Estudantes unidos

Estudantes unidos
O documentário Colegas, Companheiros e Camaradas resgata 50 anos do movimento estudantil em Goiás
Rute Guedes


O jornalista, ator e produtor cultural Ranulfo Borges lança hoje, no Cine Goiânia Ouro, o vídeo Colegas, Companheiros e Camaradas, documentário de média-metragem que apresenta um panorama histórico do movimento estudantil em Goiás, contemplando as gerações do final dos anos 50, anos 60, 70 e 80 até aos dias atuais. A sessão, às 20 horas, será seguida de debate. A entrada é franca.
Personagens e fatos marcantes são resgatados por meio de depoimentos, material de arquivo e cenas da atualidade, colhidas entre acervos pessoais, jornais, filmes e conteúdo televisivo. O filme traz entrevistas com líderes e militantes de várias gerações. Entre eles, os ex-deputados Tarzan de Castro e Aldo Arantes, o professor de jornalismo da UFG Juarez Ferraz de Maia, o ex-deputado federal e ex-prefeito de Goiânia Pedro Wilson Guimarães, a ex-deputada estadual Denise Carvalho, o professor da PUC Goiás Gil de Paula, o professor de cinema da UFG Lisandro Nogueira e o jornalista Renato Dias.


Realizado com recursos da lei municipal de incentivo à cultura, o filme é narrado com depoimentos de outras personalidade que atuaram no movimento estudantil em Goiás e no Brasil, como Luiz Carlos Orro, Igor Campos, Henrique Lemos, Pedro Ivo Guerra, entre outros. Em foco, claro, o auge do movimento político estudantil, entre os anos 60 e 70, que em Goiânia tinha como polo difusor o Lyceu e o antigo Castelinho do Lago das Rosas. Contemporâneos dos tempos atuais do movimento estudantil, supostamente com menos poder de mobilização que nas décadas passadas, também integram o documentário nomes da União Goiana de Estudantes Secundaristas (Uges) e do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR).

Com narrativa linear, os entrevistados de Colegas, Companheiros e Camaradas, ao falar sobre suas experiências, acabam por trazer à tona aspectos políticos e sociais da nossa história, como a resistência à ditadura militar, o desaparecimento de vários estudantes - a maioria em decorrência da repressão aos movimentos de esquerda. Partidários das guerrilhas ou da luta armada ou mesmo aqueles que participavam de protestos ou atividades culturais ligadas a grêmios estudantis estavam no alvo da perseguição do aparato militar. Em particular, o filme destaca o desaparecimento de nomes que se tornaram símbolos da luta nos anos de chumbo, caso de Marco Antônio Dias Batista e de Honestino Guimarães.


Nos anos 80, a esperança de mais liberdade norteia os movimentos dos estudantes no País, então em plena caminhada para um processo de redemocratização, que teve como momento icônico a campanha das Diretas Já, na qual Goiânia teve um importante papel. Greves por transporte público ou por melhores escolas e fundos para a educação em geral entram na pauta de nomes como Denise Carvalho, uma das principais líderes dos anos 80 e que até hoje atua na política. Em seguida, já sem a figura do militar repressor, entram em cena as esperanças e frustrações com as primeiras eleições presidenciais em 30 anos. O primeiro presidente eleito pelas urnas, no entanto, sofre com denúncias graves de corrupção e o movimento estudantil, aparentemente adormecido, mostra novo fôlego com as manifestações dos cara-pintadas em Goiânia e em todo o País: com músicas e tintas, era reclamado o impeachment do presidente Fernando Collor.

A cultura é outro ponto forte do documentário. Cinema, teatro e literatura tornam-se espaço de discussão para a liberdade nos anos 80. Cineclubes, como o Antônio das Mortes, acabam se tornando polos de militância política, embora menos partidária, por intermédio da realização de mostra de filmes e debates em Goiânia, no interior e em outros Estados.
Para a geração atual, o movimento estudantil parece diluído, mas o diretor Ranulfo Borges afirma que há manifestações importantes, como o engajamento em questões amplas como a Lei da Anistia e o julgamento de torturadores durante a ditadura. A polêmica, que até hoje patina em vários obstáculos, ainda continua na pauta de reivindicações de correntes do movimento estudantil. Entre as novas frentes de atuação dos líderes, está a ação violenta da polícia diante de jovens criminosos, que não raro são vítimas das práticas de grupos de extermínio. ▩