[UFG - Fonte] O talento em vários atos (Tribuna do Planalto, 21/05/11)

O talento em vários atos

O desejo de escrever e o engajamento político fizeram de Hugo Zorzetti um dos grandes nomes do teatro em Goiás, com peças que levam à reflexão por meio da sátira humorística


 

Cristine do Espírito Santo Estagiária convênio Tribuna/PUC-GO

Contar a história do ator, dramaturgo e diretor Hugo Zorzetti (62 anos) é contar a história do teatro recente em Goiás. Um dos fundadores do Curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás (UFG) e criador do curso técnico em teatro do Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França (CEPABF), ele está acima de qualquer título, sendo um verdadeiro "homem de teatro".
Nascido em Goiânia, em 1948, Zorzetti foi profundamente tocado pelos causos da infância, que ouvia dos pais descendentes de italianos. Sua mãe, oriunda de Catalão, transmitiu a paixão pela cidade ao filho. O dramaturgo acredita que foi através das histórias contadas que surgiu o escritor. Eram tantas que vão virar livro. "Estou resgatando umas histórias que me embalaram quando eu era criança", comenta.
A vontade de escrever junto com o empenho político levou o dramaturgo a experimentar o teatro na juventude, em plena época de ditadura. "Aquilo que eu não fazia em prosa, que não fazia em versos, até para não ficar engavetado, fazia para a cena, para a boca dos atores", relata. Segundo ele mesmo, esses primeiros textos eram muito panfletários.
Nesse embate ideológico e teatral, logo ele descobriu o poder do humor. Ao apresentar A Barricada, peça que escreveu no fim dos anos 1970 e que narra as desventuras de um ator provinciano decidido a fazer carreira fora, Zorzetti percebeu que não estava agradando pela inquietude do público. Então, decidiu satirizar, rir de si mesmo.
A brincadeira deu certo, e ele percebeu que através do humor poderia informar mais do que na seriedade. "Naquele momento, o mais importante era a informação política, menos o dramaturgo, menos a poesia, e mais o que eu queria passar de aviso, de reflexão", garante.
No espetáculo Komosode, que estreou em 2010, Zorzetti apresenta um autor dramático que se vê preso em uma taberna de reputação duvidosa com vários atores avacalhados da companhia Commedia dell'Arte, discutindo a comédia e a tragédia no teatro com muito riso.

Perseguição
A veia crítica de Zorzetti não parou de pulsar nem quando estava trabalhando para a máquina estatal, na antiga Superintendência de Assuntos Culturais, hoje Secretaria Municipal de Cultura, na década de 70. O dramaturgo não deixava a intimidação fazê-lo perder a piada. Chegou a irritar até mesmo seu chefe, quando montou uma peça para criticar a própria Secretaria.
O sistema ditatorial também não costumava gostar de críticas bem-humoradas. Por causa da cara amarrada da ditadura, Zorzetti e seus colegas do grupo que havia fundado, Teatro Exercício, sofreram muita perseguição, como todo intelectual engajado da época. "A gente ia para o teatro, chegava na hora da reunião e via que estavam faltando dois ou três. Estavam presos", relata.
Ele também perdeu o emprego, quando comprou a briga dos artistas na reforma do Teatro Goiânia. Assim como os outros envolvidos com teatro na década de 70, o dramaturgo acreditava que a restauração do teatro ficaria muito cara, sendo melhor aplicar o dinheiro na construção de várias unidades menores espalhadas pela cidade.
Mesmo em tempos de tantos problemas democráticos, indagado sobre a melhor época do teatro em Goiânia, Zorzetti garante que foram as décadas de 70 e 80. "Naquele tempo éramos impulsionados por essa coisa de tentar levantar a cortina pesada que havia."
O engajamento político dos estudantes e o envolvimento do público com os artistas também ficaram na memória do dramaturgo. As pessoas, além de assistir às peças, se uniam aos teatristas em passeatas e rei