Profissão em foco
Raphaela Ferro
No momento de definir a carreira profissional, aproximação entre escolas e universidades proporciona maior segurança aos alunos do Ensino Médio
Imagine conhecer o futuro? Algo próximo da possibilidade que alunos do Ensino Médio têm quando as instituições de Ensino Superior se aproximam das escolas de Educação Básica. A prática se torna cada vez mais comum.
Nesta semana, a Universidade Federal de Goiás (UFG) realiza o Espaço das Profissões com o objetivo de estabelecer essa interlocução entre universidades e colégios.
A Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) tem iniciativa semelhante. Mas é a instituição que vai às escolas. Desde o início do ano, representantes da Coordenação de Admissão Discente chegam aos alunos do Ensino Médio com a Comissão do Vestibular.
As visitas divulgam o processo seletivo da universidade e esclarecem dúvidas sobre cursos oferecidos e formas de financiamento. E não só elas.
Os alunos dos colégios particulares Nova Época e Exemplo, de Goiânia, já visitaram as Faculdades Alves Faria (Alfa). Os do Instituto Auxiliadora, de Silvânia, conheceram a Universidade de Brasília (UnB) no ano passado.
O objetivo: conquistar os futuros universitários e, mais do que isso, esclarecer as muitas questões sobre o Ensino Superior que pairam na cabeça dos adolescentes.
A terceira edição do Espaço das Profissões da UFG será realizada nos dias 28 (das 14 às 22 horas) e 29 de abril (entre 8h30 e 18h). Na programação: uma sala interativa de cada profissão, com a presença de estudantes, professores e profissionais da área; minipalestras dos coordenadores dos cursos; e o Campus Tour, um passeio com os estudantes pelo Campus Samambaia.
Boa procura
Já havia mais de 20 mil inscritos até o fechamento desta edição. Presidente do Centro de Seleção da UFG, Luciana Freire alerta que o número de participantes deve ser ainda maior, já que a inscrição não é obrigatória. "Vêm ônibus de várias cidades trazendo estudantes. A abrangência é muito significativa".
Na expectativa pelo evento está a estudante Andressa Bueno de Siqueira, 16 anos. Aluna do Instituto Auxiliadora de Silvânia, ela quer ouvir um profissional de Engenharia Civil falar sobre a profissão.
A menina pretende fazer o curso. "Eu fico em dúvida porque é muito concorrido, mas fizemos uma visita à PUC e eu gostei muito do que eles mostraram sobre a área. Mas ainda quero esclarecer algumas dúvidas", afirma.
Na PUC-GO, a opção foi não só receber as escolas, mas também visitá-las. Segundo o coordenador de Admissão Discente da instituição, Alexandre Ribeiro, o intuito é socializar o acesso ao Ensino Superior e levar a universidade para dentro das escolas. Com ela vão as explicações sobre os cursos e as formas de ingresso, além de livros, professores, psicólogos e escritores.
Outro objetivo é mostrar que estudar na PUC é possível tanto para alunos de escolas públicas quanto particulares. Ribeiro explica que as visitas ajudam a mostrar que os estudantes têm capacidade de fazer um curso na instituição e pagar por ele, seja com financiamento ou diversos tipos de bolsa.
Mesmo assim, não poder custear a faculdade é um dos medos dos vestibulandos. Andressa conta que se interessou pela instituição, mas que o fato de ser particular pesaria na sua escolha. "Vou tentar o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] para ver se consigo uma bolsa de estudos".
Visitas educativas
Aluna do Colégio Estadual Miriam Benchimol Ferreira, Maíra dos Santos Félix, 16, também ficou animada com a visita da equipe da PUC-GO à escola.
Mas ela explica que não tem condições de arcar com os custos. "Queria fazer faculdade lá, mas estou me esforçando muito para passar no vestibular de uma instituição pública", avalia.
Aluna da mesma escola, Ludmilla Jesus de Lima Costa, 17, pensa em fazer Psicologia na instituição e acredita que a visita da comissão do vestibular chegou na hora certa. "As universidades deveriam vir mais às escolas, principalmente às públicas. Muitas pessoas só fazem o terceiro ano e acham que está bom. Elas deveriam ser incentivadas a fazer faculdade".
A estudante conta que cerca de um quarto de alunos da sua sala não tinha o curso superior como objetivo. Situação que foi alterada com a visita da equipe da universidade à escola. "Depois da palestra eles mudaram de ideia, ficaram curiosos", ela opina.
A diretora do colégio, Jane Alves de Souza, confirma: os estudantes se animaram com a visita e ficaram mais abertos às novidades. "Até aqueles que não tinham interesse pelo Ensino Superior, por acreditarem que estaria longe da realidade em que vivem, se empolgaram", considera Jane.
Diretora do Colégio Estadual José Rodrigues Naves, de Goianira, Maria do Rosário Cardozo de Brito Silva concorda e acrescenta que o projeto da universidade serviu para despertar nos alunos a consciência e o interesse por um curso superior.
Coordenadora no Colégio Exemplo, Karen Estefânia Lourenço Ferreira opina que esse vínculo inicial com a insituição origina nos estudantes a vontade de dar continuidade aos estudos.
Luciana comprova a opinião das professoras. O número de inscritos no processo seletivo da UFG têm crescido. Segundo ela, um dos motivos é o programa Espaço das Profissões.
Fantasias futurísticas
O psicólogo gaúcho Fernando Elias José, que há dez anos atua na preparação de candidatos para concursos e vestibulares, afirma que quanto mais informações os estudantes tiverem sobre a profissão e a instituição de ensino, melhor.
"As dúvidas serão esclarecidas a partir da informação. A universidade pode esclarecer pontualmente, reduzindo as fantasias que os alunos têm sobre as profissões".
José explica que os vestibulando acreditam que têm que gostar de absolutamente tudo que o profissional da área escolhida faz. "Às vezes ele escolhe um curso e não se satisfaz. Troca de área acreditando que, em outra profissão, vai gostar de tudo. O que não acontece".
Para o psicólogo, é aí que a aproximação entre a universidade e as escolas pode auxiliar. As explicações sobre cada um dos cursos podem diminuir a evasão nas universidades.
De acordo com ele, "isso se dá porque fornecer a informação evita um pouco que o jovem tenha a frustração com o desconhecido", avalia o psicólogo. Mas ele alerta: a redução da desistência depende também de outros fatores.
Universidade + Escola
Os representantes da UFG e da PUC afirmam que ações com a proposta de aproximar a universidade do Ensino Médio já são comuns há muito tempo, mas eram mais esparsas, realizadas por setores diferentes das instituições separadamente.
Recentemente isso mudou. Foi aí que surgiu na UFG o Espaço das Profissões e na PUC a Comissão do Vestibular.
Para Jane Alves de Sousa, diretora do Colégio Estadual Miriam Benchimol Ferreira, o projeto de aproximação da universidade com as escolas foi estimulada pela concorrência. "As instituições querem alunos e por isso passaram a investir mais nos projetos voltados para o Ensino Médio. Para nós, isso é muito positivo", completa.