[UFG Fonte] Marca histórica no trânsito (Diário da Manhã, 21/05/11)

[UFG – Fonte] Marca histórica no trânsito (Diário da Manhã, 21/05/11)

 

Marca histórica no trânsito

Em junho, Goiânia vai atingir recorde de um milhão de veículos em circulação. Por mês, oito mil são emplacados

 

 

Wanda Oliveira
Da editoria de cidades

Goiânia está prestes a conquistar uma marca histórica. A frota deve atingir um milhão de veículos em junho. Até o mês passado, a cidade contava com 987.713 carros. Desses, mais de 144 mil com mais de 20 anos de uso. O reflexo desse crescimento são congestionamentos e trânsito lento a qualquer hora do dia. O boom do mercado automobilístico não para. Em média, 8 mil novos veículos são emplacados por mês na Capital, de acordo com o Departamento Nacional de Trânsito de Goiás (Detran-GO).
Os fatores que impulsionam o avanço da frota são a melhora da economia, o aumento da renda financeira do goiano e as ofertas das concessionárias, com juros baixos e prazos longos para pagamento. Essas facilidades podem ser consideradas motivo de orgulho para parte significativa da população. No entanto, especialistas afirmam ao Diário da Manhã que esse crescimento é ruim e sugerem mudanças de hábitos para melhorar o trânsito.
Para o professor da Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal de Goiás (UFG), Cristiano Farias Almeida, o aumento do número de veículos é reflexo, principalmente, da má qualidade do serviço de transporte público aliada à facilidade de aquisição de carros particulares e à falta de políticas públicas para melhoria do transporte, que deveriam ser elaboradas pelos governantes.
“O aumento é ruim porque tende à saturação da capacidade de várias vias da cidade, como consequência eleva o tempo de deslocamentos, o número de acidentes e deteriora a qualidade de vida da população”, diz. Almeida considera um exagero a quantidade de carros para uma cidade como Goiânia, que conta com quase 1,4 milhão de habitantes.
De acordo com ele, a taxa de motorização da região metropolitana de Goiânia é de 558,23 veículos para cada grupo de mil habitantes, ou seja, 25% maior do que da região metropolitana de Barcelona, na Espanha, que conta com uma população duas vezes maior do que da Capital. Para Almeida, a curto prazo não tem saída para resolver essa situação, e a médio e longo prazos passa pelo desenvolvimento de políticas voltadas à valorização do transporte público.
Segundo o professor de Engenharia de Trânsito da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Benjamim Jorge Rodrigues dos Santos, o aumento da frota é reflexo, em primeiro lugar, da cultura do brasileiro, que considera o automóvel uma ca-racterística de status elevado, em segundo, por causa da falta de uma sistema de transporte coletivo de qualidade e, em terceiro, porque não existe um plano diretor integrado de trânsito e transportes em Goiânia.
Santos afirma que outra alternativa para diminuir o número de veículos nas ruas seria o incentivo ao transporte solidário, carona para quem mora, traba-lha e estuda em um mesmo local. Também faz parte dessa saída, desconto no abastecimento de combustível para carros com mais de duas pessoas, prio-ridade para faixas de tráfego mais livres e com maior número de passageiros. “A raiz do problema está na qualidade do serviço.”
Conforme o especialista, existem parâmetros de qualidade estabelecidos mundialmente que precisam ser monitorados, por exemplo, pela Agência Goiana de Regulação (AGR), e não por órgão representante das empresas concessionárias como prevê o último edital de Goiânia.
Cita como parâmetros de qualidade, reduzir o tempo de espera nos pontos de ônibus, tempo de viagem entre um local a outro e a lotação, bem como rever idade da frota, oferecer acessibilidade, integração física e tarifária. Santos diz que o aumento da frota consequentemente também faz com que mais pessoas fiquem expostas aos acidentes de trânsito.
Para o diretor-técnico de Detran, Horácio de Mello, o aumento da frota pode ser ana-lisado sob dois aspectos.  Pelo lado econômico, a situação é positiva, porque demonstra a riqueza da cidade, já que a Capital tem a maior frota proporcional do Brasil, uma média de 1,4 carros para cada pessoa. Pelo lado negativo, evidencia e repete um mo-delo de trânsito que não deu certo em nenhum lugar do mundo.
Mello diz que a construção só de viadutos não resolve. “Não tem mágica para construir vias sobre vias para tantos carros, porque a frota vai aumentar”, diz. Segundo ele, a situação é grave e a saída é adotar medidas alternativas para a população, como deixar o carro em casa, usar a bicicleta, construir ciclovias e, principalmente, investir em transporte coletivo de massa. “Nesse caso, o metrô é a melhor opção.”
O esquema de revezamento de veículos em ruas e avenidas não é a saída para melhorar o trânsito em Goiânia. Segundo Cristiano Farias de Almeida, o rodízio incentivará a aquisição de mais veículos, e uma família que possui hoje um carro, passará a ter dois ou três. Para Benjamim Jorge Rodrigues, rodízio é uma medida autoritária e antidemocrática. “O planejamento adequado resolve a maioria dos problemas do trânsito.”

