Elite é maioria na UFG

Relatório comprovou predominância das classes “A” e “B” nas universidades federais. Média goiana supera a nacional
Relatório socioeconômico e cultural, divulgado ontem, fez um raio X dos estudantes de instituições de ensino superior no Brasil. O levantamento comprovou o que muitos já sabiam; a predominância das classes “A” e “B” nas universidades federais. Elas são 56,32% dos alunos, contra 43,67% das classes “C”, “D” e “E” juntas. Na Universidade Federal de Goiás (UFG), a situação não é diferente e chega superar a média nacional. Na instituição, 58% dos alunos pertencem à elite goiana. Pouco mais de 40% são pessoas que estão nas três últimas classes. Na região Centro-Oeste, quando também é avaliada a condição econômica do universitário, a classe “A” se destaca ainda mais, tendo 22,06% de todos os discentes.
A Universidade Federal de Goiás (UFG) também fica a frente da média nacional do estudo, quando é pesquisado o local onde seus alunos estudaram. Enquanto a média brasileira é 49,6% de estudantes oriundos de escolas privadas, a UFG tem 51,9%, em média. Sobre a raça, cor e etnia, a instituição, assim como índice nacional, fica em 53% de universitários da raça branca.
A UFG não tem um levantamento sobre a quantidade de alunos das famílias elitizadas que estão nos cursos mais concorridos, mas diz que eles são maioria em medicina, em todas as engenharias, odontologia, veterinária e direito. Um dado da UFG, que supera o nacional, é o número de alunos que estão matriculados e que têm de 18 a 24 anos. O índice brasileiro é de quase 74%, enquanto na federal goiana essa faixa etária representa 80% dos alunos locais.
A pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior (Andifes), foi realizada em 2010, e entrevistou 414 dos 17.439 estudantes matriculados na UFG. O estudo revelou também que, apesar da dominância dos filhos de famílias “A” e “B”. A classe “C” conseguiu aumentar sua participação em 2,5% no ranking.
Apesar da elite ser maioria, a UFG alega que vem trabalhando para reverter essa situação. Atualmente ela reserva 20% das vagas para alunos cotistas. O reitor da instituição, professor Edward Madureira Brasil, diz que aos poucos esse número tende aumentar. “A pesquisa foi realizada quando os programas de inclusão tinham apenas dois anos. Ainda não temos alunos bolsistas nos anos finais dos cursos. Por isso vamos conseguir equilibrar a distribuição das vagas”, esclareceu o reitor.

Abandono
Ele ressalta que é preciso incluir, mas também existe a necessidade de manter o aluno na UFG. De acordo com o levantamento da Andifes, o índice nacional de trancamento de matrícula é de 12,4%, enquanto na Federal de Goiás os abandonos chegam à média de 30%. Esse fato é comum nos cursos de Licenciatura, nas Engenharias - por dificuldades de acompanhamento, além da condição financeira que pesa muito no momento de decidir a permanência, mesmo sendo uma instituição gratuita.
Para tentar manter os alunos na universidade, o reitor diz que é necessário aumentar os programas sociais, como bolsa permanência, bolsa alimentação, bolsa transporte e serviços de saúde. A necessidade de se investir mais nesses programas é visível na pesquisa Andifes, que tem 15% dos alunos brasileiros com participação no bolsa alimentação, 11% usam o bolsa permanência e outros 10% necessitam de auxílio transporte.
O transporte é um ponto decisivo na hora do aluno confirmar a permanência ou não nos estudos. Isso porque boa parte dos que cursam ensino superior em uma instituição federal usam transporte de massa. Dos estudantes da UFG, 45% moram entre 11 e 50 km da instituição, e, para chegar ao local de estudos, os alunos, em sua maioria, usam o transporte público. São mais de 40% dos discentes que precisam usar os coletivos, contra 34,78% que têm condução própria.

Assistência
De todos os estudantes da UFG, chega a 26% o número dos que precisam de assistência. Só para no bolsa permanência são 11% deles, mas o reitor Edward Madureira Brasil afirma que esse número precisa dever ser outro. “O ideal seríamos atingir os 20% para esse programa. Em todo o Brasil, seria necessário investir R$ 1 bilhão para prestar a assistência que precisa ser feita aos alunos, e assim evitar a saída das classes menos favorecidas”, concluiu o reitor.
O estudante do curso de Engenharia Civil, da Universidade Federal, Uiatan Nogueira se encaixa em parte da pesquisa da Andifes. Ele diz que pertence à classe “B1” e reconhece que ter estudado em escola particular fez a diferença na hora de entrar na universidade. O estudante vai para a faculdade de ônibus. Isso acontece porque na hora de ir estudar não tem ninguém em casa que possa leva-lo à UFG. “Por enquanto vou de ônibus, mas assim que eu conseguir tirar minha CNH eu vou de carro mesmo”, revelou o futuro engenheiro civil.

OBJETIVO
O levantamento da Andifes tinha como objetivo mapear a vida social, econômica e cultural dos estudantes de graduação presencial das universidades federais brasileiras. Além disso, visa aprofundar o conhecimento sobre quem ocupa o banco da faculdade e criar indicadores para formular política de equidade, acesso e assistência estudantil. A Andifes pretende apresentar, ao governo federal, numa próxima audiência com a presidenta da República, Dilma Rousseff, uma proposta de diretrizes para a política de estado de expansão das Universidades Federais. Essa política considerará vários fatores, entre eles, a assistência estudantil.
Uma novidade desta pesquisa, além dos dados físicos obtidos no relatório, é o Sistema de Informação do Perfil do Estudante (SIPE-Brasil), através do site www.sipe.ufms.br, onde qualquer indivíduo, por meio de senha, poderá obter informações nacionais e regionais das IFES ou especificamente a respeito do estudante de graduação presencial de determinada Instituição.