavimentação de 31 bairros novos. Nessas vias será feito o mesmo processo empregado na Marginal Botafogo no ano passado, com a substituição do asfalto comprometido.

 

ENTREVISTA/BENJAMIM JORGE


"Tapa-buraco é 30% mais caro"
 

A razão do surgimento de tantos buracos nas ruas de Goiânia a cada período chuvoso - problema potencializado neste ano em que o volume de chuvas está acima da média histórica do período - está na falta de investimentos em prevenção. Para o engenheiro civil Benjamin Jorge Rodrigues dos Santos, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), diz que a raiz do problema é cultural, pela falta de gerenciamento e de um plano de manutenção.

 

Por que há tantos buracos em Goiânia? Excesso de chuva ou má qualidade?

 

Esta é uma questão também cultural. Há um assunto chamado gerenciamento de pavimentos, que é feito em países desenvolvidos, com o controle do peso de veículos, fluxo. O gerenciamento aponta os trechos mais problemáticos, antes que aconteça algum defeito. Desse gerenciamento, sai um plano de manutenção, que também é raro ver aqui no Brasil.

 

E como seria esse plano?

O plano de manutenção deve ser colocado em prática, quando não há muitos recursos, pelo menos dois meses antes do período chuvoso, para que a situação não se agrave ainda mais com as chuvas.

 

O que faz com que o asfalto fique tão danificado durante as chuvas?

 

O que acaba com o pavimento é a combinação do tráfego pesado com a água das chuvas, que não pode ficar empoçada. No Centro, por exemplo, há dezenas de caixas coletoras (bocas-de-lobo) entupidas. Desobstruir as galerias de águas pluviais é também uma medida preventiva.Os serviços de tapa-buracos não resolvem?

 O tapa-buracos, a priori, não é uma obra de engenharia. É um paliativo. O que deveria acontecer é a aplicação de remendos, este, sim, um trabalho bem técnico, em que se faz um corte geométrico no asfalto, limpeza e imprimação (aplicação do asfalto diluído na superfície), para depois colocar-se a massa asfáltica e compactá-la.

O que o senhor acha dos tapa-buracos que são feitos?

O que se vê rotineiramente são os funcionários jogando o asfalto de cima do caminhão, de qualquer jeito, deixando para o próprio tráfego fazer a compactação. Há um estudo que comprova que o tapa-buraco fica 30% mais caro do que o remendo. Além disso, ele não resiste à próxima chuva, ao passo que o remendo suporta duas ou três estações chuvosas.

É possível determinar a vida útil dos pavimentos?

Todo pavimento é feito para durar entre 10 e 20 anos, mas isso só acontece se ele tiver a sequência de manutenção. É preciso haver selagem das trincas que surgem através da lama asfáltica, porque é nelas que têm origem as rachaduras e os buracos. Os asfaltos urbanos muitas vezes são feitos por produtividade, para comparar que prefeito fez mais, e não com foco na qualidade. Não se pode fazer o mesmo tipo de asfalto para toda a cidade. Cada local deve ter um estudo próprio, levando em conta principalmente o tráfego da região.


Problema se espalha por todas as regiões

 

Setor Pedro Ludovico, Crimeia Oeste, Perimetral Norte e Setor Oeste. Localizados em diferentes regiões de Goiânia, esses são apenas alguns bairros em que os motoristas precisam de atenção e paciência para driblar buracos nas pistas. "Já tem uns três dias que (o buraco) está aí. Resolvi montar esse boneco depois que uma moça, grávida, dirigindo uma Bizz, caiu e parou long", contou ontem o tapeceiro Cláudio Cortes de Oliveira, de 32 anos, que, diante do risco para os motoristas que passam em frente ao local onde trabalha, na Alameda Leopoldo de Bulhões, no Setor Pedro Ludovico, resolveu improvisar um sinal de alerta.

Outro incômodo está na Avenida Goiás Norte, esquina com a Avenida Ministro Guimarães Natal, Setor Crimeia Oeste, bem em frente ao sinaleiro, no sentido Praça do Trabalhador. Comerciantes e trabalhadores das imediações dizem que o buraco tem a ver com a rede de esgoto e que técnicos da Saneago já estiveram no local. "Pior ainda se a responsabilidade pelo buraco é do poder público", reclamou o autônomo Carlos Pereira dos Santos, de 40 anos.

Também enfrenta uma pista bem ruim quem trafega pela Perimetral Norte. Buracos fundos obrigam os motoristas a seguidos desvios na pista. No Setor Oeste - área nobre da cidade -, buracos tomam conta da Rua 2. Na Rua 9, em pelo dois pontos exigem atenção redobrada: na esquina com a Rua João de Abreu (cruzamento da Praça do Sol), e na esquina com a Avenida B, ambos na pista à esquerda.(Patrícia Drummond)

 


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