[UFG-Fonte] Rede infestada de armadilhas (O Hoje, 03/10/11)

segunda-feira, 03 de outubro de 2011, 08:05

Rede infestada de armadilhas

Katherine Alexandria

 

Vírus, malwares e outras tantas armadilhas invadem os computadores de um milhão de pessoas por dia, segundo pesquisa divulgada pela Norton. O prejuízo soma US$ 388 bilhões, valor superior às consequências com o tráfico de drogas, como a maconha, cocaína e heroína – que, combinadas, segundo a pesquisa, somam US$ 288 bilhões por ano.

O custo com os crimes, incluindo valores roubados e o gasto com a resolução do problema, se aproxima de todo o valor do tráfico internacional de drogas (USS 411 bilhões). Mais de 80% dos brasileiros adultos foram vítimas de crimes cibernéticos no ano passado, segundo a pesquisa.

 

Em Goiás, os casos mais comuns são as fraudes bancárias, com 62 inquéritos em andamento na Polícia Federal. Somente no ano passado, 18 casos começaram a ser investigados. Este ano, até o fechamento desta matéria, foram instaurados 17 inquéritos. Já os casos de pedofilia na internet contabilizam 13 inquéritos na PF, sendo 15 instaurados em 2010 e dez neste ano. 

 

A pesquisa realizada pela Norton revela ainda que as vítimas mais comuns dos cibercrimes são homens adultos em mercados e­mergentes. O número de vítimas é três vezes maior que os crimes ‘offline’ –  cerca de 19% disseram ter sido vítimas de crimes no mundo físico, contra 59% no mundo virtual.

Porém, somente 31% das pessoas acreditam estarem mais propensas aos crimes ‘on-line’ do que no mundo físico. A aposentada Célia Luiza Santos, de 42 anos, faz parte desse grupo – não acreditava que pudesse ser vítima no ambiente virtual. Mas há um ano teve todo o dinheiro de um mês da aposentadoria desviado da conta após acessar o banco pela internet. Até hoje ela sofre as consequências do ataque, que a impossibilita retirar o cartão de acesso à conta bancária.

 

Crimes

Todo mês, a filha de Célia acessava a conta da mãe pela internet para verificar se o pagamento tinha saído. O acesso era feito em uma lan house, sem nenhum problema. Até o dia em que, na página do banco, o número do PIN (número de identificação pessoal ou senha) foi solicitado – procedimento diferente do habitual para Célia, mas que pode ser padrão em alguns bancos e não caracterizar golpe. 

 

“Vimos que o dinheiro estava na conta, fomos ao banco. Quando chegamos lá, não tinha mais o dinheiro”, relembra. O endereço que Célia acessou na internet não era o oficial do banco, seus dados foram interceptados e o dinheiro (490 reais) sacado pelo criminoso. “Só tinha 50 reais, não entendi nada. Mas no extrato vi um saque diferente”, conta.

 

Percebendo o golpe, ela relacionou os aspectos diferentes que notou na página do banco on-line com o sumiço de seu dinheiro. “Fui à delegacia, ‘dei parte’. Depois com a ocorrência preenchi alguns documentos pedindo ao banco para repor meu prejuízo.” O banco repôs. E Célia, hoje, diz que foi um susto que a deixou em alerta com seus dados pessoais.

 

Conferência

Porém, diferente do que ocorreu com a aposentada, menos da metade dos adultos que utilizam a internet (47%) confere a fatura do cartão de crédito ou extrato em busca de fraudes, o que faz com que os prejuízos, quando pequenos, passem despercebidos. Além disso, não existe uma legislação, no Brasil, que garanta a justiça nestes casos. Sendo assim, Célia Santos é uma exceção.

 

Falta de legislação específica

“Só existe boa intenção”, revela o presidente da Comissão de Direito Digital e Informática da Ordem dos Advogados do Brasil seção Goiás, Danilo Rios. Segundo ele, além de não ter legislação – somente projeto de lei –, as investigações dos cibercrimes se baseiam, geralmente, no Código Penal. “Enquadram-se em formação de quadrilha. E as vítimas são amparadas por outros estatutos.”

 

 Rios informa que, por isso, as prisões ocorrem, mas muitos casos ficam sem solução. “Tudo é transmitido pelo computador, estamos na era da informação, precisamos de uma segurança”, opina. Sendo assim, o cuidado com computadores e dispositivos móveis (pendrive, celular, tablets) – consequentemente com os dados pessoais – é indispensável, avalia Rios.  

 

Além de perdas reais com o cibercrime, há também o tempo gasto para solucionar o problema que chega a 11 dias, de acordo com a pesquisa realizada pela Norton. Vírus e malwares (veja quadro) são os problemas mais comuns no Brasil, com 68% dos casos. Invasão de perfis em redes sociais fica com 19% e mensagens de phishing com 11%.

 

Segurança

Segundo o doutor e professor do Instituto de Informática da UFG, Ricardo Couto, o que pode manter os usuários afastados dos malwares é um bom antivírus, sempre atualizado – 41% dos entrevistados pela pesquisa não tinham software de segurança atualizado –, bem como a atualização dos programas e discernimento para não clicar em todo link que promete fotos inéditas de celebridade, por exemplo.   

 

“Os programas atualizados podem manter imunes certos tipos de ataques, já o antivírus é como um remédio”, explica. Nesse aspecto, ele indica que um dos cuidados é não compartilhar informações pessoais em computadores em que não se sabe como está a  segurança, como em lan house e redes públicas de wi-fi. Manter o firewall ligado, clicar somente em links conhecidos também são pontos importantes. 

“Eles (criminosos) usam informações privilegiadas para atacar, como exemplo, mensagens por e-mail logo depois de um terremoto atingir o Japão.” Outras dicas de segurança podem ser acessadas pelo endereço http://cartilha.cert.br.