Adeus ao professor Egídio

Em 2003, ao fazer uma reportagem especial para o POPULAR, conheci o professor Egídio Turchi e sua mulher, a também professora Celenita. Fui recebido no apartamento deles próximo à Praça Cívica. Melhor dizendo, eles me acolheram com uma educação e uma doçura impressionantes. São incontáveis as vezes que ouvi de pessoas totalmente diferentes a mesma opinião sobre o casal. Um legado que não se apaga.

Ontem, coube a mim apurar a notícia da morte desse homem que tanto fez pela educação em Goiás. Ele não resistiu a um câncer descoberto recentemente, mas que já havia se alastrado. Morreu no final da manhã, no Hospital Santa Helena, após dois dias de internação. O velório, no Cemitério Jardim das Palmeiras, começou no final da tarde de ontem e o sepultamento está marcado para hoje, às 9 horas.

Ao saber da morte do professor Egídio, que havia completado 90 anos de idade, lamentei muito, mas também pensei o quanto sua vida valeu a pena, quantas sementes que plantou e que deram frutos. O professor Egídio, que lecionou nos cursos de Direito da Universidade Federal de Goiás e no de Filosofia da Universidade Católica de Goiás e que foi um dos principais responsáveis pela criação da Faculdade de Letras da UFG, foi um homem de ideias e de ação. Pensou e realizou.

Egídio Turchi nasceu na Itália, na pequena aldeia de San Benedetto in Alpe, próximo a Florença. Ele gostava de contar que a casa onde veio ao mundo e que permaneceu com a família foi o mesmo imóvel onde, em 1290, o poeta Dante Aliguieri, envolvido em um escândalo político e fugindo de Florença, passou uma noite, já que o mosteiro próximo não quis lhe dar pouso. O autor de A Divina Comédia se vingaria daqueles religiosos incluindo-os em sua obra-prima, no Canto 16 , do Inferno .

Com 15 anos de idade, Egídio migrou para o Brasil, após ter recebido educação religiosa em Turim. Sua missão evangelizadora tinha como destino o interior do Brasil. Até chegar a Cuiabá, foram 40 dias de jornada. "Desde o primeiro dia em que pisei nesta terra, sabia que viveria aqui o resto da vida. Nunca pensei em voltar", declarou o professor ao POPULAR, na reportagem especial sobre sua vida.

Depois de andar por vários locais do Centro-Oeste e de lidar com índios selvagens, Egídio deixou a missão religiosa por perceber a falta de vocação e veio para Goiânia, onde chegou em 1944. Seus primeiros empregos foram como professor em colégios católicos da jovem capital, como o Santo Agostinho e o Santa Clara. Em 1951, casou-se com Celenita Turchi, com quem teve quatro filhas biológicas - as médicas e professoras Marília e Celina, a socióloga Lenita e a professora de Letras Maria Zaíra -, e adotou mais dois filhos - Zezinho, que administra a fazenda da família, e a estudante Lúcia. Os seis filhos do casal deram-lhe 11 netos e 1 bisneto.

Em 1962, professor Egídio participou ativamente da criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UFG, que viria a se tornar a principal referência em estudos literários no Estado. O prédio da faculdade tem um auditório com seu nome. Sua filha Maria Zaíra Turchi dirigiu a instituição e atualmente é a diretora da Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás (Fapeg). Egídio também foi o primeiro presidente do Conselho Estadual de Educação.

Para além dos cargos que ocupou e das homenagens que recebeu, o professor Egídio era um grande contador de histórias. Permaneceu lúcido até o fim e, dono de ampla cultura, sempre tinha o que dizer nos mais variados assuntos. Alguns anos atrás, sofreu grave acidente de automóvel juntamente com a mulher Celenita, mas se recuperou. Bem-humorado, engraçado e polido, Egídio era alegre, bom de papo e tinha um olhar vívido, sempre pronto a aprender. Deixa grandes lições de vida.