Sim, a Terra é redonda!


Até o ano de 1519 acreditava-se que a Terra era quadrada. Coube a um navegador português desmentir essa tese, a partir de uma viagem iniciada em 20 de setembro

 

Fernão de Magalhães é um nome pouco conhecido se o compararmos a Cristóvão Colombo ou a Pedro Álvares Cabral. No entanto, os feitos desse navegador português, nascido em 1480, se equiparam aos de Colombo e Cabral quando estes descobriram as Américas e o Brasil.
É que no dia 20 de setembro de 1519, Magalhães deu início a uma viagem que faria 'cair por terra' alguns dos principais paradigmas vigentes na época. 
Apesar de ter morrido antes de concluir seus planos de navegação, o navio comandado por ele foi o primeiro na História a circumnavegar o globo, provando que o mundo era redondo.
Fernão de Magalhães estudou cartografia e navegação e, no início da juventude, já navegava à serviço da coroa portuguesa. Em uma de suas expedições ao Oriente tornou-se amigo de Francisco Serrão, que veio a ser o feitor das ricas ilhas das Molucas, na Indonésia. 
Através desta amizade, Magalhães teve acesso a informações preciosas sobre a localização daquelas ilhas que tinham especiarias em abundância, consideradas o ouro da época. 
De volta a Lisboa, em 1513, das muitas riquezas que consquistou, o navegador trouxe pouca coisa consigo: apenas algumas moedas de ouro e um escravo. E não demorou muito a cair no ostracismo da corte portuguesa de D. Manuel.

Peripécias
Sentindo-se injustiçado, o aventureiro traçou um plano de navegação pelo Ocidente com o intuito de provar que as ilhas Molucas se encontravam fora do “hemisfério português”, definido pelo Tratado de Tordesilhas, de 1494. 
Partiu, então, para Sevilha, na Espanha, onde obteve a anuência do rei espanhol, futuro imperador Carlos V, para a expedição que contava com uma esquadra de cinco naus. 
Providos de uma tripulação de 265 homens, os navios comandados por Magalhães iniciaram a viagem ao redor do mundo em 20 de setembro de 1519.
No mesmo ano, a pequena armada aportava no Rio de Janeiro e logo, em seguida, penetrava no Rio da Prata, na Argentina. 
Em março de 1520, adentrou o estreito que ganharia o nome do navegador português, situado ao sul da América do Sul (Estreito de Magalhães).
A viagem foi marcada por peripécias, conspirações e insubordinações de uma tripulação exausta e desconfiada com o insucesso do empreendimento. 
Por fim, em novembro de 1520, os navios entraram no Oceano Pacífico e, poucos meses depois, em abril de 1521, Magalhães foi morto na ilha de Cebu (Filipinas). 
Nesta etapa da expedição, a esquadra estava reduzida a dois navios. Um deles, a nau Victoria, comandada pelo espanhol Sebastião Delcano, seguiu viagem pela rota do cabo, procurando víveres em Cabo Verde. 
De lá, seguiu para a Espanha, onde chegou no dia 6 de setembro de 1522 com uma tripulação de apenas 18 homens. Terminava aí a saga iniciada por Magalhães anos antes.

O feito maior

Alguns historiadores acreditam que, por pertencer à nobreza provinciana, o que Fernão de Magalhães buscava, por meio de suas viagens além-mar, era a fama e a glória pelos feitos de armas. 
Ele realmente desejava circumnavegar o globo ou queria simplesmente chegar às ilhas Molucas e regressar? Independente da resposta, o projeto de Magalhães era cheio de riscos e suscitava desconfianças e incertezas por toda a parte. 
O que Fernão de Magalhães se propunha a fazer – mostrar que as ilhas Molucas se encontravam fora do hemisfério português – era um enorme desafio técnico e humano, pois, até o momento, havia sido impossível delimitar, de forma rigorosa, as zonas de influência espanhola e portuguesa definidas em Tordesilhas.
Ana Carolina Coelho, professora de História do Brasil da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que os principais conflitos entre Portugal e Espanha, na época, eram advindos da competição marítima entre as duas potências. 
A professora pontua que a disputa pela supremacia no Atlântico, aliada às práticas mercantilistas, tornavam o domínio náutico um palco de muitas discussões. “O Tratado de Tordesilhas foi uma solução diplomática que, na prática, não foi respeitado tanto pelo desconhecimento das novas terras quanto pelas necessidades inerentes às práticas mercantilistas.”
Assim sendo, Magalhães estava disposto a protagonizar uma batalha pelas ilhas Molucas que, se deflagrada, acirraria ainda mais o perigoso conflito existente entre as duas potências mercantilistas. 
Mas uma coisa é certa: se hoje não temos mais nenhuma dúvida de que a Terra é redonda, esse corajoso e controverso navegador teve grande parcela de contribuição ao jogar por terra os paradigmas de sua época!

Fuente: Tribuna do Planalto