Violão autoral

A carreira de Yamandu Costa, desde que ele se tornou conhecido no início dos anos 90 como o jovem gaúcho virtuose do violão, tem sido tão produtiva e intensa que chega a assustar a informação de que ele está lançando seu primeiro disco solo no Brasil somente agora. Mas é isso mesmo. O violonista apresenta em Goiânia seu primeiro trabalho individual, Mafuá, depois de ter registrado tantas outras parcerias bem-sucedidas com vários artistas em outros discos. Serão dois shows no Centro Cultural UFG, hoje e amanhã, sempre às 21 horas, que farão com que a capital goiana seja a segunda cidade - a primeira foi Brasília, segunda-feira - a receber a turnê de divulgação que rodará o País.

A história de Mafuá é bastante significativa para demonstrar a efervescência criativa e a inquietação de seu autor. Revelado no meio instrumental ao se apresentar pela primeira, aos 17 anos (hoje ele tem 37), em um show do Circuito Cultural Banco do Brasil, Yamandu é daqueles músicos que entram em transe, de tão entranhados na música quando tocam, que parecem ter a certeza de que nada mais existe ao seu redor. Característica alucinante que mantém também quando está em processo de composição. Não é incomum, por exemplo, que ele produza em um mesmo ano quatro discos, como revelou já ter feito neste ano, em entrevista ao POPULAR (leia nesta página) .

Com tanta inquietude criativa, o músico acaba ficando com muitos trabalhos estagnados, à espera de uma brecha na agenda para chegar ao público. Foi o caso do primeiro disco solo, cuja criação começou ainda em 2005. Nesse ano, Yamandu se apresentava em um pequeno festival no sul da Alemanha, quando caiu nas graças do também violonista, produtor e engenheiro de som Peter Finger. O integrante da plateia ficou impressionado com o que viu e ouviu. "Tudo naquele jovem violonista parecia estar em perfeita sintonia: técnica, musicalidade, groove, humor e uma exuberante alegria ao tocar. Foi um dos concertos mais impressionantes a que já assisti", anotaria ele mais tarde.

Ao final da apresentação, Finger convidou Yamandu para participar do Open Strings Festival em sua cidade, Osnabrueck, também na Alemanha, e gravar um CD em seu estúdio-casa. Com a agenda lotada, Yamandu só pôde responder ao chamado dois anos mais tarde, em 2007. A ideia era que o disco fosse lançado na Europa, sob os cuidados de Finger - o que efetivamente ocorreu -, e no Brasil, por conta do próprio Yamandu. Mas em solo brasileiro os compromissos se avolumavam tanto que o disco está saindo somente agora, três anos depois.

Bem recebido

O resultado da incursão alemã, que agora pode ser conferido pelos brasileiros sob o selo Biscoito Fino (preço médio: 35 reais), é um álbum instrumental sofisticado, que vai do choro ao samba, passando por ritmos como o tango. Assim como já havia ocorrido na Europa, aqui também o disco tem sido muito bem recebido, embora seja visto com tom de modéstia pelo próprio autor. "É um disco honesto, que retrata bem uma época marcante da minha carreira. As influências, os tipos de ritmos são os mesmos de agora, mas hoje estou bem mais maduro", compara Yamandu. O álbum que foi gravado em três dias de muito frio na Alemanha revela a faceta autoral do músico. O trabalho rendeu mais do que esperava o próprio Finger, que conhecia Yamandu então somente como intérprete. Nos dois anos que antecederam à gravação, entre o convite e a viagem definitiva para a Alemanha, Yamandu montou o repertório com calma. "Eu vinha trabalhando há muito tempo nestes temas. Demorou para eu pensar em um disco solo, leva um tempo até que você tenha tranquilidade para gravar", recorda-se.

Das 13 músicas, apenas três não são dele: a faixa-título Mafuá (Armandinho Neves), Quem é Você (Zezé Gomes) e Lalão (Lalão). Dele, compõem o disco El Negro Del Blanco , Elodie (homenagem à mulher, Elodie Boundy, também instrumentista e coprodutora do disco), Samba Pro Rafa , Bachbaridade , Bostemporânea , Choro Loco , Caminho de Luz , Zamba Zuerta , Ressaca e Tipo Bicho .

Por expor escancaradamente - e bem - sua faceta autoral, Mafuá é praticamente um divisor de águas da carreira que começou despretensiosamente na interpretação de músicas folclóricas sulistas. Algo que mudou bastante depois que ele passou a se inspirar na obra de músicos com toques de genialidade como Radamés Gnatalli. Intuitivamente ou não, Yamandu segue no rumo para se tornar um deles.
Show: Yamandu Costa - Lançamento do álbum Mafuá
Datas: Hoje e amanhã, às 21 horas
Local: Centro Cultural UFG - Praça Universitária, Setor Universitário
Ingressos: R$ 40 (inteira)
Vendas: Livraria UFG (Centro de Convivência - Câmpus Samambaia e Faculdade de Educação - Setor Universitário) e Restaurante Tribo
Informações: 3521-1035 e 3521-1329 (UFG)