[UFG] Teatro sobre a cegueira (O Popular, 12/04/11)
Teatro sobre a cegueira
Monólogo com ator Eduardo Moscovis, em que personagem perde a visão ao ganhar um livro, abre hoje a programação de evento literário promovido pela UFG
Rogério Borges
Um homem recebe do pai um livro e a obra traz implícita uma maldição: ele ficará cego. Esse é o mote do monólogo O Livro, que será interpretado pelo ator Eduardo Moscovis hoje, às 20h, no Centro Cultural UFG (Praça Universitária), iniciando a programação do evento Banquete de Livros, encontro literário promovido pela Universidade Federal de Goiás (veja programação no quadro). De hoje até sexta-feira, a instituição vai abrigar debates entre importantes autores, lançamentos de livros e discussões de temas ligados ao universo literário. O show de encerramento, na sexta, será do cantor, compositor e escritor Zeca Baleiro.
Já o prato de entrada do banquete, como tem sido chamada a apresentação teatral desta noite, traz uma convergência de linguagens. No palco, o ator vai falar de livros e de vida, sendo que os primeiros são indissociáveis da segunda. O texto é de Newton Moreno e a direção de Christiane Jatahy. A peça foi apresentada duas semanas atrás no Festival de Teatro de Curitiba e é um projeto que deve ser levado a palcos alternativos do País. Moscovis, conhecido do grande público por seu trabalho na TV, há muito tem priorizado o teatro. Nessa entrevista ao POPULAR, o ator fala do desafio de estar só no palco e revela que gostaria de ter mais tempo para ler.
Entrevista /Eduardo Moscovis
Você apresentou a peça O Livro no maior festival de teatro do País, o de Curitiba, poucos dias atrás. Goiânia é uma das primeiras praças a receber o espetáculo?
Eu estreei esse espetáculo em setembro do ano passado no Rio, mas na verdade ficamos em cartaz cinco semanas, tempo de pauta do Sesc. Fiquei parado com a peça até apresentar no Festival de Curitiba. Eu entendi o Festival de Curitiba como uma reestreia, pelo tempo que fiquei sem fazer e pelo pouco tempo que tinha feito. Em Goiânia vai ser uma continuidade dessa retomada.
É seu primeiro monólogo?
Sim, meu primeiro monólogo.
Todos dizem que o monólogo é um grande desafio para o ator. Ficar sozinho no palco.
Rapaz, é um desafio. Eu já vinha trabalhando com esse texto há umtempinho, mas a direção da peça é da Christiane Jatahy, que me dirigiu no espetáculo anterior, Corte Seco, em que a gente ficou quase um ano em cartaz. A linguagem que a Christiane desenvolve faz com que eu não me sinta tão sozinho, apesar de eu estar sozinho. Ela propõe que eu me relacione muito diretamente com a plateia. Também pela cara intimista que tem o espetáculo, eu não me sinto tão sozinho. Tem sido bom, um exercício muito interessante. Acho que vai ser um ótimo espetáculo aí em Goiânia. Pelo que eu conversei com a Graça (Maria das Graças Monteiro Castro), uma das coordenadoras do evento (Banquete de Livros), serão vários dias de encontro. A gente é a primeira atração, um couvert desse banquete.
A peça promove uma convergência de linguagens, já que é teatro, mas também fala do livro, uma expressão apenas escrita e não necessariamente encenada. Como é esse encontro?
A história da peça é um cara que recebe um livro do pai e esse livro significa um código familiar que representa a cegueira. Quem recebe esse livro na família - e ele já passou por outros antepassados - entende que vai perder a visão. A partir desse momento, a personagem conta isso para a plateia. Agora, não sei como. Não sei se vou ler tudo, não sei se vou perder a visão antes, não sei o que está escrito nesse livro. É exatamente o encontro do personagem com esse livro que o público vai acompanhar. As questões dele em relação a uma releitura da vida. A partir da perda da visão, como o personagem vai viver o mundo. Tem uma proposta de releitura da vida.
