Problema deve durar por pelo menos mais 2 anos

Saneago diz que obras que estão sendo realizadas vão solucionar questão do desabastecimento. Técnicos do setor discordam

Nem mesmo a conclusão das obras em andamento de ampliação e adequação do sistema de abastecimento de água, até o fim de 2014, seria suficiente para resolver o problema da escassez de água na região metropolitana de Goiânia, há pelo menos 15 anos, sempre nos meses de agosto e setembro, na visão de especialistas. Para a Saneamento de Goiás S.A. (Saneago), essas obras seriam suficiente para dar ao desabastecimento que incomoda moradores de várias cidades do Estado.

Assim mesmo, até que alguma solução seja encontrada, a dona de casa Miria Antunes, de 36 anos, o marido Adeilson Pereira Miranda, de 36, e os dois filhos devem sofrer com a falta de água. Na tarde de ontem, a família de Miria completou 48 horas sem água em casa, mesmo que a moradia contenha uma caixa d’água de 500 litros e um tambor para armazenar outros 100 litros.

O problema começou na semana passada, quando o abastecimento só ocorria durante a noite no Setor Três Marias. Mesmo não sendo o ideal, o fato possibilitava o uso da água porque era suficiente para encher os reservatórios das residências. Na segunda-feira, uma queda de energia desligou as bombas que levam a água para os bairros mais altos de Goiânia, como o Três Marias.

Desde então, a casa de Miria não recebe mais a água pela qual paga mensalmente. Ela agora adquire água mineral para usar em tarefas como lavar louça e escovar os dentes. “Tento manter a normalidade, para que as crianças possam ir para a escola, mas a gente só escuta promessa e enrolação”, revela.

Segundo Miria, há dois dias ela liga na Saneago e escuta que o serviço de abastecimento deve voltar em pouco tempo ou no próximo período. A dona de casa acredita que as respostas “seriam melhores se dissessem que não vai voltar o abastecimento normal até que volte a chover mesmo”.

CONSUMO ALTO

E parece ser mesmo essa a única solução a curto prazo. Embora os reservatórios da Saneago operem em capacidade máxima, a alta temperatura e a baixa umidade relativa do ar fazem com que o consumo de água aumente em até 30% nesta época do ano e, então, setores em regiões mais altas de cidades como Goiânia, Aparecida de Goiânia, Trindade, Rio Verde e do Entorno do Distrito Federal ficam sem o abastecimento contínuo.

A Saneago explica que o problema aumenta em função das obras que estão em andamento justamente para que a questão seja resolvida. Ainda para este ano é esperada a finalização da ampliação do Sistema de Abastecimento de Água Vila Adélia. Para 2013, serão investidos R$ 10 milhões na ampliação e reforço nos sistemas de Goiânia. Novas obras e ampliação dos sistemas de Aparecida de Goiânia devem ser executadas até 2014, com investimento de R$ 26 milhões.

Esses investimentos não seriam a solução definitiva, de acordo com a professora do Instituto de Estudos Socioambientais (IESA) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Celene Cunha. A especialista estima que a falta de água em grandes cidades de Goiás é um fenômeno recente, quer surgiu a partir da expansão imobiliária acelerada no final da década de 1990. O fato é que essa expansão se deu sem planejamento e sem o estabelecimento da rede de abastecimento de água.

A prova disso é o pedido que a Saneago faz para que a população reserve água e faça o racionamento. Para o superintendente adjunto de Planejamento de Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), Sérgio Ayrimoraes, o racionamento é uma medida emergencial, que ocorre quando algo deixou de ser feito no planejamento. “Ainda mais quando é um motivo que se conhece, sazonal. Os investimentos no sistema têm de prever essa sazonalidade, esse período de maior consumo”, argumenta.

De acordo com o Atlas Brasil de Abastecimento Urbano de Águas, feito pela ANA, 87% dos municípios goianos necessitam de adequação no sistema de distribuição de água. No restante o problema é ainda mais grave e seria necessário um reforço da fonte hídrica, ou seja, a utilização de novos mananciais.

A professora Celene Cunha lembra que na década de 1980 foi feito um estudo sobre a utilização das águas do Rio Caldazinha e do Rio dos Bois para o abastecimento da região metropolitana de Goiânia. No entanto, até hoje nada foi feito no sentido de reforçar o manancial de água da região. As obras no sistema João Leite, portanto, aliviariam o problema, mas não seriam a solução a longo prazo.

INTERIOR

Apenas durante o dia de ontem, O POPULAR recebeu diversas reclamações de várias cidades goianas com relação ao desabastecimento de água. A maior parte veio mesmo da Região Metropolitana de Goiânia, especialmente Aparecida de Goiânia, na região do Setor Garavelo, e Trindade. No entanto, houve ainda falta de água na cidade de Goiás, Rio Verde e Bonfinópolis.

A Saneago informa que houve problemas com o poço de abastecimento da cidade de Goiás, que teriam sido sanados pelos técnicos da estatal ainda pela manhã. A empresa previa a volta do abastecimento ainda na tarde de ontem. Já em Rio Verde, as obras para melhorar o abastecimento fazem com que o serviço deixe de ser prestado em algum período do dia, retornando em seguida.

Fuente: O Popular