Jornalismo com pesquisa
A Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia (Facomb) da Universidade Federal de Goiás (UFG) lança hoje o segundo livro de sua produção bibliográfica na área de Jornalismo. Intitulada Gêneros e formatos em Jornalismo (Editora PUC, 256 páginas), a obra foi editada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e coletivo de professores da UFG. Trata-se de ação pioneira da Facomb, que tem mostrado fôlego a partir de robusta produção científica.
A instituição do mestrado nas linhas de cidadania e cultura foi a primeira grande vitória da faculdade, que conta com boa avaliação dos institutos públicos e privados de averiguação de qualidade de ensino.
A obra que será lançada hoje a partir das 10h, no Auditório da Facomb, no Campus Samambaia, reúne os atuais professores e antigos mestres da casa para celebrar os 45 anos do curso de Jornalismo. “Antes, o curso tinha poucos professores com pós-graduação, hoje são vários doutores, quase todos com mestrado. Em 45 anos, a evolução técnica profissional é evidente”, diz Juarez Ferraz de Maia, organizador da obra, doutor pela Universidade Sorbonne (França) e coordenador do curso. Ele também assina um dos artigos da publicação, em que aprofundada uma temática comum aos seus estudos, o jornalismo internacional.
Gêneros e formatos em jornalismo traz a produção científica de diversos professores da UFG, caso de Ana Carolina Pessoa Temer, Magno Medeiros, Luiz Signates, Ceiça Ferreira, Rosana Borges, Salvio Juliano, Welliton Carlos, dentre outros. Na obra, questões emergentes como cibercultura, impactos da internet no radiojornalismo, a revolução das redes sociais, teorias de jornalismo, futuro da notícia em um mundo cada vez mais integrado na blogosfera e temas relacionados aos gêneros jornalísticos, como a reportagem e a charge.
O último capítulo traz interessantes observações a respeito da produção jornalística com um olhar de fora da universidade. Para isso, a Facomb convidou os jornalistas Cileide Alves (O Popular), Ulisses Aesse (Diário da Manhã) e José Carlos Araújo (O Hoje) para desafiarem temas relacionados aos formatos e gêneros jornalísticos. O resultado final é obra de referência para estudantes, pesquisadores e público leigo que se interessa pelo Jornalismo. A Facomb trata de tema contemporâneo que diz respeito ao ‘fazer jornalístico’. Conforme a tradição brasileira de estudos de gêneros, o jornalismo pode ser dividido em três grandes áreas: informativo, interpretativo e opinativo.
Um dos textos do livro trata exatamente de uma das manifestações do gênero jornalístico. O jornalista Welliton Carlos, a partir de uma reportagem investigativa e de um ‘fact story’ da Folha de S. Paulo, trata das diferenças estilísticas entre notícia e reportagem. O professor e pesquisador Luiz Signates realiza interessante estudo sobre as fontes de informação, que assumem o furo a partir das redes sociais. Conforme o autor, o furo é mais relevante do que os valores-notícia, adquirindo importância de ‘manchetabilidade’.
Signates cita autores que corroboram a tese de que microblogs como o Twitter esvaziam o furo das redações e popularizam a prática entre os não jornalistas.
Nos estudos voltados para a perspectiva da cidadania, o professor Magno Medeiros, diretor da Facomb, faz registro sobre a prática nefasta de determinadas mídias e ações jornalísticas. Magno cita os ‘olhares estereotipados’, a ‘banalização’, ‘prejulgamento e denuncismo’, a negligência e omissão de fontes, dentre outros males que ferem os direitos de leitores e fontes.
Os jornalistas convidados tratam de seus nichos de trabalho e das crises dentro de uma redação. Enquanto Cileide Alves e José Araújo tratam respectivamente dos processos de mudança, transformação e história dos veículos em que atuam, o jornalista Ulisses Aesse discorre sobre os equívocos mais comuns dentro de uma redação.
História do curso
Em dezembro do ano passado, a Facomb lançou o livro Jornalismo UFG. O documento que resgata histórias e pesquisas do primeiro curso de Jornalismo de Goiás marca o início da produção bibliográfica em livro do curso de comunicação. A organização do primeiro livro também foi realizada pelo coordenador do curso de Jornalismo, Juarez Maia. Ele soube equilibrar entrevistas e pesquisa, fator que oferece níveis diferenciados de leitura para quem deseja conhecer a trajetória do curso e do Jornalismo no Brasil.
Os textos se dividem em curso, diretrizes, reflexões, pesquisa e entrevistas. A maioria dos textos foi confeccionada com uma linguagem de fácil entendimento. O motivo é simples: a proposta inicial era publicar uma revista do curso de Jornalismo. De última hora, porém, os professores optaram por lançar as reflexões em um livro, talvez pela qualidade das argumentações contidas nas páginas. Logo nas primeiras linhas, é possível entender as origens do ensino jornalístico em Goiás. A Associação Goiana de Imprensa (AGI), fundada em 1934, teria lançado as raízes do curso de Jornalismo a partir de debates entre seus diletantes. “Em várias oportunidades, seus dirigentes insistiam, no sentido de possibilitar o ensino de Jornalismo e, assim, melhorar o desempenho dos seus associados”, diz a publicação.
O curso de Jornalismo, porém, saiu do papel apenas em 1966, a partir de uma resolução federal. Logo no primeiro vestibular, afirma o livro organizado por Juarez Maia, 80 candidatos disputaram 30 vagas. Do grupo selecionado, apenas nove fizeram matrícula e cinco se formaram. O livro traz entrevista com o jornalista Reynaldo Rocha, um dos primeiros a sair da faculdade de jornalismo. “Com uma turma pequena daquelas, os professores não tinham muito ânimo. Os próprios alunos foram responsáveis por não ter tido um curso melhor”, diz ele no livro.