Escolha errada causa desistencia
Escolha errada causa desistência
Aos 16 ou 17 anos, jovens têm de definir o que serão no resto da vida profissional. “Estou em dúvida entre o curso de Química e Engenharia Química”, conta o estudante do terceiro ano do ensino médio Jonatas Paiva de Sousa, de 17 anos. No Brasil são 5,9 milhões de universitários, quase um milhão são formados por ano. Porém, um em cada dez alunos matriculados no ensino superior em Goiás desistiu do curso em 2009, de acordo com o último Censo do Ministério da Educação (MEC). Um dos motivos para a evasão, de acordo com especialistas ouvidos pelo O HOJE, é justamente a escolha precoce do curso.
Quinta-feira (28), Jonatas visitou o Espaço das Profissões – evento realizado há três anos pela Universidade Federal de Goiás (UFG), que atendeu 26 mil estudantes do nível médio nos dias 28 e 29 – para tirar todas as dúvidas e fazer a escolha que definirá seu futuro profissional. “Acho que isso envolve minha curiosidade em conhecer, fazer experiências e saber coisas novas.”
Para explicar a diferença entre Engenharia Química e a Química, Jonatas ouviu palestras e conversou com professores e alunos da graduação. Bacharel, no segundo período de curso, Fabrício Sanches, de 18 anos, também ficou dividido entre as duas carreiras e escolheu cursar Química. “Existe muita dúvida, a diferença básica é na atuação – Engenharia é voltada para os processos industriais e a Química para práticas no laboratório –, foi assim que eu escolhi”, aconselhou.
“Foi no fim do ano passado que comecei a gostar de matemática, química e física”, conta Jonatas sobre as matérias escolares que prefere e influenciam na escolha profissional. Para a psicóloga que trabalha no Programa de Orientação ao Aluno na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC), Maria Aparecida de Oliveira, a facilidade em certas matérias não pode ser um pré-requisito, não é suficiente para definir a escolha da profissão.
“Ele deve escolher aquilo em que vai se sentir feliz fazendo. Não deve deixar para o último ano, o ideal é começar a pensar na profissão no primeiro ano do ensino médio, o mais tardar no segundo.” De acordo com a psicóloga, isso permite um amadurecimento da escolha, além de possibilitar a detecção de problemas como ansiedade, dificuldade de sociabilizar, déficit de atenção e timidez, que também influenciam no rendimento do aluno e podem levá-lo a deixar o curso. “Tem de cuidar primeiro disso, para depois amadurecer a escolha da profissão.”
Orientação
A idade média de ingresso no ensino superior é de 19 anos e a conclusão é de 23 anos, de acordo com o Censo de 2009 do MEC. Pela pouca idade, para a importância da decisão, Aparecida de Oliveira aconselha pesquisar o currículo do curso, saber as disciplinas que são estudadas, se aproximar de profissionais, conhecer a realidade da profissão e buscar uma orientação vocacional. “É um processo de amadurecimento, na intenção de descobrir o que ele (estudante) vai se sentir feliz fazendo”, pontua a psicóloga. As áreas de atuação da profissão também podem contribuir na hora da escolha.
A estudante do segundo ano do ensino médio Aline Crizostimo dos Santos, de 16 anos, também está indecisa entre dois cursos – Veterinária e Zootecnia. Ela tira as dúvidas conhecendo o dia a dia desses profissionais e as características de cada curso. “Fiz teste vocacional pela internet, mas desde criança sonho mexer com essa parte de recursos naturais.” Já Mayla Cristina Silva Costa, de 18 anos, que não se decidiu ainda entre Engenharia de Alimentos ou Biologia, procurou a orientação vocacional para auxiliar. “Também já faço um curso técnico na área de biológicas, o que ajuda.”
“A menor procura é pela licenciatura. A profissão é bonita, mas o salário não é atrativo”, defende o professor do Instituto de Química da UFG, Márlon Soares. Segundo estudo feito por ele, existem em Goiás 1.024 vagas para professores da área, mas 150 são licenciados para atuar. “Quem segue a profissão é porque adora mesmo, e acaba ganhando bem, porque não tem professor no mercado”, aponta. Ele percebe nos jovens que estão em dúvida o interesse principal no retorno financeiro que a profissão poderá garantir. (Katherine Alexandria, estagiária da UFG)