[UFG Fonte] Os males do Inverno (Tribuna do Planalto, 21/05/11)

Os males do inverno

Baixa umidade, poluentes e aglomerações são os fatores que fazem aumentar incidência de doenças respiratórias neste período


 

Sara Cassiano

Quando a temperatura começa a baixar, é bastante comum ver pessoas com febre, espirrando, tossindo, com coriza, olhos e nariz vermelhos. E nem bem o inverno tem início, os hospitais já ficam superlotados de pacientes com complicações típicas desta estação.
Crises alérgicas, gripes e resfriados surgem com mais frequência. Segundo especialistas, o país inteiro sofre com a situação, ganhando uma média de aumento de 60% nos atendimentos clínicos em postos de saúde e pronto socorros. As mais atingidas são as crianças, que apresentam problemas respiratórios e resfriados.
Em Goiânia, nestes últimos dois meses antecedentes ao inverno, o pronto socorro do Hospital Materno Infantil engordou sua recepção. A casa registrou um aumento da demanda por atendimentos de crianças com quadros graves de pneumonia, bronquiolite e asma. Em fevereiro, as doenças respiratórias eram responsáveis por cerca de 20 internações por semana.
Já no mês de abril, a ocorrência chegou a 90 pacientes por semana. A elevação no número de atendimentos alcançou a média nacional, também chegando a 60% superior aos dias normais, sobrecarregando o atendimento no pronto socorro do hospital. Entre as infecções respiratórias mais comuns está o resfriado, que se diferencia da gripe pela característica de ser uma doença passageira.
No caso dos pacientes alérgicos, a rinite alérgica, bronquite, a asma e a sinusite são as de maior incidência. Estas se desencadeiam principalmente com a poeira, ácaros, fungos e produtos químicos fortes, causando espirros, coceiras nos olhos e nariz, entre outros sintomas.
Além disso, o ar frio e a umidade ambiental aumentada no inverno favorecem um maior desenvolvimento desses micro-organismos. Mas, ao contrário do que muita gente imagina, a chegada dessas doenças não está relacionada a um sistema imunológico mais vulnerável no período.

Ambientes
De acordo com pneumologista Marcelo Rabahi, que é professor de Medicina da Universidade Federal de Goiás, o que acontece é que junto com as temperaturas mais baixas vem também a redução da umidade do ar, com maior concentração de poluentes. As chuvas e os ventos não ocorrem com muita frequência, deixando os ambientes perfeitos para disseminação de vírus e bactérias.
E são justamente esses vírus e bactérias transmitidos por via respiratória, por meio de gotículas de saliva ao falar, tossir, espirrar e rir, que atuam como agentes causadores das doenças mais comuns do inverno. "São eles que trazem tanto mal-estar e consequências desagradáveis", diz Rabahi.
O hábito de conviver por mais tempo em ambientes fechados nestes dias também é reprovado pelo professor da UFG. "Quanto mais gente respirando no mesmo local, sem renovação do ar, mais vírus estão circulando e infectando. E as complicações podem aumentar se os sintomas não forem tratados adequadamente."
Mas não é só isso. Segundo Rabahi, a variação de temperatura também desempenha um papel fundamental nos males que vêm com a passagem entre outono e inverno. A julgar por nossas estações, que não são bem definidas, passamos por mudanças de tempo em intervalos bem curtos.
No inverno, por exemplo, temos em geral três a quatro dias de frio, intercalados com dias quentes, em que somos obrigados a mudar rapidamente de comportamento. De acordo com a clínica médica Fernanda Gerst, a associação da reação do nosso organismo com o nosso comportamento para enfrentar as mudanças de tempo é a combinação que nos torna mais propensos a adquirir doenças de inverno.
Segundo Fernanda, algumas pessoas têm reação vasomotoras. Isso significa que, mesmo não estando doentes, gripadas ou resfriadas, elas espirram mais pela alergia da temperatura, o que propicia a instalação de alguns vírus. Tudo isso faz que essas doenças, que atingem em especial as vias respiratórias superiores, venham com mais agressividade nos meses mais frios.

Prevenção
O fim do outono é apenas um índice perverso do que poderá vir depois, já no inverno, se a pessoa não se cuidar. Ao longo de todo o trimestre invernoso, o tempo mais seco faz aumentar a incidência de resfriados, gripes e infecções, além de piorar o quadro das alergias.
As doenças mais comuns da estação são as que atingem a garganta e o aparelho respiratório. Seus alvos preferidos são as vias respiratórias superiores, o nariz, a garganta, os ouvidos e os pulmões.
Segundo Rabahi, qualquer pessoa está vulnerável às doenças de inverno. O médico, no entanto, destaca que as crianças e idosos são os mais acometidos por terem o sistema imunológico "mais fraco" nesta fase da vida.
Na lista do pneumologista também fazem parte os pacientes que já estão debilitados por uma outra doença ou os que passam por tratamento médico. Este é o momento em que o organismo dessas pessoas apresenta baixa resistência. Quanto às complicações das doenças, Rabahi lembra que é fundamental tratá-las adequadamente, pois embora pareçam simples, elas podem levar à morte.
Rabahi destaca que algumas doenças têm sintomas semelhantes e por isso mesmo é preciso ficar atento. Ele faz um alerta: "Só um médico poderá avaliar corretamente o tipo de doença e como deve ser tratada." A automedicação, segundo o médico, deve ser evitada, pois o uso indiscriminado de antibióticos pode gerar uma resistência bacteriana e até mesmo promover efeitos colaterais.
O pneumologista enfatiza que o indivíduo que se alimenta bem não precisa de nenhum complemento nesta época do ano, e que por isso a dieta deve permanecer a mesma. Segundo ele, as melhores dicas são mesmo as das vacinas para muitas das doenças. "As pessoas da terceira idade têm de se vacinar", enfatiza.
Além disso, garante o professor da UFG, outra boa maneira de passar por esses meses de forma saudável é praticar exercícios físicos na temporada anterior. Uma boa atividade com pernas  e braços pode criar a zona de conforto que todo mundo quer. Neste caso, a boa prática são os aeróbicos, como caminhar, correr nadar, porque aumentam a capacidade respiratória.
A importância da vacinação também é reforçada por Fer­nanda. Segundo ela, além das vacinas disponibilizadas nas redes públicas de saúde, as cri­anças devem ter o seu cartão de vacinação atualizado. "Ne­nhuma vacina deve ficar de fora, em especial contra a meningite e pneumonia, que são, em geral, as doenças mais preocupantes no inverno."
A médica reforça que não se pode esquecer ainda de beber bastante água para manter-se hidratado, mesmo que a sensação de sede seja menor. Os banhos muito quentes, segundo ela, devem ser evitados para que a pele não fique seca ou apareça algum tipo de alergia.