Homeopatia: o tratamento das semelhanças
Homeopatia: o tratamento das semelhanças
Antiga, só agora a técnica vem despertado a atenção de pacientes e médicos
Não há nada pior para uma mãe do que ver o seu filho doente. Seja qual for o mal, ela busca de todas as formas salvaguardar a integridade do pequeno. Dores de ouvido, cólicas e outros malefícios que atingem praticamente todas as crianças são facilmente combatidos com uma dose de carinho, paciência e os medicamentos certos. Mas e quando o problema é um pouco mais sério, como uma pneumonia?
Foi esse dilema que a escritora e professora de História, Cleidna Aparecida de Lima Landivar enfrentou quando seu filho mais novo tinha pouco mais de um ano de vida. Assim que nasceu, Estevan de Lima Landivar Moreno, hoje com 12 anos, teve diversos problemas respiratórios, que lhe causaram sucessivas pneumonias na infância. “Por causa dos fortes medicamentos, ele estava muito debilitado, e o tratamento não funcionava mais”, conta.
Sempre adepta da medicina alternativa, Cleidna já fazia uso de técnicas como a acupuntura e a homeopatia. Ainda assim, relutava em experimentar os métodos com o filho, acreditando que remédios assim não funcionariam em casos de emergência. No final, a crença pelos tratamentos venceu.
“Resolvi procurar uma médica homeopática, já que os medicamentos normais estavam prejudicando ele. Os homeopáticos quase não agrediram o seu organismo e o sarou. Ele continuou o tratamento contra problemas respiratórios e até hoje utiliza remédios homeopáticos”, conta.
Atualmente, a família toda é adepta das famosas bolinhas. “Eu sempre acreditei nos remédios homeopáticos, mas a certeza de que realmente funcionam, inclusive em casos de emergência, veio com o tratamento do Estevan”.
Casos como o de Cleidna não são difíceis de encontrar. Quase sempre conhecemos um familiar ou amigo que já tenha experimentado o tratamento homeopático. Mas alguém sabe de fato como funciona?
Homeopatia vem do grego homoios “semelhante” + phatos “doença”, e como o próprio nome sugere, é um tratamento baseado no princípio dos semelhantes. Em 1796, o médico alemão Christian Friedrich Samuel Hahnemann, descobriu que ao ministrar certas doses de uma substância em pessoas sadias, elas desenvolviam uma patologia específica. Baseado no princípio da semelhança, concluiu que essa mesma substância poderia curar os sintomas dessa patologia em quem já estivesse doente.
De acordo com a professora da faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Leonice Manrique Faustino Tresvenzol, a homeopatia, diferentemente do tratamento convencional, não trata uma doença somente, mas o indivíduo como um todo.
“É um tratamento que busca que o indivíduo entre em equilíbrio com o meio. O médico avalia o paciente de forma integral, observando não só a doença”, explica.
As consultas feitas no consultório homeopático duram em média uma hora, e o médico costuma perguntar de tudo. Desde o que a pessoa gosta de comer, até a posição em que ela dorme. De acordo com os especialistas, todas essas informações são necessárias para traçar um “perfil” do paciente e assim receitar as substâncias certas.
Leonice, que é farmacêutica com especialização em homeopatia, conta que as pessoas estão cada vez mais interessadas pela área. “Em Goiânia já há uma boa aceitação pelo tratamento e muitos médicos estão se especializando”.
O crescimento da técnica tem despertado o interesse de laboratórios, principalmente os especializados em medicamentos manipulados. É o caso da Farmácia Artesanal, que há cerca de sete anos vêm trabalhando com remédios homeopáticos.
Para o farmacêutico e diretor geral da farmácia, Evandro Tokarski, a terapia homeopática é, hoje, muito mais valorizada tanto pela classe médica quanto pelos pacientes. “É um tratamento com traços milenares, e que só agora vem sendo reconhecido nas escolas de farmácia e na área médica”, opina.
Mais uma opção
O reconhecimento da homeopatia pela sociedade, principalmente a médica, torna a especialidade uma nova opção de tratamento para quem não aguenta mais tomar inúmeras substâncias e vir a sofrer efeitos colaterais.
Foi esse o caso de Cleidna Landivar. “Nunca gostei de tomar remédios tradicionais, seja pelo gosto ou pelos efeitos que provocam em mim, como sonolência e irritabilidade. Hoje, com problemas de pressão alta, faço mais uso de medicamentos alopáticos, de preferência manipulados, mas a minha médica passou substâncias homeopáticas para finalizar o tratamento”.
