Medo de morrer
Pesquisa mostra que nove em cada 10 brasileiros temem ser assassinados. Assalto à mão armada é o principal receio
Wanda Oliveira
da editoria de cidades
A exposição à violência urbana mostra que em casa, na rua ou até mesmo na escola ninguém está imune das ações de bandidos. Uma situação que se torna comum nos grandes centros e que está cada dia mais difícil de ser controlada. O analista de sistemas, Bruno de Castro Oliveira, 26, é mais uma das vítimas dessa realidade. Ele foi assaltado quando chegava no apartamento de um primo no Setor Oeste, em Goiânia. O rapaz estava em um veículo Polo, que havia comprado há três meses.
Bruno conta que na época mal estacionou o carro quando foi abordado por um homem armado, que levou o veículo, o celular e a carteira dele. "Fiquei tão assustado que me deu um branco na hora. Saí correndo e gritei o porteiro. Hoje em dia até andar pelas ruas é perigoso", diz. A servidora pública Leila Cristina Mendonça, 31, foi assaltada na garagem da casa dela por dois homens encapuzados e com revólveres.
Os bandidos anunciaram o assalto e pediram educamente à vítima para ficar calada e quieta. Leila recorda que a ação dos assaltantes durou quase cinco minutos, e na fuga eles levaram um veículo Golf. A servidora diz que ficou tranquila em princípio porque imaginava que era uma brincadeira. "Só percebi que era um assalto quando eles colocaram a arma na minha cabeça e na do meu cunhado."
Para Leila, a violência já faz parte da rotina do brasileiro que em qualquer lugar não tem como se proteger dos marginais. "É uma situação preocupante, mas coloco tudo nas mãos de Deus. Só Ele pra cuidar de nós." A violência urbana preocupa praticamente todos os brasileiros. Nove em cada dez cidadãos têm medo de ser assassinado. Isso corresponde a 78,6% de um grupo de 2.770 entrevistados pelo Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O estudo divulgado no final do ano passado mostra que o sentimento é o mesmo em relação ao assalto à mão armada, que soma 73,7% dos pesquisados. A população teme ainda pelos crimes de arrombamento e agressão física, que correspondem a 68,7% e 48,7%, respectivamente, do levantamento. De acordo com o Sips, que avaliou o sistema de Segurança Pública no Brasil, os moradores da região Nordeste apresentam maior medo de ser vítimas de homicídio (85,5%).
A mesma sensação tem os residentes no Norte e Sudeste, que correspondem a 78,4% dos entrevistados nas duas regiões. No Centro-Oeste, esse sentimento chega a 75% e diminui para 69,9% no Sul do País. As mulheres representam 85,5% dos entrevistados que mais têm medo de assassinato, enquanto 71,1% dos homens declararam o receio de ser vítimas desse delito.
A pesquisa não encontrou diferenças significativas nas respostas por nível de escolaridade, renda, estado civil ou cor da pele. O estudo revelou ainda que são os viúvos, 87,3%, que mais temem assalto à mão armada, contra 69,3% dos solteiros e 75,5% dos casados. O medo de arrombamento atinge 68,7% dos entrevistados, enquanto 11,4% afirmaram não ter receio desse tipo de crime.
O índice mais baixo do medo foi verificado entre indivíduos de classe média com uma renda familiar entre cinco e dez salários mínimos, e aumenta à medida que a renda se torna muito baixa ou muito alta. A sensação de insegurança é menor entre os entrevistados que já tiveram contato com a polícia. O delegado-geral adjunto da Polícia Civil de Goiás, Antônio Carlos de Lima, classifica o aumento da violência urbana ao consumo demasiado de drogas, principlamente do crack. Segundo ele, a sociedade também associa o medo da criminalidade a ações violentas de motociclistas. "Basta alguém ver duas pessoas em uma moto, às vezes, no semáforo para surgir esse sentimento. Hoje, 99% da população tem medo de motoqueiros", afirma.
O delegado diz que a violência urbana se banalizou e os bandidos não escolhem classe social. Para reverter essa realidade, Lima acredita que a saída é investir em uma série de medidas, como no policiamento ostensivo, em políticas públicas e em casas de recuperação de dependentes químicos. Dados da Delegacia de Homicídios de Goiânia mostram que 186 pessoas foram assassinadas até o dia 9 de junho na Capital. Destas, 157 homens e 29 mulheres. No ano passado, esse número chegou a 360 mortes contra 355 homicídios em 2009.