A mobilidade do cotidiano

Sara Cassiano

Conectar-se para acompanhar cotações ou se informar sem precisar de desktop é a nova realidade do mundo moderno

Com a tecnologia cada vez mais presente na vida das pessoas fazendo uma estreita ligação entre quase todas as atividades, o uso dos dispositivos móveis de comunicação – como smartphones e tablets – é uma tendência que vem sendo transformada em necessidade.
Fazem parte desses usuários, em geral, pessoas que querem estar bem informadas e não podem ficar paradas em um determinado local para resolver os seus problemas, sejam eles de negócios, estudos ou comunicação pessoal.
As novidades também atraem a maioria dos jovens que querem navegar pela internet, ouvir músicas, mandar e-mails e mensagens, participar das redes sociais, jogar games, enfim, estarem conectados a qualquer hora e lugar.
Um bom exemplo é o lançamento no Brasil do iPad2 no fi­nal de maio. O novo modelo do produto, que se classifica entre os computadores e os celulares inteligentes, abriu uma corrida pela procura nas lojas. O preço é o mais caro do mundo: de R$ 1.649,00 a R$ 2.599,00.
Toda essa transformação tem enorme impacto no estilo de vida e no comportamento das pessoas, em especial com relação ao uso dos desktops, hoje quase que abandonados pela exigência da mobilidade das pessoas.
Estudos e pesquisas feitos pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) apontam que no final desta década (2020) a humanidade poderá estar utilizando mais de 55 bilhões de dispositivos de comunicação móvel.
Desse total, calcula-se que cerca de 12 bilhões serão para comunicação de pessoa-a-pessoa ou homem-máquina. E os smartphones, tablets, celulares convencionais, leitores eletrônicos (e-readers) e outros estarão nas primeiras posições.
Para o Brasil, as previsões são de que em menos de cinco anos mais de 50 milhões de pessoas estarão utilizando esses dispositivos móveis para todas as funções tecnológicas nas mais distantes regiões.
Na visão do professor de Tecnologia da Informação da Universidade Federal de Goiás (UFG) Miguel Ângelo de Fran­ça Costa, o que está acontecendo agora é a possibilidade de utilizarmos mais esses instrumentos para tomarmos decisões necessárias.
Segundo ele, como a demanda por novos conteúdos da internet cresce a cada dia e o número de novos dispositivos tem sido ampliado largamente, como os celulares inteligentes, tablets e iPads, esses objetos vão se tornando indispensáveis.
Além disso, França explica que a possibilidade de utilização desses dispositivos móveis para obtermos informações em tempo real, ou para nos comunicarmos de uma maneira mais fácil, torna a ferramenta ainda mais interessante num processo de administração.
Em especial no mundo dos negócios, o professor avalia que a tendência é de expansão da utilização desses produtos pela praticidade de portabilidade. Alguns recursos também colaboram para o grande interesse, como as viodeochamadas, por exemplo.
Quem corrobora com a opinião de França é o professor da área de computação do Institu­to Federal de Educação, Ciên­cia e Tecnologia de Goiás (IFG) Eduardo Noronha de Andrade Freitas, que acredita que essa nova tecnologia veio para ficar.
Freitas justifica afirmando que as pessoas a cada dia precisam reduzir os custos e serem mais efetivas no desempenho de seus negócios. Para isso, esses dispositivos móveis têm recursos diferenciados que atendem às diversas atividades, diminuindo as limitações.
Ele acrescenta que hoje a tecnologia dispõe de ferramentas essenciais para viabilizar as comunicações móveis de banda larga. E a tendência é a ampliação dos serviços muito além de fazer coisas que há pouco tempo só eram possíveis em frente a um computador.
Além disso, completa, o conceito de comunicação nas nuvens vem acelerar ainda mais o desenvolvimento desse tipo de comunicação. A nuvem permitirá armazenar quase tudo que hoje guardamos em computadores e smartphones sem a ne­cessidade de carregar o sistema.
Serviços
O certo é que os novos serviços estarão disponíveis nas regiões mais distantes do Brasil em menos tempo e devem alcançar uma maior parcela da população a partir do momento em que as empresas concorrentes forcem a queda dos produtos pela competitividade.
E à medida que novos mo­de­los vão sendo lançados (e isso no mundo da tecnologia e bem rápido) com as empresas nacionais participando da fa­bricação dos produtos, também são alcançados novos índices de produção e consumo.
Sobre à disseminação dessas tecnologias no Estado de Goiás, Noronha destaca que aqui existe em muitos casos a questão cultural. "Em Goiás, as empresas ainda têm um formato familiar em que os negócios são gerenciados de maneira mais caseira", destaca.
Porém, o professor do IFG reitera que atualmente com o espaço globalizado, o empresário goiano sabe muito bem que ele não concorre mais só com as empresas do Estado. É com todo o Brasil e com ou­tros países também.
Então, a necessidade de adequação e a pressão do mercado forçam o empresariado a aderir às novas tecnologias para que tenha um diferencial estratégico, embora a tendência seja bem menor do que em outros centros, como São Paulo, por exemplo.

