Crise também na Costa do Marfim

Raphaela Ferro

Os conflitos internos na Costa do Marfim chegaram às discussões internacionais. Um pouco tardiamente, avalia o professor e doutorando em Geografia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Romualdo Pessoa Campos Filho.
Campos Filho afirma que, mesmo tendo acompanhado o processo eleitoral marfinense, a Organização das Nações Unidas (ONU) demorou a tomar decisões sobre o embate travado no país africano.
O que, segundo ele, acontece sempre em casos de países que não têm riquezas minerais para exploração. "No Iraque, onde cerca de 100 pessoas haviam sido vítimas de confronto, o Conselho de Segurança da ONU decidiu intervir imediatamente. Na Costa do Marfim, já são mais de mil mortos e a mobilização começa somente agora", analisa o professor.
Para ele, a ONU apresenta políticas dúbias e tem dois pesos e duas medidas, com maior interesse pelos aspectos econômicos do que pelos direitos humanos. Outro exemplo da falta de crédito aos direitos humanos é relacionado ao Irã, ue abriga uma das maiores reservas de petróleo do mundo. "Uma resolução para mandar uma comissão investigar a quebra dos direitos humanos no Irã foi aprovada recentemente. Como se fosse só o Irã que tivesse esse tipo de problemas no mundo", enfatiza Campos Filho.
Ele é categórico: "Se fosse para resolver uma questão de direitos humanos, já teriam feito intervenção na Costa do Marfim há muito tempo". O receio do professor é de que o país siga o mesmo caminho de Ruanda, que foi marcada pelo genocídio em 1994 por conta da disputa pelo poder entre facções étnicas. O saldo foi de quase um milhão de pessoas mortas.
Guerra civil
Campos Filho explica que o conflito na Costa do Marfim é decorrente de um processo eleitoral que não foi aceito pelo atual presidente, Laurent Gbagbo, que está no poder desde 2000. "Ele se recusa a entregar o cargo. O presidente que ganhou a eleição tem uma força militar já instituída e o atual presidente mantém, claro, toda a estrutura do Estado em suas mãos".
Assim, a previsão mais próxima do possível é a luta armada entre os dois lados.  "Os Estados Unidos e as potências europeias demoraram a tomar decisões relacionadas a alguns países onde estão acontecendo agressões claras aos direitos humanos e perderam o controle em determinadas situações".
Ao perder o controle, a Costa do Marfim se aproxima ainda mais das guerras civis. Neste cenário, o professor acredita que qualquer acordo se torna mais difícil. "Pela quantidade de pessoas mortas não dá para fazer acordo com o mandatário desse Estado, porque ele provavelmente será julgado por crime contra a humanidade, por genocídio".
Os marfinenses elegeram, em novembro de 2010, o ex-primeiro ministro Alassane Ouattara para presidente do país. Desde então, começaram os conflitos internos. Ouattara deveria ter assumido no início deste ano, mas Gbagbo o impediu.
Mesmo a crise tendo origem no ano passado, as forças internacionais decidiram atuar, e de forma modesta, somente a partir da última semana. Cerca de mil pessoas morreram e quantidade similar abandonou o país.