Candidatos esquecem das propostas

Julgar pela estreia dos programas eleitorais gratuitos no rádio e na TV, os postulantes ao cargo de prefeito da capital terão dificuldades em convencer os eleitores.  Peça chave no processo de divulgação de propostas dos candidatos a cargos públicos, a veiculação do horário eleitoral teve início na quarta, 21, e os primeiros capítulos dos programas dos prefeitáveis de Goiânia decepcionaram. A emoção deu o tom das mensagens, e as ideias e propostas para o município foram esquecidas.
A Tribuna ouviu o jornalista Eduardo Horácio (veja o quadro), que possui mestrado em sociologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e estudou programas eleitorais de televisão durante três anos. Ideia era listar cinco pontos positivos e negativos (veja quadro), mas o jornalista teve dificuldades em achar as boas ideias. A análise feita leva em conta apenas o programa de estreia, veiculado na quarta, já que a edição foi fechada na sex­ta, 24, segundo dia de exibição dos programas dos prefeitáveis.
O primeiro programa eleitoral tem, na opinião de especialistas, importância destacada no processo de convencimento do eleitor, já que é o momento de maior audiência. Por isso, a ex­pectativa era que os prefeitáveis apresentassem produções que aliassem conteúdo e estética. 
Mas não funcionou. Cada um a seu modo, os candidatos preferiram adotar discursos vazios e com foco na emoção, destacando o “amor por Goiâ­nia”, com vídeos melodramáticos. Além disso, outra constatação foi a de ausência quase completa das propostas que cada candidato querem por em prática na cidade, caso eleito.
Outra constatação é de que há um receio em se assumir como oposição, principalmente por parte do candidato Jovair Arantes (PTB), o principal adversário do atual prefeito e candidato à reeleição, Paulo Garcia (PT). De acordo com o seu programa, a impressão é de que Goiânia não tem problemas, fruto da falta de críticas à administração.
Só Isaura Lemos (PC do B) e Reinaldo Pantaleão (PSOL) mostraram-se mais crítico, mas, por causa do pouco tempo disponível, não aprofundaram suas ideias. Rubens Donizetti (PSTU) também criticou, mas de forma superficial, aquém do esperado para uma candidatura de esquerda.
Do que foi apresentado, a melhor avaliação ficou com Isaura Lemos, que esteve em um patamar acima dos adversários, apesar de também cometer os mesmos erros. Produzido pela professora de cinema Rosa Berardo, o material da comunista é o que apresenta a melhor estética, mas também peca por ser pouco propositivo e focar mais na história pessoal da candidata.

Análise
Com mais tempo de TV e maior previsão de gastos dentre os prefeitáveis, o programa de Paulo Garcia, produzido pelo publicitário Renato Monteiro, foi um dos que mais deixou a desejar. A ideia era usar a estreia do programa eleitoral para explicar o conceito de sustentabilidade, mote da campanha que está expresso no nome da coligação, “Goiânia, Cidade Sustentável”. Mas, apesar da tentativa, a produção falhou, passando a ideia que ela própria não tem muita noção do significado do conceito.
O formato didático, recheado de perguntas e respostas, foi propício para explicar ao eleitor os conceitos. O uso de palavras difíceis para o eleitor comum, como o conceito de “estética” e outros pontos teóricos, porém, distanciou o programa do público-alvo. A sustentabilidade ficou apenas na presença de samambaias no estúdio.
A produção ainda apresentou vídeos explicativos, mas, em um deles, o uso de conceitos abstratos reduziu a possibilidade de compreensão. No outro, o programa do petista mostrou exemplos do que seriam cidades sustentáveis, como Copenhague, na Dina­mar­ca. Porém, é uma realidade distante da vivida em Goiânia, o que torna difícil qualquer relação com a capital.
Com o segundo maior tem­po disponível e aglutinando a base do governador Marconi Pe­rillo (PSDB), esperava-se que o programa de Jovair A­rantes, feito pelo publicitário Car­los Maranhão, fosse contundente com os problemas de Goiânia e propositivo em busca de melhorias. 
Mas não foi isso que se viu. Repleto de depoimentos elogiosos a Goiânia e imagens, a produção passou uma ideia de que a cidade apresenta poucos problemas, focando nas qualidades e no que torna a capital uma cidade agradável de viver. Além disso, a peça tenta ser poética, mas falha também na proposta, usando clichês e expressões vazias.
O programa do petebista também falha ao explorar pou­co a imagem de Jovair. Com pouco mais de oito minutos de duração, o candidato a prefeito só foi aparecer depois do sexto minuto decorrido, no momento em que aparecem as primeiras críticas e propostas, ainda que de forma tímida e superficial.

Família
O programa do prefeitável Elias Júnior (PMN) foi, de longe, o que mais abusou da emoção, chegando a ser apelativo. Com a estratégia de apresentar a vida do candidato, o atual deputado estadual, que foi jornalista comunitário, usou linguagem popular para se aproximar do eleitor. O resultado foi um discurso vazio e sem qualquer conteúdo efetivo, meramente interessado em divulgar o próprio candidato.
A produção do prefeitável Simeyzon Silveira (PSC) também padeceu do mesmo problema. Apesar de ter boas imagens, o programa optou por um discurso mais poético, mas ineficaz e vazio de sentido. Com menções à família, o programa do candidato foi outro marcado pela ausência de questões políticas e debate profundo sobre Goiânia.
Já os candidatos nanicos, que sofrem com pouco tempo e recurso, adotaram estratégias diferentes. Pantaleão e José Netho (PPL) procuraram mostrar suas trajetórias, enquanto Rubens Donizetti (PSOL) quis mostrar compromisso com os trabalhadores.
O programa de José Netho mostrou muitos sorrisos, mas também foi pobre de conteúdo. Pantaleão foi às ruas e colheu boas imagens, mas, mais focado na história pessoal, deixou passar oportunidade de apresentar propostas. Rubens Donizetti apareceu em imagem estática, fazendo críticas genéricas e levando a discussão para o lado ideológico.

