Os anos 80 estão de volta
Robocob, Os Smurfs, Caça-fantasmas, Chucky, He-Man e mais um emaranhado de personagens ícones da década de 1980 ressurgem e provocam êxtase e nostalgia na geração que viveu e acompanhou as produções cinematográficas da época.
De acordo com o crítico de cinema Carlos Alberto Mattos, desde a década de 1980, a quantidade de remakes tem aumentado em mais de 90%. Só no ano passado foram feitos 10 mil filmes produzidos por grandes indústrias de cinema dos Estados Unidos.
Os críticos afirmam que os remakes hollywoodianos são resultado da insuficiência dos roteiristas e diretores na capacidade de criação. Outros acham que as produções refeitas são uma forma de prestigiar os queridos anos 80. O caso vai mais além. Os estudiosos dizem que Hollywood quer lucrar facilmente com produções que deram certo no passado.
Rodrigo Cássio de Oliveira, mestrando em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG), com pesquisa em Cinema Contemporâneo, vê os numerosos remakes como um deslocamento de criatividade. “Os estúdios sempre se serviram da literatura para conceber seus filmes. Agora eles estão refilmando produções de sucesso como fonte para novas realizações.”
Para ele, o cinema se fortaleceu e tornou-se um importante reservatório de memória de imagens na sociedade. Os filmes passam a estar na televisão, internet, carros e celulares multifuncionais. “Hoje, é ainda mais fácil para o cinema homenagear a si mesmo e fortalecer a indústria. Os remakes tornaram-se mais convenientes.”
Alguns filmes já estão em pré-produção, como Footloose e Dirty Dancing, que falam sobre conservadorismo local, rupturas culturais e rebeldia adolescente. Oliveira diz que o remake, até quando tenta ser fiel a obra original, desenvolve temáticas do presente.
“Hoje, o que chamamos de roteiros são cada vez menos importantes. As narrativas perdem força diante da urgência da imagem. O espectador vai ao cinema em busca de uma experiência imediata para os sentidos.”
A mudança de linguagem no cinema, de acordo com ele, é o deslocamento da criatividade dos roteiristas para os editores de imagens. “Na medida em que a originalidade do enredo importa menos, a indústria deixa de buscá-la. As imagens impactantes nos cercam cada vez mais. Como expectadores passivos, consumimos sem nos preocuparmos com a qualidade.”
Doutor em História e professor da Universidade Estadual de Goiás, Ademir Luiz avalia a constante reprodução de filmes populares dos anos 80 como um mecanismo histórico não necessariamente negativo. “Sempre existiu a prática de se fazerem remakes. O premiado Ben-hur de 1959, vencedor de 11 oscars, é o remake de um remake. Existem versões anteriores, de 1907 e 1925.”
O problema, para Luiz, é quando a indústria decide refilmar obras-primas. “Veja o visível caso de Psicose, onde o diretor Gus Van Sant copiou todo o suspense de Hitchcock. Muito barulho por nada.”
Há algumas décadas a mídia cinematográfica era muito mais poderosa, simplesmente porque estava sozinha, segundo Luiz. Hoje o cinema concorre com games, RPG, MP3 e internet. “Um exemplo é o remake de Karatê Kid. Um filme razoável que dialoga com o espectador de seu tempo. Mas não causou impacto cultural algum. O senhor Miyagi ainda é Pat Morita. Jackie Chan, nesse papel, vai para o limbo.”
O doutor afirma que geralmente são os cinéfilos, aqueles que têm forte interesse por cinema, que criticam a prática de se reproduzir filmes. O publico em geral não se importa se o filme é baseado, inspirado ou copiado. “Como muitos remakes não dão certo, os cinéfilos vulgarizam a obra e cria-se a tendência de se rechaçar.”
Luz, câmera, ação
O tão esperado filme Super 8, do diretor J.J. Abrams e produção de Steven Sbielberg revela a presença ativa da década de 80 nos estúdios hollywoodianos. Segundo os críticos, o filme, que estreou em 13 de agosto no Brasil, é a união de Conta Comigo, de 1986, com ET. O extraterrestre, de 1982.
Outras produções, como Os Smurfles e a franquia de Indiana Jones também já saíram para as telas do cinema e foram sucesso de crítica e público. A empresária Renata Atássio, de 30 anos, viveu boa parte da década de 80 e acompanhou os ícones da época, como Caça-fantasmas e He-Man.
Segundo ela, as produções mobilizavam toda a geração de jovens ávidos por filmes de aventura, futurismo e terror. Os filmes da década de 1980 criavam clima de suspense por motivos sociais e históricos. “Era o fim da Ditadura Militar no Brasil. As crianças queriam se divertir e ver filmes de mapas do tesouro, musicais adolescentes e robôs falantes.”