A cegueira é um mote inspirador na literatura. Temos Jorge Luis Borges cego em seus labirintos, temos o Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago. Você acha que a literatura revê o mundo?
Acho que sim. Toda literatura, toda leitura propicia um trampolim para o imaginário. Cada um que lê uma história vai lê-la de uma forma. O cenário que é descrito será imaginado em cada cabeça de um jeito. A personagem que está sendo apresentada também. Eu acho que é um grande refúgio. Quando a gente lê um livro, damos asas para o que estamos imaginando a partir da leitura. Acho que o que o Newton Moreno, autor do texto, propõe é exatamente isso. O que propomos em nossa montagem também é isso. Não temos uma montagem tradicional, tanto que a gente opta por espaços que não sejam os de teatro, com palco e tal. A gente sempre tenta ir para lugares alternativos. Quem assistir ao espetáculo vai entender o que estou dizendo. O livro que a gente apresenta não é um livro de páginas e sim cenográfico. A leitura que eu faço também usa muito o sensorial, relacionado à perda da visão, da perda da luz.
Qual o espaço que a literatura ocupa na sua vida?
Ela não ocupa o espaço que eu gostaria que ocupasse, mas isso está muito ligado a todos os campos. A gente entra num ritmo de vida em que a correria é tão grande, a prioridade para o trabalho é tão grande... E você também dá prioridade para sua família, para as pessoas queridas. Quando você vê, o esporte que gosta de praticar não pratica, o livro que quer ler você não consegue, ele fica ali na cabeceira da cama. Dá pra ler 20, 30 páginas e só. O filme que queria muito ver saiu de cartaz e você só vai vê-lo no DVD, quando der certo. A gente está acometido por esses pequenos delitos, enfim. A literatura ocupa um espaço no coração. Eu leio muito, principalmente para o meu trabalho.
Você tem um livro especial, marcante em sua vida?
Tenho vários que mexeram comigo em épocas diferentes, por motivos diferentes. Meu livro agora é esse que eu estou levando para vocês lerem e verem aí em Goiânia (risos).
Programação - Banquete de Livros
AMANHÃ
8h - Abertura oficial
9h - Conversa com Agnaldo Farias (Livro e Artes Plásticas)
11h - Sessão de autógrafos do autor
9h - Encontro com escritores Roger Mello e Odilon Mores (Livraria da UFG)
15h - Conversa com Alberto Martins e Flávio Carneiro (Livro e Literatura Contemporânea)
17h - Sessão de autógrafos com Alberto Martins e Flávio Carneiro
19h - Encontro com os escritores Antonio Cícero e Fausto Bosco
21h - Sessão de autógrafos com Antonio Cícero e Fausto Bosco
QUINTA-FEIRA
9h - Conversa com Roger Mello e Odilon Moraes (Livro e Ilustração)
11h - Sessão de autógrafos com Roger Mello e Odilon Moraes
14h - Encontro com escritores Roger Mello e Odilon Moraes (Livraria da UFG)
15h - Conversa com Marçal Aquino e Fernando Bonassi
17h - Sessão de autógrafos com Marçal Aquino e Fernando Bonassi
17h - Encontro com a professora Maria das Graças Castro
19h - Conversa com Zeca Baleiro
21h - Sessão de autógrafos com o autor
SEXTA-FEIRA
9h - Conversa com Bariani Ortencio e Jadir Pessoa (Bariani - Homenagem ao Escritor Goiano)
10h - Lançamento das coleções Vertentes e Belamor (edital UFG de 2009)
11h - Sessão de autógrafos com Bariani Ortencio, Edmar Guimarães, José Marcio de Melo e Rogerio Luz
20h - Show de Zeca Baleiro (Teatro Rio Vermelho - Centro de Cultura e Convenções / Ingressos a R$ 120 (plateia inferior) e R$ 60 (plateia superior) - preços de inteira