Tão à Flor da Pele

Zeca Baleiro transita entre as diversas linguagens artísticas e traz toda a sua diversidade musical aos palcos goianienses em apresentação inspirada em seu mais novo trabalho, o CD Concerto, em formato de recital

 

 

O talento de Zeca Baleiro poderá ser conferido novamente em terras goianas, mas desta vez com um tempero diferente. O cantor apresenta hoje, no Teatro Rio Vermelho, às 21 horas, na Capital, show baseado em seu mais recente trabalho, o CD Concerto, um espetáculo com formato de recital onde Zeca é acompanhado por apenas dois músicos que se revezam em vários instrumentos. Os escolhidos para esta empreitada foram Swami Jr., violonista de formação mais clássica e emepebista, e Tuco Marcondes, músico de pegada mais rock’n’roll, que integrou quase todas as bandas e turnês do artista. “Adoro tocar em Goiânia, é um público muito amoroso e bem informado”, elogia.

Para deixar tudo ainda mais interessante, o cantor escolheu para o set list canções de sua discoteca afetiva, como gosta de se referir ao repertório. Sucessos como Autonomia (Cartola), Tem francesa no morro (Assis Valente) e Respire fundo (Walter Franco) ganham nova roupagem na voz de Zeca. Versões acústicas para Eu não matei Joana D’Arc (Marcelo Nova e Gustavo Mulllem) e Best of You (Foo Fighters), além de canções autorais como A depender de mim, Canção pra ninar um neguim e Mais um dia cinza em São Paulo também estão no balaio musical do artista. “Há músicas que sempre quis gravar e fui deixando para depois. Nesse disco, resolvi compilar essas coisas, além de gravar uma pequena safra mais recente de composições minhas. A seleção contou com a colaboração do público, que votou nas 14 melhores, entre 20 canções”, conta em entrevista exclusiva ao DMRevista.

O álbum Concerto, gravado ao vivo, faz parte do pacote Vocês vão ter que me engolir – nome escolhido em alusão à frase de Zagallo, que celebrou, em 2010, os 13 anos de carreira discográfica de Zeca Baleiro. O pacote inclui dois CDs, Concerto e Trilhas; um programa de rádio; os livros Bala na Agulha (reflexões de boteco, pastéis de memória e outras frituras) e Vida é um Souvenir Made in Hong Kong – Livro de Canções; e o espetáculo infanto-juvenil Quem tem medo de Curupira?, de sua autoria.

Para este último, Zeca trouxe elementos do folclore brasileiro. Na história, Curupira, Boitatá, Caipora, Saci e Iara estão em crise porque não assustam mais ninguém. Eles então resolvem deixar a mata rumo à cidade. Lá, apavorados diante dos problemas urbanos, encontram vários personagens esquisitões. Um deles é um índio aculturado cheio de papo.

Nada surpreendente, no caso de Zeca, afinal ele explora diversas linguagens artísticas desde o início da carreira. “Tenho a sensação de que fiz o que devia fazer. Segui minha intuição, não desprezei o mercado, mas não me deixei escravizar por ele”, ressalta. Além de comemorar a trajetória musical do artista, Concerto é o primeiro disco de Zeca lançado por seu próprio selo, o Saravá Discos. Quanto à nova experiência, o artista diz estar curtindo bastante. “Está sendo boa, muito boa. Um tanto quanto desafiadora, porque me obriga a ser um pouco ‘administrador’ de tudo”, diz.

 

Trajetória Musical

“Meu interesse pela música surgiu quando eu era menino. Minha casa era um ambiente muito musical e tomei gosto desde cedo pela coisa”, conta Zeca Baleiro ao relembrar o início da trajetória no mundo da música. Os primeiros trabalhos na área foram composições para trilhas sonoras de peças infantis. O CD de estreia, Por onde andará Stephen Fry?, veio apenas em 1997, apesar de o artista já ter 12 anos de estrada na ocasião. O sucesso do cantor veio com uma ajudinha de Gal Costa, quando Zeca participou do Acústico MTV da cantora com a canção À Flor da Pele, um dos maiores sucessos de sua carreira.

Talentoso, soube aproveitar a projeção nacional que ganhou e a partir daí emplacou muitos hits. Nos anos seguintes vieram os álbuns Vô imbolá, Líricas, Petshop mundo cão, Baladas do asfalto e outros blues, e outros discos que tiveram a participação de importantes nomes da música nacional. Alguns deles se tornaram parceiros de composições, como Chico César, Lobão, Arnaldo Antunes, Zé Geraldo, Paulinho Moska, Lenine, Fagner e Zé Ramalho, entre outros.

Em uma verdadeira salada musical, Zeca faz seu som explorando a diversidade de ritmos tradicionais brasileiros e não abre mão do samba, do pagode, do baião, do rock, do pop e pitadas de música eletrônica. Realmente, a cara do Brasil. Entre as músicas mais conhecidas estão Babylon, Salão de beleza, Telegrama, Bandeira, Quase nada e Heavy metal do Senhor. Baleiro traz ainda na bagagem cinco DVDs.

Ao longo da carreira, Zeca diz ter apenas um arrependimento. “O de não ter ficado rico (risos).” E com tantas composições no currículo, fica mesmo difícil escolher uma que reflita tudo o que representa a carreira musical do artista. “São muitas canções, cada qual com uma importância específica. Agora ando meio enamorado de Carmo, música que abre o CD Trilhas”, revela. Contudo, nem só de trabalho vive um homem. Zeca diz que, não fosse a carreira na música, “teria sido cozinheiro ou quem sabe comentarista esportivo”. Nas horas vagas, entre shows, composições e dedicação aos escritos, o cantor aposta no futebol para driblar o estresse e se divertir.

 

Artista premiado

Zeca Baleiro tem no currículo cinco discos de ouro, três prêmios Sharp, três indicações ao Grammy Latino e ainda recebeu duplamente o prêmio de melhor cantor pela APCA, em 1998 e 2003, só para começar. Com tanto talento e jeito para a música, não é de se admirar que o cantor não seja conhecido apenas no Brasil. Artista multifacetado, já mostrou seu trabalho na Europa, França, Suíça, Espanha, Alemanha, Bélgica, Cabo Verde, Angola e muitos outros lugares pelo mundo.

Mas não pense que Zeca Baleiro veio a Goiânia apenas para mostrar seu talento musical. A inclinação para a literatura também está em evidência em sua passagem pela Capital. O artista participou do Banquete de Livros, evento realizado na última quinta-feira no Centro Cultural UFG. O bate-papo incluiu autógrafos em seu livro Vida é um Souvenir Made in Hong Kong – Livro de Canções. A obra é uma seleção de letras de Baleiro, numa edição com ilustrações do artista Roger Mello, lançada pela Editora da Universidade Federal de Goiás. Para o futuro, Zeca Baleiro já está mexendo seus pauzinhos para retomar o Baile do Baleiro, um projeto criado por ele para promover encontros memoráveis entre ídolos de outras gerações e novos talentos, e gravar um CD para crianças. “Assim que sobrar um tempo”, diz.

 

CONCERTO com Zeca Baleiro

Quando: Hoje, às 21h

Onde: Teatro Rio Vermelho (Centro de Convenções)

Quanto: Plateia Inferior - Inteira R$ 120/ Meia R$ 60 / Plateia Superior - Inteira R$ 60/ Meia R$ 30

Pontos de Venda: Livrarias da UFG (campus 1 e 2); Livraria Leitura (Goiânia Shopping)