Diáspora Negra
Com fins mercantilistas, milhões de negros africanos foram forçados a atravessar o Atlântico com destino aos países da América. Somente o Brasil recebeu cerca de 38 milhões de pessoas
Foi há mais de 500 anos, mas ainda dá o que falar. A diáspora africana, fenômeno provocado pela imigração forçada de milhões de africanos para as Américas, continua um tema atualíssimo.
Não existem número exatos, mas calcula-se que 12 milhões de africanos aportaram no que, à época, era conhecido como Novo Mundo.
Esse fenômeno sociocultural e histórico começou por volta de 1502 e teve fim em 1855, quando aconteceu o último desembarque de negros em Serinhaém, no interior de Pernambuco.
O Brasil recebeu cerca de 38% desse contingente de homens e mulheres, que vieram de diferentes partes da África e trouxeram consigo a língua, a cultura e a forte religiosidade.
Segundo o professor Alex Ratts, coordenador da semana "As Diferentes Faces da África", realizada na Universidade Federal de Goiás (UFG) de 20 a 28 de maio, o Brasil foi o país das Américas que "mais recebeu negros da África", sofrendo grande impacto pela diáspora.
Espalhados pelo território brasileiro, os africanos contribuíram para o desenvolvimento populacional e econômico do Brasil.
Mesmo com suas tradições enclausuradas nas senzalas, a identidade africana foi fundamental para a formação cultural e religiosa do povo brasileiro.
Ratts destaca que a influência desses imigrantes está presente não só na música e dança, mas também na política e em todas as áreas do conhecimento.
Diáspora contemporânea
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, 44,2 % da população do Brasil é afro-brasileira, compondo a maior população negra fora da África.
Para o professor Ratts, o reflexo desse panorama no Brasil é a formação de núcleos negros, como os quilombos, ou de cidades como Salvador, que abriga o maior número de descendentes da diáspora africana no mundo.
Mas os reflexos não são só positivos. Ratts afirma que a desigualdade racial existente no país é resultado da diáspora, já que a ausência de políticas públicas de inserção social e econômica para os afro-descendentes gerou enormes assimetrias.
Para o professor, discutir esse tema é fundamental para se pensar a relação do Brasil com a África. Atualmente, segundo Ratts, a diáspora ainda acontece, mas em outro sentido.
Conforme ele, hoje são os estudantes, políticos e trabalhadores africanos que desembarcam no Brasil à procura de uma melhor condição de ensino e oportunidades de trabalho.
* Livro publicado pela Editora Contexto colabora para a compreensão do papel exercido por uma importante parcela do povo negro na formação da sociedade brasileira