Famílias têm cada vez mais carros na garagem de casa

A família da advogada Izabella Maia, 37, tem quatro carros em casa; um deles fica com o motorista, que além de presa filha fez por merecer o veículo, pois além de ser uma ótima universitária, também ajuda na rotina do irmão caçula. “É uma questão de necessidade e luxo, pois seria hipocrisia falar que é só necessidade. Se podemos patrocinar conforto para nossos filhos, não vejo mal nenhum em fazê-lo”, afirma.
A advogada explica que cada um tem o seu próprio carro, porque fica mais fácil organizar a rotina da casa, além de que cada um tem responsabilidade e roteiro diferentes. Izabella trabalha no Jardim Goiás e mora em um condomínio residencial no Granville. Segundo ela, a distância entre um local e outro é de aproximadamente 14 km, e o trajeto é feito em torno de uma hora.
Para a advogada, o excesso de motoqueiros, a falta de educação dos motoristas, que jogam lixo pela janela, e as péssimas condições do asfalto são os motivos mais irritantes no trânsito. “Procuro controlar a ansiedade e o nervosismo com algumas distrações. A pouco tempo descobri uma opção legal para leitura, o áudio livro.”
Izabella diz que sua preocupação no trânsito é quanto à segurança, principalmente nos semáforos, quando têm pessoas estranhas e pedintes. Para o esposo da advogada, Luciano Côrtes, 37, o receio é quanto a acidentes, principalmente no Anel Viário, que é um trajeto que ele faz quase todos os dias para chegar no trabalho. “Durante o percurso presencio vários acidentes, a maioria causado pelo excesso de velocidade”, conta.

Irritada

Na casa da servidora pública e professora universitária Divina Helena de Camargo, 51, tem três carros. Um veículo para cada morador: o marido, o filho e o dela. Nada de luxo. “É uma questão de necessidade porque trabalhamos em bairros totalmente diferentes”, afirma a servidora. A família mora em um apartamento no Jardim América, e para guardar um dos carros importados precisa alugar a garagem de um vizinho.
Segundo Divina, em dias úteis é comum que os três saiam de casa, por volta das 8 horas, mas o retorno acontece em horários diversos para a família. Ela conta que, às vezes, em horário de pico demora quase 35 minutos do trabalho até residência dela. “Tem dia que fico irritada com o trânsito, principalmente por causa do excesso de motociclistas que não respeitam as leis.”
A principal preocupação da professora quanto ao trânsito é em relação ao traçado urbano de Goiânia, que não comporta a frota existente. Isso acontece, de acordo com ela, porque não existem mais horários alternativos e em qualquer hora do dia as ruas estão cheias de veículos. “Não considero o movimento de veículos de Goiânia um caos, mas brevemente nossa cidade não terá saída se novos projetos não forem criados.”
Para o esposo de Divina, o funcionário público Edson Leite, 49, o estresse que o trânsito causa na população e a violência urbana que cresceu nos últimos anos na Capital são fatores preocupantes.tar serviços de rotina ainda leva um dos filhos dela para a escola. Ao todo, moram na residência cinco pessoas. Uma das filhas da advogada, que completou 18 anos recentemente, ganhou de presente um carro.
Izabella diz que a filha fez por merecer o veículo, pois além de ser uma ótima universitária, também ajuda na rotina do irmão caçula. “É uma questão de necessidade e luxo, pois seria hipocrisia falar que é só necessidade. Se podemos patrocinar conforto para nossos filhos, não vejo mal nenhum em fazê-lo”, afirma.
A advogada explica que cada um tem o seu próprio carro, porque fica mais fácil organizar a rotina da casa, além de que cada um tem responsabilidade e roteiro diferentes. Izabella trabalha no Jardim Goiás e mora em um condomínio residencial no Granville. Segundo ela, a distância entre um local e outro é de aproximadamente 14 km, e o trajeto é feito em torno de uma hora.
Para a advogada, o excesso de motoqueiros, a falta de educação dos motoristas, que jogam lixo pela janela, e as péssimas condições do asfalto são os motivos mais irritantes no trânsito. “Procuro controlar a ansiedade e o nervosismo com algumas distrações. A pouco tempo descobri uma opção legal para leitura, o áudio livro.”
Izabella diz que sua preocupação no trânsito é quanto à segurança, principalmente nos semáforos, quando têm pessoas estranhas e pedintes. Para o esposo da advogada, Luciano Côrtes, 37, o receio é quanto a acidentes, principalmente no Anel Viário, que é um trajeto que ele faz quase todos os dias para chegar no trabalho. “Durante o percurso presencio vários acidentes, a maioria causado pelo excesso de velocidade”, conta.