143 mil carros velhos pelas ruas de Goiânia

Número de automóveis com mais de 20 anos representa 14,23% da frota da Capital, insegurança para condutor e população
17 de Setembro de 2011 | Por: Wanda Oliveira
da editoria de cidades
O trânsito goianiense está em constante evidência não só pelo número crescente de carros novos e importados que circulam pelas ruas. Basta dar uma volta pela cidade e logo é possível encontrar veículos antigos, alguns conservados, outros que até já deixaram de ser fabricados, como Belina, Chevette e o Fusca. Apesar da renovação diária da frota, a quantidade de carros considerados velhos ainda é significativa na Capital.
Até o início de setembro, 143.886 mil carros com mais de 20 anos de uso circulam na cidade, de acordo com o Departamento Nacional de Trânsito de Goiás (Detran). Isso representa 14,23% da frota, que neste período correspondia a 1.011.011 veículos. O índice diminui drasticamente para 1,48% em relação aos automóveis com mais de dez anos.
No Estado, o número de carros utilitários com mais de duas décadas, incluindo caminhões, camionetas, motocicletas e ônibus chega a 587.723. Carros antigos, às vezes, tornam-se uma preocupação a mais quando vão para as ruas. Costumam quebrar ou enguiçar nas avenidas, principalmente em dias de chuva. Por isso, não basta ter a documentação em ordem se o veículo não oferece o mínimo de segurança ao condutor e à população.
De acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), os veículos irregulares, aqueles que não fazem vistorias, não pagam multas nem arcam como outros  compromissos determinados por lei, representam aproximadamente 30% da frota brasileira. Especialistas de trânsito afirmam que o risco está associado mais ao estado de conservação do que ao ano de fabricação do veículo.
Segundo o diretor técnico do Departamento de Trânsito de Goiás (Detran), Horácio Melo, tem  carro com dois anos de idade que já pode ser considerado velho porque já apresenta más condições de uso devido à conservação. "Por isso, não é a idade necessariamente que vai garantir o fator segurança, mas o cuidado do condutor. A frota não tem limite de idade. A questão é mais visual", diz.
Ele afirma que a maioria dos acidentes de trânsito tem sido provocada por motoristas que não respeitam a sinalização, avançam os semáforos, ingerem bebida alcoólica quando vão dirigir e abusam da velocidade. "São essas imprudências que têm matado, e não a idade da frota." Melo diz que só seria possível tirar os carros que não apresentam segurança das ruas se fosse implantado a inspeção veicular. No Brasil, a inspenção periódica deveria ser obrigatória conforme o artigo 104 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que prevê a avaliação das condições de segurança, controle de emissão de gases poluentes e de ruído dos veículos.
A norma, no entanto, precisa ser regulamentada pelo Congresso Nacional. O projeto de lei que trata do assunto está parado na Casa desde 2001. Em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, esse tipo de vistoria aos poucos está sendo adotado.

POLUIÇÃO
Estado de conservação e itens de segurança são fatores determinantes para garantir eficiência e minimização de impactos ambientais gerados pelo tráfego de veículos. Professor da Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal de Goiás (UFG), Cristiano Farias Almeida explica que carros mais antigos, por mais que estejam em ótimo estado de conservação, não possuem os itens de segurança que os veículos atuais têm, como sistemas de freios eletrônicos, airbag, cinto e trava de segurança.
Ele ressalta que os motores de veículos antigos possuem sistemas de combustão menos eficientes do que os veículos mais novos, os quais permitem menor queima de carbono afetando a emissão de material particulado e consequentemente a poluição atmosférica. "Nesse caso, o ideal seria a utilização de veículos que não usassem combustíveis fósseis", diz.
O especialista cita que grandes empresas automobilísticas já investem em tecnologia para a produção de veículos movidos a hidrogênio, o que resolveria o problema da queima de combustível, que nesse caso não existiria. O material emitido contribui para a poluição atmosférica das grandes cidades brasileiras, além da segurança viária.
Farias diz que no estudo de segurança viária existem três fatores que contribuem isolada ou conjuntamente para a ocorrência de acidentes de trânsito. São os fatores humano, meio ambiente e veículo. Segundo ele, na maioria das capitais brasileiras, o fator humano é a principal causa de acidentes de trânsito, e em alguns casos é responsável por 95% dos acidentes.
Para o professor de Engenharia de Trânsito da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Benjamim Jorge Rodrigues dos Santos, tirar os veículos sem condições de segurança das ruas é uma alternativa, mas o ideal mesmo, segundo ele, seria exigência da inspeção veicular, principalmente para aqueles carros com mais dez anos de uso.
"Essa medida ajudaria, principalmente a tirar do trânsito caminhões a diesel que emitem partículas sólidas e poluem cada vez mais o meio ambiente." Ele acredita que outra saída seria algum tipo de incentivo por parte do governo do Estado. Isenção e descontos, corforme o especialista, ajudariam condutores de carros antigos a trocaren o veículo por um modelo mais novo. Com isso, a expectativa é de que reduza o número de acidentes, embora pequeno, provocados por automóveis mais velhos. "Isso contribuiria para a saúde, o meio ambiente, o trânsito e para o próprio condutor. Outra preocupação é que o diesel brasileiro não é um dos melhores do mundo."

RODOVIAS
Os carros em estado de conservação ruim também prejudicam quem trafega pelas estradas do Estado. De acordo com o chefe de Policiamento da Polícia Rodoviária Federal da Capital, Danilo Miguel de Lima, é comum veículos velhos sem condições de uso enguiçar nas BRs e até há casos em que esses carros causam acidentes.
Mas esse não é o principal problema que a PRF enfrenta em relação aos automóveis com décadas de uso. Lima que informa a falta de habilitação é uma das infrações mais rotineiras. A PRF não disponibiliza de um estudo sobre quantos acidentes e mortes ocorrem nas vias federais provocados por automóveis sem condições de segurança e tráfego.
O chefe do Comando de Policiamento Rodoviário Estadual, tenente Márcio Antônio Siqueira de Oliveira, informa que a corporação está fazendo levantamento do índice  de acidentes com carros velhos nas estradas goianas, já que a frota goiana representa ser uma das mais novas do País. Segundo ele, em média 51% dos automóveis apreendidos nas GOs por mês têm mais de dez anos de uso.
Esses carros são retidos nas barreiras, e quando resolvida a irregularidade, são liberados, conforme prevê a Legislação Brasileira. Caso isso não ocorra, a previsão legal é a de que o veículo deverá ser levado a leilão. Oliveira revela que licenciamento vencido e condutor inabilitado são as principais infrações que levam ao recolhimento dos veículos.