Líderes são subutilizados nas produções

Uma estratégia utilizada por alguns candidatos foi a de citar e buscar a aproximação com lideranças, na tentativa de herdar votos. Porém, de ma­nei­ra geral, o recurso foi pou­co utilizado pelos postulantes à prefeitura. Quem mais teve seu nome citado foi a presidente Dilma Roussef (PT), que vive bom momento de popularidade.
Paulo Garcia e José Netho citaram o nome da presidente, mas de forma superficial. Mesmo sendo do partido da presidente, o petista não se aprofundou na ligação. Já o candidato do PPL citou Dilma como exemplo de boa administradora.
Isaura Lemos, que é a única mulher candidata, foi quem mais buscou ressaltar a relação com Dilma. A comunista aparece ao lado da presidente em uma foto, numa tentativa mais clara de se aproveitar da popularidade da petista. Além disso, ela usa o seu exemplo, que foi a primeira mulher presidente do Brasil, para ser “a primeira prefeita de Goiânia”.
Jovair Arantes, que é o candidato da base do governo estadual, não usou o nome do governador Marconi Perillo. A única liderança que apareceu foi a do ex-prefeito Nion Albernaz. O petebista, que alardeia ser da base do governo federal, também não citou Dilma Roussef. Elias Júnior, Reinaldo Pantaleão e Rubens Donizetti não citaram ninguém em seus programas.
O candidato do PSC, Simeyzon Silveira, é quem poderia ter usado mais líderes, já que sua candidatura é fruto da união do ex-candidato ao governo, Vanderlan Cardoso (sem partido), o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM) e do ex-secretário da Fazenda, Jorcelino Braga (PRP). No programa, ele cita os dois primeiros e chega a usar imagens do democrata, mas de forma rápida.
A liderança mais usada por Simeyzon nos discursos e imagens é o próprio pai, o pastor e autointitulado apóstolo, Sinomar Silveira. Embora restrita ao círculo religioso, a figura de Sinomar visa reforçar a busca pelo voto evangélico, grande filão de eleitores da dupla.
O grande líder e cabo eleitoral da eleição em Goiânia, o ex-prefeito Iris Rezende, também foi deixado de lado. Paulo Garcia, que busca vincular sua imagem à do peemedebista, só apareceu ao lado do mentor no final do programa. Ainda assim, de forma rápida e sem que Iris ao menos olhasse para a câmera. Em uma estratégia de campanha que visa colar a imagem de Paulo à de Iris, a pouca utilização da credibilidade do peemedebista junto ao eleitor logo no primeiro programa pode ser vista como um desperdício. (D.G.)

Análise de Eduardo Horácio sobre o programa eleitoral na TV


Pontos positivos:

* 1) Alta qualidade de produção e conteúdo político forte no programa da candidata Isaura Lemos;
* 2) O programa de Pantaleão tem mérito de não esconder ser de oposição, algo raro nessa eleição;

Pontos negativos:

* 1) Os jingles de todos os candidatos, difícil escolher qual é o pior;
* 2) Discursos vazios de "amor a Goiânia" como se isso fosse fundamental para conquistar o eleitor;
* 3) Se amam tanto Goiânia, por que vários candidatos fizeram seus programas confinados no estúdio?
* 4) A falsa informalidade entre candidato e apresentador no programa do candidato Paulo Garcia;
* 5) A falta de conteúdo político em praticamente todos os programas eleitorais;

Candidato por candidato

P10 03
Isaura Lemos (PC do B)

* Qualidade da produção e cuidado técnico com os detalhes fazem do programa de Isaura Lemos o melhor da estreia;
* O programa tem conteúdo político forte e não tem medo de dizer que é oposição;

Jovair Arantes (PTB)

* Abusa de cenas e palavras vazias falando bem de Goiânia, mas sem conteúdo político;
* Poesia pobre e vazia ao som de saxofone e piano;
* Tem o mérito de mostrar o candidato fora do estúdio, livre, mas falta mais pegada. Parece mais propaganda de candidato da situação do que de candidato de oposição;
* Mostra na TV o jingle ruim e esconde o melhor, que está por ora apenas no site;

José Netho (PPL)

* Programa exagera nos sorrisos e no discurso vazio;

Simeyzon (PSC)

* Boa qualidade técnica, mas falta conteúdo político. Discurso também vazio;

Rubens Donizetti (PSTU)

* Candidato estático, aproveita mal o tempo até razoável que o can­di­da­to possui e perde tempo falando de demissões no ABC paulista;

Paulo Garcia (PT)

* Candidato preso no estúdio, sendo que há vários locais na cidade que ele pode capitalizar para si mesmo, tanto obras dele quanto de Iris Rezende;
* Equívoco em insistir com palavras falsamente eruditas. Precisa passar mais sinceridade na sua fala. No programa eleitoral a fala ficou muito técnica;
* Fala demais da realidade de outras cidades do mundo, cidades cujas realidades são muito distantes do que ocorre em Goiânia.
* Informalidade falsa entre apresentador e candidato, parece forçada para quem assiste;
* Participação de Iris, seu principal cabo eleitoral, foi mal produzida e ficou espremida no fim;

Elias Junior (PMN)

* Propaganda pretensamente emocional, sem conteúdo político, até o eleitor mais incauto percebe o excesso de demagogia. Apelativo;

Pantaleão (PSOL)

* Programa que tem o mérito de não esconder ser de oposição, mas há enquadramentos da câmera que distraem o telespectador. Esses maneirismos não ajudam;