A UFG e o desenvolvimento de Goiás

A UFG e o desenvolvimento de Goiás


Itami Campos

A Universidade Federal de Goiás foi criada em 14 de dezembro de 1960 no final do governo Juscelino Kubistchek. Ressalte-se que daí alguns dias Jânio da Silva Quadros, eleito em 3 de outubro de 1960, tomaria posse como presidente da República e, quem sabe, a história fosse outra! Jânio Quadros, assumindo em 31 de janeiro de 1961, logo passou a executar sua plataforma de campanha de cortar despesas, disciplinar gastos, conter a inflação e pôr ordem na administração pública, dentro da sua proposta de 'varrer' a corrupção e a desordem pública brasileira - "Jânio vem aí" era seu lema, simbolizado pela vassoura.


Na conjuntura da época, poucas eram as condições do surgimento de duas universidades em Goiás. A Católica era a da vez, dado o importante trabalho da Igreja, especialmente, de d. Fernando Gomes dos Santos. Contrapôs-se ao projeto da Católica, um 'movimento' inicialmente liderado por estudantes de Goiás que, com apoios decisivos de professores e de políticos (Castro Costa, Alfredo Nasser, Coimbra Bueno, entre outros), principalmente de JK, tornou possível outro projeto.

O projeto da UFG era avançado, integrando e dando outro estatuto às faculdades existentes em Goiás - Direito, Farmácia e Odontologia, Engenharia, Medicina, Conservatório de Música, além da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, criada em 1962. A estas faculdades foi agregado o Centro de Estudos Brasileiros (CEB), concebido como unidade multidisciplinar avançada/revolucionária, com objetivo de repensar a história e a cultura brasileira, significando uma moldagem nova do ensino superior. Não somente o CEB era vanguarda, alguns outros inovavam, por exemplo, no jornalismo a UFG saía na frente - o jornal O Quarto Poder - objetivava mudar a forma e a direção da notícia e da comunicação.

O 'movimento' pela universidade federal teve no professor Colemar Natal e Silva sua principal liderança. Orlando de Castro, professor emérito da UFG e como estudante (em 1959) e integrante do 'movimento' (frente universitária pró-ensino federal), narra que o professor Colemar usou de muitos recursos, amizades inclusive, para conseguir autorização para instalação da Universidade Federal já no governo Jânio. Ele, diretor da Faculdade de Direito (da Rua 20, já federalizada), assumiu a luta pela criação da UFG moldado pela sua militância na cultura goiana. Liderou o grupo de intelectuais goianos que fundou a Academia Goiana de Letras (1939) e, desde estudante no Rio de Janeiro, destacou-se entre os intelectuais goianos do período. Tem sido considerado um dos principais artífices da manutenção do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás e da Academia Goiana de Letras. Essa sua pertinácia sem dúvidas ele herdara de sua mãe - Eurídice Natal e Silva que, no início do século 20, liderou a criação da Academia de Letras de Goiás (1904-1909).

Colemar Natal e Silva, merecidamente, tornou-se o primeiro reitor da UFG (1961-1964). Seu reitorado aconteceu numa conjuntura brasileira e goiana de confrontos ideológicos: nacionalismo e 'reformas de base' da esquerda verso entreguismo, conservadorismo e golpismo da direita. As correntes ideológicas tanto marcaram o período de criação da UFG, como estavam 'dentro' da universidade.

No início da UFG, muitos eram os problemas, maiores os desafios. A estruturação da universidade exigiu muito dos seus dirigentes. A Reitoria estava instalada em uma casa na Rua 20, abaixo da Rua 15. Poucas unidades estavam instaladas em prédios próprios. Por exemplo: a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras não tinha sede, seus cursos funcionaram durante vários semestres em lugares diversos. Lembro-me. Ingressei na UFG, como aluno da primeira turma de Ciências Sociais, em 1964. Apesar disso, era muito o dinamismo e o esforço para funcionar bem.

Logo aconteceu o Golpe Militar de 1964. Intervindo, prendendo, aposentando, o regime militar mudou o 'projeto original' da UFG. O Centro de Estudos Brasileiro e o jornal O Quarto Poder foram os primeiros alvos da repressão - seus professores, dirigentes, alunos e servidores foram perseguidos e muitos presos. Também o regime militar intervém na Reitoria, afastando o professor Colemar, em agosto de 1964.

A Universidade Federal de Goiás tem sido produto de um esforço coletivo de professores, alunos e servidores que sempre vislumbraram lá adiante as condições e possibilidades, sonhadas pelos fundadores, de construção de um Goiás diferente e de um Brasil com mais igualdade. Hoje, a universidade tornou-se complexa e mais qualificada. Pesquisas, laboratórios, centros de referência, além de seu processo de interiorização multicampi. Em Goiânia são 61 cursos de graduação; mais de 20 mil alunos; 43 mestrados; 19 doutorados, destacando-se entre as principais instituições nacionais pela sua qualidade. A UFG tem sido fator de mudanças e renovação de Goiás e, também do Brasil. Seus números, por mais expressivos, não são capazes de mostrar o real significado que ela tem tido para o desenvolvimento de Goiás.

 

Itami Campos , cientista político, é pró-reitor de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Ações Comunitárias, e professor titular da UFG, aposentado