Leonice Tresvenzol faz questão de ressaltar que a homeopatia é uma ferramenta a disposição do médico que deve ser utilizada com muito cuidado. “Existe a postura do homeopata ortodoxo, que acredita que só aquela prática funciona. Na verdade, o médico tem que escolher o tratamento que melhor se encaixe para o problema do paciente”, opina.
A postura liberal, de adotar mais de uma prática pode também tranquilizar os pacientes que ainda não testaram a eficácia da técnica. “O que nos ajudou na decisão de buscar logo a homeopatia foi o fato da médica não ser tão radical, e ter conciliado os dois tratamentos. Isso deu segurança”, revela Cleidna ao contar do tratamento do filho.
Mercado investe em setor homeopático
As pessoas querem uma vida mais saudável. Para isso, muitos buscam alimentos e até mesmo remédios mais naturais, como é o caso dos homeopáticos.
No laboratório de homeopatia da Farmácia Artesanal, essa busca vem sendo notada com o crescimento da área. O diretor Evandro Tokarski conta que antes da empresa decidir fabricar os medicamentos já existia uma grande procura pelos frascos.
“As pessoas perguntavam se a gente produzia os medicamentos. Percebemos a necessidade do mercado e começamos a produzir. É uma área que tem crescido bastante, inclusive no tratamento de animais de grande porte, como os cavalos em fazendas”, ressalta.
No início do ano, a empresa abriu mais um laboratório especializado em homeopatia para dar conta da demanda. O diretor estima que em relação à venda de medicamentos manipulados, a farmácia tenha um crescimento anual que gira em torno de 9%.
O farmacêutico considera que esse aumento na produção é reflexo da maior aceitação da sociedade e até mesmo do poder público. “Em Belo Horizonte, a técnica faz parte do tratamento de saúde pública municipal. Em Goiás essa é uma oportunidade para melhorar a saúde pública”, analisa Tokarski.
Como argumento para a inclusão da homeopatia nos hospitais públicos, o diretor da Farmácia Artesanal explica que, embora o tratamento seja por vezes mais demorado, os medicamentos são de baixo custo e bastante eficientes. “Deveria ser mais incentivado pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”, opina.
Especializada em medicamentos manipulados, a Farmácia Artesanal completou 30 anos de funcionamento. São cerca de 20 farmacêuticos especializados nas diversas áreas. Além da inauguração do novo laboratório, a empresa está restaurando uma antiga unidade situada no Centro de Goiânia.
“Em comemoração aos 30 anos, estamos restaurando a unidade em estilo Art´Decor e vamos fazer a reinauguração no início de 2012”, conta o diretor da empresa.
Particularidades da terapia das “bolinhas”
A maioria das pessoas, ao ouvirem pela primeira vez a palavra homeopatia lembram logo de remédios naturais. Mas será que é só isso mesmo?
A manipuladora de medicamentos homeopáticos da Farmácia Artesanal, Marli Teles explica que é comum as pessoas confundirem manipulados com homeopáticos. De fato, os remédios homeopáticos são manipulados, mas de uma forma completamente diferente.
Primeiramente, é importante entender a diferença entre medicamentos homeopáticos e alopáticos. Como já sabemos, os homeopáticos são produzidos a partir da teoria da semelhança. Os alopáticos – que são os tradicionais – tem como princípio básico dar ao paciente uma substância capaz de determinar um estado contrário à doença. Se a pessoa tem febre, recebe um antitérmico, no caso de infecção, um antibiótico, e por aí vai.
Grande parte dos medicamentos manipulados são alopáticos. A única diferença é que possuem formulações mais naturais e não são industrializados. “Em geral quando as pessoas dizem que um medicamento é manipulado, é que ele é um alopático que não foi feito de forma industrializada”, explica Marli.
Os homeopáticos são obtidos através de um processo peculiar, ilustrado pela manipuladora. “A substância a ser usada é diluída inúmeras vezes e agitada, para que possa soltar sua energia. À medida que vai aumentando a diluição, você aumenta a concentração dos princípios ativos, pois durante a dinamização aumenta a energia da substância. A homeopatia é caracterizada simplesmente pelo processo de diluição e sussução (que é a agitação)”.
Focada na energia do indivíduo, a técnica não convence a todos. Imaginar que quanto mais se dilui uma substância mais ela tem efeito sobre o organismo não é fácil. Mas tanto a manipuladora quanto a farmacêutica da Farmácia Artesanal garantem que a técnica funciona, mas tudo depende de uma série de fatores.
“A energia da Marli tem que estar envolvida na hora de agitar a substância, assim como a conservação do medicamento, a análise correta do médico e a composição correta na hora de fazer a receita. Tudo interfere na eficácia do tratamento” explica Nara Fonseca, farmacêutica da loja.