Está servido?

Programação literária do encontro Banquete de Livros, na UFG, começa hoje com debates entre nomes de relevo nacional da área

 

A partir de hoje, a mesa está posta. E todos os que se interessam por literatura poderão se fartar na primeira edição do evento Banquete de Livros, promovido pela Universidade Federal de Goiás. A programação começou ontem com o espetáculo teatral O Livro, monólogo encenado pelo ator Eduardo Moscovis.

 

Hoje começa a parte mais propriamente literária do encontro, com a participação de nomes importantes da área, como os escritores Marçal Aquino e Fernando Bonassi. Todas as atividades serão realizadas no Centro Cultural UFG, na Praça Universitária, com exceção do show de Zeca Baleiro, na sexta-feira, no Teatro Rio Vermelho, do Centro de Cultura e Convenções. Antes, porém, Zeca também falará de literatura, já que é autor de dois livros.

 

Hoje, a programação começa com Agnaldo Farias, cocurador das bienais de artes plásticas de São Paulo nos anos de 1992, 1996 e 2010. Ele, que lançou em 2002 o livro A Arte Brasileira Hoje, vai falar, às 9h, sobre o tema Livros e Artes Plásticas. Às 15h, haverá um encontro entre os autores Alberto Martins (veja entrevista nesta página) e o goiano Flávio Carneiro, que discutir a literatura contemporânea. Mais tarde, às 19h, o assunto vai ser a relação entre literatura e música e os convidados para o debate são o poeta e colunista Francisco Bosco e o autor e letrista Antonio Cicero (veja entrevista). Uma unidade da Livraria da UFG foi montada no Espaço Cultural UFG, onde serão realizadas as sessões de autógrafos.

 

Entrevista / Antonio Cicero

 

'A leitura não se enfraqueceu com as novastecnologias'

Muitas canções de sucesso interpretadas por grandes nomes da MPB, como Adriana Calcanhotto e João Bosco, levam a assinatura do poeta e ensaísta Antonio Cicero. Compositor de prestígio e irmão da cantora Marina Lima, o autor também milita no campo literário. Entre suas obras publicadas estão os livros Finalidades Sem Fim, Guardar e As Cidades e os Livros. Ao POPULAR, o autor afirma que a poesia continuará forte diante das novas tecnologias, lista seus autores fundamentais e pondera que o ser humano é um insatisfeito por natureza.

 

Para você, como é a convergência entre poesia e som? São coisas inseparáveis?

Não são inseparáveis. Há poemas visuais e não discursivos nos quais essa convergência é mínima. Na poesia que mais li, porém, e na poesia que escrevo, o som e o sentido são inseparáveis: sem falar nas letras de canções que escuto e que escrevo.

 

Ser poeta é padecer no Paraíso?

Não conheço o Paraíso. Vivo, como todos, num mundo que tem algo de paraíso, algo de inferno e algo de purgatório. Não creio que sofra mais do que os outros.

 

Existe o verso perfeito ou o poeta é um eterno insatisfeito com sua própria obra?

Se perfeito é aquilo que é tão bom que não pode ser melhorado, então existem muitos versos e vários poemas perfeitos. Mesmo assim, o poeta é insatisfeito quase todo o tempo, porque ser insatisfeito quase todo o tempo é o destino inescapável de todo ser humano.

 

A música passou por uma revolução com as tecnologias digitais e a internet. Algo parecido vai ocorrer com a literatura com o advento dos chamados tablets, novas plataformas de leitura?

Os tablets também podem ser usados para a leitura de obras literárias. A leitura não se enfraqueceu com as novas tecnologias; muito pelo contrário. E penso que a poesia escrita jamais deixará de ser uma das formas de arte mais poderosas que existem.

 

Quem você leu no passado, continua a ler no presente e não vai deixar de ler no futuro?

Homero, Horácio, Dante, Shakespeare, Goethe, Baudelaire, Pessoa, Keats, Yeats, T.S. Eliot, Bandeira, Drummond, Cabral, Eugénio de Andrade... São muitos.

 

Entrevista/ Alberto Martins

 

'Ler e escrever estão intimamente relacionados'

Poeta, escultor e editor, Alberto Martins tem sua trajetória profissional ligada à literatura e às artes plásticas. Entre os livros que já publicou estão Goeldi: História de Horizonte, que recebeu o Prêmio Jabuti em 1995, e Em Trânsito, além dos títulos para o público infanto-juvenil A Floresta e O Estrangeiro, Café com Leite e Feijão com Arroz e A História de Biruta. Em entrevista ao POPULAR, o escritor, que também é um dos editores da Editora 34, fala de seu livro Uma Noite em Cinco Atos, em que reúne, em uma mesma história, os poetas Álvares de Azevedo, Mario de Andrade e José Paulo Paes, e sobre o que significa, para ele, ler e escrever.

 

Você escreve poesia, escreve sobre poesia e trabalha numa editora que aposta em poesia. Ser poeta no Brasil é difícil demais ou vale a pena?

Acho que muita coisa no Brasil exige trabalho, não só as artes e a poesia. No caso destas, especificamente, eu diria que não há contradição entre ser "difícil demais" e "valer a pena". Ao contrário, a graça do desafio está aí também.

 

Quais são os grandes desafios para os livros e para a literatura na contemporaneidade?

São os desafios de sempre: estar à altura de seu tempo, ser capaz de dar conta da complexidade da vida, sem facilitar e sem criar falsos problemas.

 

No livro Uma Noite em Cinco Atos, você toma três poetas diferentes, mas também próximos em vários aspectos, como personagens de uma peça teatral. Como foi realizar esse trabalho e por que Álvares de Azevedo, Mário de Andrade e José Paulo Paes?

A peça Uma Noite em Cinco Atos se estruturou assim: de início, eu achei que ia escrever um grande poema sobre São Paulo, tendo esses três poetas-personagens como fios condutores. E de fato cheguei a escrever um bom número de versos, mas a certa altura "comecei a ouvir" Álvares de Azevedo fazendo perguntas a José Paulo Paes. Resolvi acompanhar o diálogo e a peça foi tomando forma por si.

 

Escrever é...? Ler é...?

Escrever e ler estão intimamente relacionados. Não háescritor que não seja primariamente um leitor, quando não dos outros, pelo menos das coisas que escreve. E o leitor, por sua vez, cria também ao dar corpo, voz, ritmo, vida imaginativa àqueles sinaizinhos negros que encontra na página.

 

Falar sobre livros, leitura, arte poética é...?

É uma forma de se aproximar do que realmente interessa, mas o que realmente interessa mesmo - a arte, a poesia, a experiência de estar em contato com um bom poema, um bom romance - isso sim é insubstituível.