Melhorias para o campo

Pesquisa apresentada na 63ª SBPC ao setor rural mostra desenvolvimento de biotecnologias que combatem efeitos de agrodefensivos em plantação de soja

16 de Julho de 2011 | Por: Marcelo Tavares

Pesquisas para melhoramento e maior produtividade do solo foram alguns dos estudos apresentados e voltados aos produtores rurais durante a 63ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que encerrou na última sexta-feira, 15, na Universidade Federal de Goiás (UFG). Soluções direcionadas para o homem do campo não faltaram. Uma delas envolve o desenvolvimento de biotecnologias que combatem os efeitos de agrodefensivos utilizados na plantação de soja.
Entre os trabalhos divulgados no evento estavam o do professor Flávio Marques, do Mestrado em Ciências Moleculares da Universidade Estadual de Goiás (UEG), que desenvolveu pesquisas sobre o uso de micro-organismos na recuperação de ambientes contaminados. O primeiro projeto apresentado na SBPC, que iniciou no curso de doutorado pela UFG, ele trabalhou com micro-organismos que conseguem eliminar parte dos efeitos dos fungicidas Piraclostrobin e Epoxiconazol, princípios ativos do “Opera”, hoje um dos campeões de venda no Estado, usado para combate de pragas em plantações de soja.
“Ao cair no solo, ele diminui a qualidade da terra e a quantidade de micro-organismos. Embora não existam estudos de análise do solo para dizer qual a perda, o uso em excesso tira a produtividade e pode desencadear processo de desertificação”, explica.
Com estudos laboratoriais com plantas em vasos, a pesquisa conseguiu identificar micro-organismos que conseguem degradar em até 90% a toxidade do Opera num período de até 144 horas. E, com base nisso, o professor desenvolveu uma produto biotecnológico que combate o efeito do fungicida e visa promover a volta ou recomposição do solo, bem como o aumento da produtividade e a diminuição do teor dos compostos tóxicos do defensivo. “A parte científica já está pronta, até artigos já foram publicados a respeito, só falta o registro da patente, que é um processo demorado junto ao Ministério de Ciência e Tecnologia”, afirma. 
A partir dessa pesquisa, o professor também começou a desenvolver o trabalho “pool resíduos”, em que é feita a avaliação dos resíduos de pré-lavagens das embalagens de agrotóxicos armazenados em vasilhames. “O nosso estudo consistiu em isolar os micro-organismos, bactérias e fungos que apresentaram resistência dentro dos vasilhames, para produção de biofertilizantes que têm a capacidade de elevar a produtividade e reduzir a toxicidades dos agrodefensivos no solo”, ressalta.

Cana
“Dando continuidade a esse projeto, já que todos os trabalhos são interligados, para 2012 também iniciaremos outra linha de pesquisa”, adianta Flávio. Denominado “Desenvolvedores de Marcadores Celulares na Qualidade do Solo para Produção da Cana-de-Açúcar”, o projeto será feito em três tipos de plantações da cultura: Cerrado nativo, orgânico (sem agrodefensivos) e convencional (com agrodefensivos). A ideia é identificar quais micro-organismos presentes e qual pode melhorar a fertilização do solo e maior produtividade.
Facilitar o processo de limpeza de águas industriais é uma das soluções de uma pesquisa desenvolvida pela professora Samantha Salomão Caramori, também integrante do Mestrado de Ciências Moleculares da UEG.
O trabalho envolve o estudo de proteínas de plantas do Cerrado para produção de biotecnologias. Um dos exemplos são dois tipos de gramas (paspalum e echnoluena), que têm produção enzimática elevada e que podem ser extraídas para diversas utilidades. Uma delas é a aplicação da proteína em águas industriais. A reação com os resíduos quebraria os poluentes e facilitaria a limpeza que as indústrias fazem para despejo da água nos rios.