[UFG] O perigo das queimadas urbanas (Tribuna do Planalto, 07/08/11)

O perigo das queimadas urbanas

Focos de incêndio nas regiões metropolitanas avançam em agosto e geram preocupações por favorecerem o aparecimento de doenças

Sara Cassiano e Clenon Ferreira Estagiário do convênio Tribuna/PUC-GO

 

 

Um dano para a saúde da população as quei­madas urbanas cresceram 70% em agosto em relação aos meses anteriores. Só na primeira se­mana do mês, foram registrados mais de 20 focos de incêndios na região metropolitana. De janeiro até julho, em todo o Estado foram registrados 155 focos de incêndios. Mais perigoso nas cidades do que na zona rural, os incêndios liberam partículas tóxicas com a combustão do lixo, pneus e plásticos.
Segundo o capitão Renato Mendes da Silva, do Corpo de Bom­beiros de Goiânia, os incêndios urbanos quase sempre começam pela ação dos moradores de regiões próximas. “O excesso de lixo nas ruas e nos terrenos baldios facilita a propagação do fogo.”
É muito comum focos de incêndio em terrenos onde há  recicladores de lixos, que queimam as sobras dos materiais, quei­madores de pneus, matagais que ficam em acostamentos e, em locais, em que o ca­pim roçado fica acumulado.
Uma das principais problemáticas de Goiânia, segundo o capitão Renato, é a insuficiência das ações da prefeitura diante do elevadíssimo número de terrenos com matagal e lixo sem calçada. A região do residencial Vale dos Sonhos, por exemplo, é uma das áreas mais afetadas pelos incêndios urbanos. O bairro é próximo de parques ecológicos, e há perigo do fogo se alastrar.
De acordo com ele, a situação da região é preocupante porque tornou-se rotineira as chamadas para atender incêndios na área. Para o biólogo Marcos Fernandes, os incêndios urbanos, antes de tudo, são um problema de educação pública. “Concorrem pa­ra a situação problemática, fatores como miserabilidade de ampla parcela da população, hábitos arraigados, falta de esclarecimentos quanto à ilegalidade e conseqüências dessa prática, falta de campanhas permanentes nas mídias, e principalmente falta de vigilância e fiscalização.”
Fernandes diz que a queimada urbana é uma fonte de poluição evitável, por isso a educação ambiental é fundamental na questão. “Cremos que o combate intensivo às queimadas urbanas seja uma medida profilática, de baixo custo e alta eficácia. Portanto, já tarda a participação dos poderes públicos, com ações preventivas de caráter efetivo.”
Para o biólogo, as práticas alternativas de ações ecológicas devem sempre ser lembradas à população, para o desenvolvimento educativo e redução de atitudes irregulares. “Devemos sempre ter em mente a redução do desperdício, reaproveitar sempre que possível, não despejar resíduos incinerável em locais que terceiros possam por irresponsabilidade ou ignorância, atear fogo.”

Destruição
De acordo com o La­bo­ra­tó­rio de Processamento de Ima­gens e Geoprocessa­mento da Universidade Federal de Goiás, de 2002 a 2010, a área queimada no Cerrado cresceu aproximadamente 146,2%. Em nove anos, passou de 59,5 mil quilômetros quadrados para 146,5 mil.
Para o superintendente da Uni­dade de Preservação da Se­cre­taria do Meio Ambiente e de Recursos Hí­dricos (Se­marh), Leo­poldo de Castro, os parques estaduais são os que mais precisam de viabilização. “Te­mos que ficar mo­ni­torando os parques para que não haja grandes incêndios, como no Parque Na­cional das Emas.”
No ano passado, o Parque Nacional das Emas perdeu 90% total área. Só em agosto, o Cor­po de Bombeiros registrou 259 mil focos de queimadas.  Segundo o capitão Renato, entidades ambientais de todo o país estão em alerta amarelo este ano. “Não podemos perder mais nada do nosso cerrado. Ainda estamos preocupados com o danos do ano passado no Parque das Emas.”

Sob controle
Uma queimada controlada às margens do Parque Esta­dual Al­tamiro de Moura Pa­checo, no trecho entre Aná­polis e Goiâ­nia, na BR-060, foi realizada pela Semarh, na se­mana passada, para criar um isolamento entre a rodovia e a mata. O método ajuda a prevenir a queima indevida de componentes inflamáveis.
De Castro vê os números de focos de incêndios reduzidos como um avanço nos trabalhos dos bombeiros e da Secretaria do Meio Ambiente. “Em julho de 2010, os números de incêndios em vegetação de Goiás apontavam 765 focos. Este ano, os dados estão bem menores, apenas 448 focos.”
A Semarh,  juntamente com o Corpo de Bombeiros e o Ins­ti­tuto Chico Mendes, co­meçou uma campanha de prevenção no início do se­mestre. O objetivo, segundo De Castro, é tentar reeducar a população para os problemas causados no meio am­biente. “O trabalho de conscientização ajuda na preservação do cerrado e de toda a sua fauna. Além disso, o problema das queimadas reflete na saúde pública.”


