Nem todo cientista é careca ou tem cabelos brancos
Jovens pesquisadores brasileiros apresentam, em Goiânia, projetos premiados pelo CNPq. Com inscrições abertas, prêmio estimula interesse da juventude pela C&T
Thaís Lobo Estagiária convênio Tribuna/Fasam 16/07/2011
Você não aguenta mais andar pela cidade por causa da fumaça dos ônibus? Acha que gasta água demais no banho e suspeita que essa mesma água não é tão pura quanto o governo afirma?
Se você passa por essas situações ou tem essas mesmas dúvidas, é um forte candidato a cientista.
Foi o que demostrou a 63ª reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), realizada semana passada na UFG, onde não só pesquisadores graduados, mas jovens do Ensino Médio de todo o país apresentaram suas experiências no mundo científico.
Ricardo Castro de Aquino, por exemplo, sempre que ia de ônibus para a escola ficava impressionado com o volume de fumaça lançado pelo escapamento do veículo. “Eu via aquela fumaça toda e resolvi estudar os malefícios dela”.
O resultado de seu interesse foi a criação de um filtro automotivo separador de poluentes.
O filtro em si não é novidade. O equipamento já existe no mercado, mas a um preço médio de R$1 mil. Além disso, segundo ele, esse modelo retém apenas 40% dos poluentes e exige manutenção semanal.
Já o invento de Aquino, que já foi aprovado pelo Inmetro, está sendo vendido por R$120, retém 86% da poluição e a manutenção pode ser feita a cada dois meses.
O estudante destaca outro diferencial. “O produto do concorrente não deixa claro ao consumidor qual o destino da fumaça. Já o meu possui um recipiente onde os resíduos são transformados em pó e armazenados”.
Durante a manutenção, o pó armazenado é extraído e pode ser reutilizado na fabricação de pneus. “Um recipiente cheio dá para produzir um pneu de automóvel,” comemora ele.
Planos para 2012
Desde o início, a meta do estudante foi desenvolver um meio renovável não só para reter a fumaça poluidora, mas também para poder utilizá-la com outros fins.
Ele explica: “Não adiantaria nada reter a fumaça e depois despejar os resíduos no meio ambiente”.
A invenção de Aquino fez tanto sucesso que ele decidiu abrir uma empresa para comercializar o produto. “Hoje eu não posso atender a demanda nacional, mas no próximo ano estou planejando distribuir para todo o país”, afirma.
O projeto, que começou a ser desenvolvido no Centro de Ensino Médio 404 de Santa Maria, em Brasília, rendeu a ele o 1º lugar do prêmio Jovem Cientista no ano passado, na categoria Ensino Médio.
Na mesma categoria, outro estudante selecionado foi Cleiton Cristiano Spaniol, que iniciou seu projeto na Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul.
Depois, no curso de Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), ele aprimorou sua ideia e desenvolveu um sistema de redirecionamento de água em aquecedores a gás de passagem.
Traduzindo: criou um mecanismo que libera a água do chuveiro apenas quando ela está aquecida. Isso faz com que aquela água fria que cai, assim que a ducha é ligada, vai direto para um reservatório na residência.
De acordo com o estudante, isso representa uma economia de 15% do consumo global de água de uma casa. Numa das residências pesquisadas, o desperdício foi de 5 litros. Na outra, 23. Segundo Spaniol, essa média pode chegar a 12 litros por banho.
Mesmo ainda faltando alguns testes em relação a durabilidade e manutenção, o invento do futuro engenheiro é um avanço importante na redução do gasto de água e na viabilidade econômica.
O preço estipulado do dispositivo é de cerca de R$200. Valor que, na opinião do estudante, é compensado em três anos com a economia gerada. “Você está evitando o desperdício de água e, consequentemente, pagará menos por ela”.
Água pura e limpa
Outra iniciativa em relação ao uso consciente da água veio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão.
Ao perceber que a água potável que saía da torneira continha muitos germes e bactérias, a estudante Kássia Fernanda de Oliveira, juntamente com os colegas Gabriel Carvalho Gomes, Sâmara da Silva Meireles e Fábio José dos Santos, começou a desenvolver mecanismos alternativos para tratamento de água, com o intuito de sensibilizar as crianças da região.
A estudante comenta que visitou vários bairros carentes da cidade e realizou diversas atividades lúdicas, como oficinas de pintura e desenho, para despertar a consciência da população.
Com isso, as crianças aprenderam a montar o tubo UV. Dispositivo que consiste em um tubo de PVC, com uma lâmpada ultravioleta instalada, por onde a água passa e os raios UV eliminam 99,8% dos germes e bactérias.
Kássia explica que a intenção foi orientar e informar as crianças para que elas pudessem se transformar em multiplicadoras desse conhecimento, passando essas informações para sua família e comunidade. “No final da pesquisa, muitas crianças passaram a entender que, para ser consumida, a água tinha que estar tratada. Elas não tinham essa visão antes”, arremata a estudante.
Muitas atrações para pouco interesse
Além da presença dos estudantes premiados na edição 2010 do Jovem Cientista, o público juvenil também contou com uma programação variada na SBPC Jovem.
Segundo a coordenadora geral do evento, Sandra de Fátima Oliveira, professora da UFG, “a intenção foi despertar entre os alunos o interesse pela ciência ou até mesmo descobrir sua vocação”.
Com essa proposta foram realizadas oficinas, palestras e exposições. E também foi montado o Circo da Ciência, que reuniu expositores de diversos Estados e onde os jovens tiveram a chance de aprender, de forma alegre e descontraída, os difíceis conceitos de Química, Física, Matemática, entre outros.
Mas, contrariando as expectativas dos organizadores, o interesse do público local foi pequeno. “Nós percebemos que a maior movimentação era dos estudantes de outras regiões brasileiras, que vieram para o encontro da SBPC”, diz Sandra.
Para ela, um dos motivos que justificam o desinteresse da comunidade goianiense foi a data de realização do evento, que coincidiu com as férias escolares.
Uma nova chance
E para os estudantes que se interessarem em participar do prêmio Jovem Cientista, um aviso: as inscrições para a edição 2011 estão abertas até o dia 31 de agosto.
O prêmio é aberto a alunos do Ensino Médio até a pós-graduação. O tema proposto para os trabalhos no próximo ano foi “Cidades Susten-táveis”.
Os projetos concorrem em quatro categorias: Graduado, Estudante do Ensino Superior, Estudante do Ensino Médio e Mérito Institucional, que destacará duas instituições: uma de nível Médio e outra de Ensino Superior. Será selecionada aquela que apresentar o maior número de trabalhos este ano.
O prêmio oferecerá ainda Menção Honrosa para um pesquisador doutor, que tenha realizado trabalho relevante com enfoque no tema do prêmio.
Pouca presença de goianos
Além de prêmios em dinheiro, que varia de acordo com a categoria, os vencedores também receberão bolsas de estudo do CNPq.
Já os pesquisadores classificados em primeiro lugar ainda participarão da próxima reunião anual da SBPC, que ocorrerá em 2012 na cidade de São Luiz, no Maranhão.
Em nível nacional, a participação dos estudantes goianos ainda é pequena, conforme destaca a analista do CNPq, Rita de Cássia da Silva. Para aumentar o interesse pelo prêmio, durante a SBPC Jovem em Goiânia, foi realizada uma campanha para maior divulgação do prêmio.
Para acessar o regulamento do prêmio Jovem Cientista ou saber mais detalhes sobre o assunto, acesse o site www.jovemcientista.cnpq.br.