Perigo ronda as academias
Galtiery Rodrigues
A prisão de um dono de academia localizada em bairro nobre de Goiânia na sexta-feira (4) com suplementos importados e de venda proibida no Brasil reacendeu o debate em torno de práticas aceleradas para se ganhar massa muscular. O professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutor em Fisiologia pela Universidade de São Paulo (USP) Eduardo Santos coloca que o grande problema do uso de esteroides anabolizantes é que eles sempre correspondem às expectativas de quem os utiliza, que é o ganho rápido de musculatura.
“É aí que está o problema”, pontua. Da mesma forma que o asteroide, um hormônio sintético, potencializa as ações das células musculares, aumentando a eficiência e a massa muscular, eles também agem em outras células do organismo, inclusive nas cancerígenas. “Se o indivíduo tiver um tumor, por exemplo, o anabolizante pode facilitar o surgimento do câncer”, explica o professor.
O uso de anabolizante hormonal é aconselhado somente para pessoas que precisam fazer reposição e, mesmo assim, os médicos receitam em pequenas quantidades. “Eu, quando receito hormônio para reposição, dou apenas uma ampola por mês, que é o aconselhável. Esses esquemas de academia chegam a ser de uma ampola por dia”, expõe o endocrinologista Luciano Sanches. Há 33 anos na atividade, ele diz que a linha adotada pela medicina é prescrever hormônio só para quem precisa e não para quem deseja.
Os mais usuais são testosterona (hormônio masculino), hormônio do crescimento e insulina. Além destes, existem os esteroides veterinários, que são os que mais matam, como os medicamentos para cavalos, responsáveis, em 2008, pela morte do goiano Jackson Vieira de Souza, de 21 anos, natural de Padre Bernardo, a 246 quilômetros de Goiânia. Ele e um amigo, que ingeriu o mesmo medicamento, foram parar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Base, em Brasília.
O uso sem prescrição médica pode gerar efeitos colaterais, alguns irreversíveis. São eles: problemas no fígado, inclusive câncer, hipertrofia do coração, hipertensão arterial, ginecomastia (aumento das mamas masculinas), atrofia testicular, que pode levar à infertilidade, agressividade e mudanças no humor. E Luciano Sanches, que já atendeu muitas pessoas com problemas decorrentes do uso de anabolizantes, diz que eles só o procuraram depois do surgimento do efeito colateral. “A maioria, quando você suspende a droga, tem como reverter. A ginecomastia pode até diminuir, mas não tudo. Já a hipertrofia miocárdica (do coração) é para sempre”, diz.
Flagrante
A Polícia Civil prendeu três homens acusados de comercializar suplementos alimentares que possuem substâncias negadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e com alto poder de gerar dependência. Foram presos Israel Guimarães, 24, Diogo Deja, 36 anos, e Hugo Borges, 26.