[UFG] Sempre fui artista (O Popular, 18/08/11)
'Sempre fui artista'
18 de agosto de 2011 (quinta-feira)
No alto e acima, fotos da artista Suyan de Mattos (retratada na primeira imagem), que compõem a instalação Hades das Artes, que ela inaugura hoje na Galeria da FAV/UFG, no Câmpus 2 da universidade. A arte representa a vida para Suyan de Mattos e sua formação em História está sempre presente, seja na inspiração, seja na criação de uma autêntica arte contemporânea. De Brasília, antes de chegar a Goiânia para a abertura da exposição, Suyan falou dessa nova fase em entrevista ao POPULAR, intermediada por telefone pela mãe dela, Adir Sant'Anna, com quem mora desde que adoeceu. Veja trechos da entrevista:
Como você define essa sua nova exposição?
Como sempre me defini: uma artista contemporânea. O título da exposição está envolvido com o sepultamento da obra-cubo do artista Sol Lewitt. Eu faço o seu processo ao contrário, eu a exumo e o nome Hades das Artes está aí, necessito entrar no submundo para poder resgatá-la aqui em Goiânia, Brasil, já que ela foi sepultada na Holanda há 43 anos.
A mostra decorre de um outro momento, em que você fez uma performance que gerou as imagens. Como foi esse processo?
Foi bastante gratificante, pois consegui lograr a exumação: pedi ajuda ao submundo e ao rei Hades, o rei da mitologia grega do submundo, irmão de Zeus.
O que as fotografias mostram?
As fotografias do artista Sol Lewitt mostra o sepultamento de um cubo em 1968 e eu mostro uma exumação deste cubo em 2011.
De onde veio a inspiração para esses trabalhos?
A partir da leitura do livro de Georges Didi-Huberman, em O que Vemos, o que Nos Olha.
Seu envolvimento com a arte vem da infância? Quando se descobriu artista?
Sempre fui artista. O artista não precisa se descobrir, ele nasce artista.
O que a arte representa pra você?
Vida.
Como você se define dentro da arte contemporânea? Acredita que seu público se sente tocado quando você expressa sentimentos nas obras?
O artista visual e o público, qualquer que seja e em qualquer exposição, sempre terão algum sentimento, mesmo que de repulsa.
Sua arte costuma causar entranhamento. Como você se sente com essas reações? É proposital?
Algumas vezes, sim. Sinto que alcancei, não é proposital, pois a minha arte é uma expressão dos conceitos com que eu trabalho.
Sua vida pode ser dividida em antes e depois da encefalomielite que trouxe limitações ao seu cotidiano? Além das perdas físicas, o que mais essa experiência provocou? Você se considera uma sobrevivente?
Para qualquer ser humano que tenha tido um atropelamento na vida, sempre terá uma divisão. Estou sobrevivendo como todo o mundo sobrevive.
Como sua arte foi modificada ou influenciada pela doença? Você utilizou a doença ou o que viveu com ela como um novo instrumento de criação?
Não trabalho com a minha doença na arte, são dois blocos distintos.
O que aprendeu com tudo isso? Como foram os dias no hospital de reabilitação?
Aprendi que realmente adoro viver e os meus dias no hospistal Sarah Kubitscheck foram de um novo aprendizado para a vida física.
Como foi a adaptação?
Rápida e boa.
E como tem sido a participação da sua família nessa nova vida?
Maravilhosa, como sempre foi.
Sua formação em história é relevante na criação da sua obra?
Claro, sempre uni história com arte.