Novos produtos no mundo dos negócios
Em termos de eficiência, o conhecimento de novas técnicas e produtos, em especial os que têm potencial para produzir reflexos positivos na prestação de serviços e na comunicação pessoal, é mesmo o diferencial no mundo dos negócios.
No dia a dia do empresário Síl­vio Silva Souza, 48 anos, a comunicação móvel é indispensável. As atividades que exerce fora do seu escritório lhe ocupam quase o dia todo. Assim, as providências aos seus negócios, em geral, são tomadas via internet.
Souza percebe nas diversas ferramentas disponíveis num mesmo dispositivo móvel, com tecnologia de convergência digital, maior agilidade nos processos de decisão de sua empresa. A comunicação via telefone, para ele, também é um bom diferencial dos aparelhos móveis.
O empresário só lamenta o fato de perder um pouco a sua privacidade com tanta tecnologia. "Às vezes você quer ter mo­mentos de sossego, mas o fato de ter criado a cultura de uso do telefone móvel te deixa vulnerável a ter de atender ligações que poderiam ficar para depois."
Para o representante comercial Luiz Henrique Gomes Bor­ges (52) é mesmo impossível trabalhar sem a ajuda da co­municação móvel. Como não pode ficar preso em um escritório, a sua comunicação com os clientes não fica prejudicada.
Ao mesmo tempo em que está revendendo os produtos que representa, resolve problemas de outros clientes, passa pedido, e-malis, confere mensagens, busca informações sobre os produtos e ainda pode se comunicar pelas redes sociais. Isso sem muito gasto de tempo e dinheiro.
Mas assim como Souza, Borges ainda depende do computador para elaborar textos e planilhas mais extensos. Os dois concordam que nos desktops e laptops é bem mais confortável digitar, além do fato da capacidade de armazenamento ser maior. "Mas a tendencia é dos móveis serem bem mais versáteis, afirma Sílva.
Quem apresenta uma projeção de dois anos para decretar o abandono definitivo do computador é o professor Eduardo Noranha Freitas. Para ele, essa será uma realidade irreversível em um curto ou médio prazo.
O fato está ligado à queda no preço dos aparelhos mó­veis que hoje já representa em torno de 27% a 30% de alguns meses atrás. Aliado à popularidade também tem o fato de hoje os tablets terem dispositivos com capacidade para gerir e assessorar as pessoas em suas atividades.
Nem mesmo as restrições ao uso desses telefones inteligentes feitas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em atenção aos danos à saúde dos usuários é dado como fator de manutenção dos desktops por mais tempo por Freitas.
Para ele, tentar frear esse processo é algo que vai na contramão do que está sendo lançado em massa. "É preciso averiguar se de fato existe uma conclusão científica sobre os danos causados por esses aparelhos, mas, por enquanto, me parece que a população não está muito preocupada, não.
Já o professor da UFG Mi­guel Ângelo França acredita num tempo bem maior para a sobrevivência dos desktops. Ela afirma que mesmo com toda a evolução dos dispositivos mó­veis o velho computador ainda participará da comunicação do moderno mundo da informação.
Mas para Ângelo França também a sociedade ainda não se mostra preocupada com questões ligadas à saúde. O fato esbarra numa conclusão definitiva desses estudos, em que a própria OMS ainda não bateu o martelo.