O primeiro filme que Renata viu no cinema foi ET. O Extraterrestre, que chegou ao Brasil anos depois de ser estreado nos Estados Unidos. “O ET marcou tanto minha infância que hoje é meu filme favorito para se fazer um remake. É uma explosão de nostalgia poder reviver Os Smurfs, Batman e Karatê Kid.”
Apresentar as produções oitentistas para a nova juventude não é o principal motivo para a construção dos remakes, segundo Renata. “Antes de tudo, quem mais gosta de ver filmes refeitos é a geração que viu as produções nos anos 80. Apesar disso, é muito bom para essa galera nova poder ter o contato com filmes de outras épocas.”
Hollywood, refrigerante e pipoca com manteiga
Os anos 80 são considerados uma das piores décadas para o cinema, com a morte de consagrados diretores Alfred Hitchcock, René Clair, Luis Buñuel e Orson Welles. Outros cineastas, como Charles Chaplin e Jean Renoir foram um pouco antes, em 1977 e 1979, respectivamente.
As produções ficaram caracterizadas pela produtividade dos Estados Unidos. Alguns de seus filmes são considerados hoje ícones pop da década de 80, como Os Goonies, do diretor Steven Spielberg, Os caça-fantasmas, de Ivan Reitman, e Dirty Dancing, de Emile Ardolino.
Segundo o doutor Ademir Luiz, a possibilidade dos remakes tornarem-se um marco para a geração do século XXI é muito pequena. “A grande indústria que abre centenas de novas salas todo ano que precisam ser ocupadas por filmes menores ou mesmo de teor artístico, entre uma super produção e outra.”
De acordo com ele, diretores como Tarantino, Scorsese e Lars Von Trier só são viáveis porque existem outros cineastas, a exemplo de George Lucas e Spielberg, que produzem filmes para públicos diferentes. “O cinema alternativo nunca esteve tão forte quanto hoje. E os EUA são os maiores produtores de filmes de arte do mundo.”
Em outubro, estreia nos Estados Unidos o remake de Footloose, produção de 1984. O lançamento no Brasil está previsto para novembro. Ainda do mesmo gênero, já foi afirmado por produtores hollywoodianos que Dirty Dancing, de 1987, será refilmado.
Poltergeist também está na ativa para regravações. A produtora audiovisual americana MGM anunciou que além de refilmar o famoso filme de fantasma, irá refazer À Sombra de um Ídolo, de 1980, e Dona de Casa por Acaso, de 1983, além de produzir um novo Hércules.
No mesmo ritmo dos filmes de terror, outra produção que assustou muitas crianças foi o personagem Chucky, da franquia Brinquedo Assassino, iniciada no ano de 1989. O produtor David Kirschner e o roteirista Don Mancini afirmaram nas redes sociais da Internet que fecharam o contrato do remake.
Mancini, que escreveu os cincos filmes da série, revelou que está confirmado na direção e roteiro da refilmagem. Após anos sem uma nova produção, o último filme foi realizado em 2004, o boneco maligno estará de volta em um recomeço da série. Ainda não tem data de previsão para o início das gravações.
Blade Runner
Está definido para dirigir e produzir o clássico Blade Runner: O Caçador de Andróides, o mesmo diretor do original, Tony Scott. O filme é considerado uma das maiores produções Cult da década de 1980, mesclando dramas policiais e ficção-científica.
A versão de 1982 foi protagonizada por Harrison Ford. Ainda não está claro se o diretor fará uma sequência ou um prelúdio da história inspirada no livro de Philip Dick. Outra dúvida é se Harrison Ford retornará ao papel do policial Deckard ou se a produção terá um novo ator.
Blade Runner: O Caçador de Andróides se passa no ano de 2019. Harrison Ford é um detetive que tem a missão de encontrar os replicantes, andróides semelhantes aos homens e usados na colonização de outros planetas. Mas eles acabam se tornando perigosos e se rebelam contra seus criadores. Assim, Deckard é um dos responsáveis por caçar cinco destas máquinas que estão na Terra.
Filmes símbolos dos 80’s que já foram refeitos e que estão em pré-produção
1980
Superman
Os Smurfs
À sombra de um ídolo
1981
Indiana Jones
1982
Blade Runner, o Caçador de Andróides
1983
Dona de casa por acaso
1984
Karatê Kid
Os Caça-Fantasmas
Footloose
Conan
1986
Top Gun – Ases Indomáveis
1987
Dirty Dancing, Ritmo Quente
He-Man
Robocop
1989
Batman
Chucky – O Brinquedo Assassino