Fogo em Goiás
448 focos em julho de 2011
765 focos em julho de 2010
25% foi a redução das queimadas neste ano em relação a 2010

De janeiro a é julho
155 focos em Goiás

Primeira semana de Agosto
20 focos na região metropolitana
30 focos no Estado

Rastro de destruição
146,2% foi o aumento da área queimada no Cerrado de 2002 a 2010
A área queimada saltou de 59,5 mil km2 para 146,5 mil em nove anos
90% das áreas do Parque das Emas foram queimadas
259 mil focos foram registrados no parque em 2010

Zonas de alerta na Capital
Entorno de Goiânia
Residencial Vale dos Sonhos

Áreas de risco
Locais de reciclagem de lixos
Queimadores de pneus
Capinzais e matagais
Acostamentos
Áreas abandonadas
Lotes baldios


RefleO perigo das queimadas urbanas

Focos de incêndio nas regiões metropolitanas avançam em agosto e geram preocupações por favxos para saúde
Aumentam os problemas respiratórios
Crises alérgicas
Asma
Bronquite
Renite
Gripes
Resfriados
Infecção pulmonar
Queimaduras
Inflamação nos olhos
Irritação na mucosa
Tosse crônica

60% é a média de aumento nos atendimentos clínicos em postos de saúde e pronto socorros por causa
das doenças respiratórias nos
períodos de seca

Fique atento
Tome bastante líquido
Faça compressas frias ou geladas para irritação dos olhos
Use soro fisiológico para irritação no nariz
Mantenha-se afastado das áreas de queimadas, evitando fumaça

Fontes: Semarh, Corpo de Bombeiros, Ambulatório Municipal de Queimaduras e UFG


Poluentes no ar aumentam incidência de doenças

A fumaça das queimadas lançadas no meio ambiente causa prejuízos ao organismo. Em especial, nos meses de inverno, quando o tempo fica mais seco, a baixa na qualidade do ar favorece o aparecimento de doenças respiratórias.
A demanda em hospitais pelo tratamento de nebulização, no inverno, aumenta em média 60%. Isso sem falar que a inalação desses gases irrita a mucosa e aumenta as chances de contaminação por virose, infecção pulmonar e tosse crônica. Além de causar inflamação nos olhos.
As queimaduras e acidentes de trânsito também são frequentes. O problema acontece porque durante a queima de lixo ou mato centenas de gases tóxicos são liberados na atmosfera. Entre os gases poluentes está o monóxido de carbono, um dos mais nocivos à saúde humana e à camada de ozônio.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, no mun­do, a fumaça produzida pela queima de lenha, carvão, gravetos e rejeitos, provoca a morte de três pessoas por minuto, em média, num total de 1,5 milhão de pessoas to­dos os anos.
Outra preocupação das queimadas é que, nesta época, a concentração de poluentes liberados pela fumaça é ainda maior, pois as chuvas e os ventos não ocorrem com frequência e isso torna os ambientes perfeitos para disseminação de vírus e bactérias.
Para o professor de medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), o pneumologista Marcelo Rabahi, qualquer pessoa está vulnerável às complicações que podem advir dos poluentes que são emitidos pelas queimadas.
O pneumologista explica que todas as fumaças contêm substâncias químicas nocivas, capazes de provocar desconforto, mal estar, múltiplas doenças às pessoas.
Segundo ele, porém, os que mais sofrem são os que já têm problemas respiratórios, como asma, bronquite, por exemplo, ou os que já estão debilitados por uma outra doença. Estes, alerta, devem ter mais cuidado, evitando o contato com a fumaça.
Outro alerta sobre as consequências da prática das queimadas urbanas vem da diretora geral do Ambulatório Mu­nicipal de Queimaduras, unidade da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Aparecida Cri­sóstomo de Castro Pádua.
Aparecida diz que o ambulatório recebe diversos pacientes com queimaduras por queima de mato ou lixo do­méstico, uma prática muito comum nos pequenos municípios ou em bairros mais afastados dos centros da cidade.
Segundo ela, as queimaduras podem acontecer mesmo depois que o fogo já tenha cessado. “O próprio calor produzido pelo fogo nestas áreas queimadas pode provocar queimaduras”, esclarece.
A diretora enfatiza que pessoas com queimaduras profundas podem correr sério risco de morte. Segundo ela, quanto maior a extensão, maiores os perigos, por isso, é necessário procurar ajuda médica o quanto antes.
“Cada tipo de lesão precisa de um tratamento específico. Um mesmo paciente po­de a­presentar queimaduras de terceiro, segundo e pri­meiro graus. Nesses casos, a procura por médico especialista em queimadura é indispensável”, reitera.
Cuidados
De acordo com a diretora geral do Ambulatório Muni­cipal de Queimaduras, Apare­cida Crisóstomo de Castro, a melhor fórmula para evitar qualquer dano à saúde é mesmo a prevenção.
No caso de queimaduras, segundo ela, os acidentes acontecem em maior número com crianças, principalmente em casa. “E nas queimadas, o melhor é ficar longe dessas áreas, mesmo depois que o fogo já se apagou.”
A dica do pneumologista Marcelo Rabahi em caso de irritação nos olhos é fazer compressas de água fria ou gelada. Para o nariz, o ideal é o uso do soro fisiológico. Em todos os casos beber bastante água.