[UFG] O papel econômico e social dos catadores (Diário da Manhã, 04/05/11)
O papel econômico e social dos catadores
A geração de resíduos sólidos no Brasil é um dos grandes problemas enfrentados pelo poder público, principalmente no nível municipal. Mais de 241 mil toneladas de resíduos são produzidos diariamente no país. Apenas 63% dos domicílios contam com coleta regular de lixo. A população não atendida algumas vezes queima seu lixo ou dispõe-no junto a habitações, logradouros públicos, terrenos baldios, encostas e cursos de água, contaminando o ambiente e comprometendo a saúde humana.Do total de resíduos coletados, 76% são dispostos a céu aberto, o restante é destinado a aterros (controlados, 13%; ou sanitários, 10%), usinas de compostagem (0,9%), incineradores (0,1%) e uma parcela ínfima é recuperada em centrais de triagem/beneficiamento para reciclagem, segundo Manual de Gerenciamento Integrado pelo IPT/Cempre.
Goiânia deu exemplo ao desenvolver O Programa Goiânia Coleta Seletiva (PGCS) que teve inicio em novembro de 2008, ele teve como objetivo evitar que materiais recicláveis fossem para o aterro sanitário, podendo assim aumentar a vida útil deste, e ao mesmo tempo, beneficiar famílias em cooperativas de catadores.Em 2009, houve o lançamento da Coleta Seletiva porta a porta. Essa implantação proporcionou à Goiânia a coleta de lixo domiciliar Seletivo pelo menos uma vez por semana, semelhante à coleta comum de lixo orgânico que já é realizada pela Comurg, Atualmente 545 bairros da capital são contemplados. Antes deste programa, 40 % dos resíduos que iam para o aterro eram recicláveis, de acordo com informações da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg, 2004). Entre esse total, 7% correspondiam a papelão, 4 % a papel, 3% a garrafas pet, 8% a plástico filme, 3% a plástico rígido, 2% a vidro e 3% a metais ferrosos. Considerando-se a produção diária de resíduos (em torno de 1,3 mil toneladas) e o desperdício de 40% (cerca de 560 toneladas), multiplicando pelo tempo de vida do aterro, inaugurado em 1993, chegou-se a aproximadamente 2 milhões de toneladas de materiais recicláveis desperdiçados.
O programa atingiu a área social, gerando emprego e renda para a população formada por ex-catadores de lixo, ex-desempregados de comunidades carentes, e moradores de loteamentos populares oriundos de reassentamentos de favelas e ocupações irregulares. Hoje, eles cuidam da triagem manual, enfardamento, armazenamento e comercialização dos recicláveis, atividades que ocorrem em galpões equipados com prensas, balanças e, em alguns casos, picotadores e lavadores de plásticos. Estes trabalhadores estão organizados em associações de recicladores (formalmente constituídas e autônomas), sendo que cada uma, para custear despesas, retém cerca de 12% do valor arrecadado, e a renda mensal média de cada trabalhador é de dois a três salários mínimos.
Em Goiânia, todos os materiais recicláveis recolhidos pela Prefeitura são doados as cooperativas e associações de catadores, conveniadas ao Programa. A Universidade Federal de Goiás – UFG – e a Pontifícia Católica de Goiás – PUC –, parceiras do programa, oferecem serviços de consultoria para que os catadores possam se organizar em cooperativas, valorizando o trabalho e atuação deles no mercado. Atualmente, com o apoio deste trabalho, existem nove instituições beneficiadas.
O sucesso de um programa de Coleta seletiva é divido nas seguintes etapas, o recolhimento ou coleta dos materiais recicláveis (papel/papelão, plástico, metal e vidro) que não devem ser misturados no lixo comum de sua residência ou local de trabalho; o transporte dos recicláveis que devem ser encaminhados de maneira correta para o reaproveitamento e/ou reciclagem por meio de veículo específico, em dia e horário pré-definidos; a triagem ou seleção através das cooperativas, com a devida prensagem, enfardamento e armazenamento; e a última e primordial que é a comercialização dos recicláveis, sem uma política de mercado correta, toda cadeia produtiva fica comprometida, dai a importância de estender esta ação a uma ampla parceria público privada.
Destacamos assim a importância dos catadores neste processo. Sem cooperativismo e sem um programa eficaz de coleta pública, o catador trabalha de forma independente e com as mínimas noções do que está fazendo. Os intermediários (atravessadores) utilizam-se do trabalho dos catadores empregando-os de forma inadequada e desestimulando o cooperativismo. A indústria não tem preocupações ambientais, não avalia o ciclo de vida de seus produtos e não se preocupa em desenvolver vínculos sociais com os membros da sociedade. O consumidor, por sua vez, não conhece o destino final dos resíduos que gera, ou seja, não participa desse círculo. Resultado: o resíduo reciclável não é separado na fonte, a coleta seletiva não acontece, o índice de reciclagem é baixo, a exclusão social persevera, os recursos naturais não são poupados e o desenvolvimento ocorre de forma insustentável.
Já com um programa planejado o consumidor é consciente da hora que compra o produto até o destino final. O catador entra em associações ou cooperativas e estabelece roteiro para as coletas. Os atravessadores e outros intermediários fazem parceria entre as cooperativas e a comunidade, principalmente através da disponibilidade de áreas, mão de obra e outros recursos materiais. A indústria interage de forma correta com o meio ambiente, o catador e a sociedade, fabricando produtos ambientalmente mais viáveis, atendendo ao fluxo reverso, avaliando cada etapa do ciclo de vida do produto, desde a origem da matéria-prima à destinação final, incluindo o retorno de suas embalagens ou outros resíduos gerados por esses. Assim, as cooperativas mostram a importância ambiental do trabalho dos catadores de materiais recicláveis e como elas podem fortalecer a economia da cidade, gerando trabalho e promovendo a inclusão social da população de baixa renda.
(Garibaldi Rizzo, arquiteto)