Representantes de entidades flagram violência policial
Representantes de entidades flagram violência policial
A entrada do Parque Agropecuário Pedro Ludovico Teixeira, no Setor Nova Vila, serviu de palco para o uso da força policial contra moradores de rua, conforme presenciou, na quarta-feira passada, O POPULAR. O presidente do Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Eduardo Mota, e a representante da Pastoral de Rua Maria Madalena Patrício, vinculada à Arquidiocese de Goiânia, contam terem visto o sargento Júlio César Eugênio, de 44 anos, descer de um carro da Polícia Militar (PM) e usar um pedaço de madeira para agredir andarilhos que estavam sentados, no fim da manhã, na área do estabelecimento.
Em seguida, o sargento e mais três militares se dirigiram a um morador de rua de 19 anos, que havia acabado de conversar com a reportagem, para imobilizá-lo, argumentando que o rapaz teria resistido à ação policial. O motivo seria flagrante por suposto porte de drogas.
Cerca de 40 minutos depois, o coronel Amarildo Guerra, comandante do 9° Batalhão da PM, chegou ao local. Os representantes de entidades que atuam em defesa dos direitos humanos reclamaram de um suposto abuso do sargento.
O rapaz foi levado ao 1° Distrito Policial, no Centro. O jovem foi encaminhado à Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC), de onde teria saído por volta das 13h40, conforme o Laudo de Exame de Constatação. Entretanto, os policiais retornaram com o usuário de drogas quase duas horas depois, para registrar o caso, de acordo com Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), apesar de as unidades funcionarem na mesma rua, uma ao lado da outra.
Ao POPULAR, o jovem disse que, após sair da SPTC, os policiais o levaram para um quartel, onde teria apanhado. Diante da suspeita de uma segunda agressão, ele foi levado para o Instituto Médico-Legal (IML), cujo laudo comprova as lesões corporais. Comandante de policiamento da capital, o coronel Sérgio Katayama diz que denúncias sobre abordagem policial devem ser registradas na Corregedoria-Geral da PM, para investigar possíveis abusos.
Especialista em Sociologia da Violência e Direitos Humanos, o sociólogo Dijaci David de Oliveira condena a violência policial. "A questão de moradores de rua e de usuários de drogas não se resolve com repressão. O serviço de assistência social é crucial para que essas pessoas reconstruam suas vidas", acrescenta.
A promotora de Justiça de Defesa da Cidadania Renata de Matos Lacerda, do Ministério Público de Goiás (MP), entende que a população de rua é tratada como "delinquente", o que, ressalta, é um equívoco. Segundo ela, Estado e sociedade precisam desenvolver ações articuladas, para promover o resgate da cidadania.