Adeus ao mestre

Intelectual que estimulou gerações de escritores goianos, Domingos Felix de Sousa morreu ontem, aos 89 anos

Domingos Felix: intelectual influente em Goiás

 

O advogado, professor, jornalista e escritor Domingos Felix de Sousa morreu ontem, aos 89 anos. Seu corpo foi sepultado às 17 horas, no Cemitério Santana. Domingos sofria de mal de Parkinson e uma pneumonia foi uma das causas da sua morte. Intelectual reconhecido, Domingos foi incentivador de várias gerações de autores goianos, desde Bernardo Élis a autores contemporâneos como Geraldo Coelho Vaz, Lêda Selma, Gabriel Nascente, Antônio José de Moura, entre outros .

Domingos Felix nasceu em Jaraguá, em 23 de janeiro de 1923, cursou o ginásio em Silvânia, depois Filosofia em Cuiabá e Direito no Rio de Janeiro. Foi professor da Escola Técnica Federal de Goiás, do Atheneu Dom Bosco e teve atuação fundamental nos projetos de criação da PUC-Goiás e da UFG. Foi ainda cronista esportivo do jornal Última Hora, ao lado de Samuel Wainer, e colaborador do Cinco de Março.

O advogado e escritor integrava uma família reconhecida pelo talento nas letras e nas artes. Ele era pai de Maria Lúcia Felix Bufáiçal, escritora e cronista do POPULAR, irmão de Manoel Amorim, compositor de Balada Goiana, de Afonso (poeta) e Aída (contista). Outros parentes eram o poeta Moacyr Félix, a escritora Jorgina Félix de Sousa, e Jorge Félix, arquiteto e artista plástico, autor do projeto do Cine-Teatro Goiânia, em 1942.

Domingos deixou três filhas – Maria Lúcia, filha mais velha, Ligia e a caçula Maria Emília –, que teve com a mulher Iracema Roldão, falecida em 2003. “Ele era um homem de coração imenso, que tinha inteligência e sensibilidade extraordinários para a poesia e trabalhava pela cultura local, para levá-la para outros lugares”, afirma Maria Lúcia.

Ela lembra que foi o pai quem levou um texto de Bernardo Élis para que Guimarães Rosa pudesse ler e retornou a Goiânia com uma carta de Rosa para Élis logo em seguida. O jeito simples é outro traço lembrado pela filha, que garante que o pai só utilizava sua erudição quando era necessário. “Ele não tinha nada de afetado e só empregava sua grande eloquência quando realmente precisava”, recorda-se.

Outras contribuições culturais lembradas são os ensaios realizados para a Revista Oeste e o Jornal Oió, da Livraria Oió, para a qual Domingos realizava resenhas de livros de escritores goianos. “Ele não se considerava grande escritor e era disperso com seus textos, nunca publicou”, conta Maria Lúcia, que pretende publicar um livro com o material deixado pelo pai que conseguiu reunir. “São textos que ele escreveu para jornais, fotos de fases marcantes da sua vida quando criança em Jaraguá, depois da sua vida em Pires do Rio e em outras cidades. Tenho ainda prefácios escritos para livros de escritores como Bernardo Élis”, adianta ela, que recentemente publicou uma crônica no POPULAR falando desse projeto.

DOENÇA

Há 35 anos Domingos Felix de Sousa sofria de mal de Parkinson e de problemas de respiração. “Para os netos, ele era o nosso refúgio, para onde a gente corria quando dava tudo errado. Estava na frente do seu tempo e nos compreendia mesmo quando não entendia a situação”, conta a neta Maria Felix.

Para o escritor Geraldo Coelho Vaz, que foi seu aluno da Faculdade de Direito da UFG, na década de 60, Domingos era mais que um professor. “Ele nos orientava dentro dos caminhos da literatura e da criação literária. Ele foi uma das figuras que valorizou o Grupo de Escritores Novos (GEN), de 1962 até 1968. Domingos nos mostrava a importância de conservar as tradições de Goiás que andavam meio esquecidas e levava a história de Goiás e de seus filhos para o Brasil”, opina.

Vaz se recorda que, no final dos anos 90, já debilitado por sua doença, Domingos frequentava as reuniões do Conselho Municipal de Cultura e participava dos debates, muitas vezes com dificuldade. “Eu levava o Domingos para casa e conferia de perto como ele se esforçava para estar na ativa”, conta.

Gabriel Nascente conviveu com o professor e escritor por mais de 40 anos. “Foi desde o meu primeiro livro. Com ele desaparece uma das mais expressivas vozes da cultura literária em Goiás. Ele foi o São Francisco de Assis de todos os poetas e escritores de Goiás. Não há exagero metafórico nisso. Sua casa no Setor Sul, nos anos 60 e 70, era um comitê literário permanentemente aberto à consulta dos artistas iniciantes, como poetas, artistas plásticos e jornalistas”, recorda-se.

Já o jornalista Hélio Rocha diz que vai se lembrar de Domingos Felix como “um homem cordial e solidário”.“Ele tinha prazer em apontar caminhos, corrigir imperfeições e foi uma grande figura no cenário da literatura goiana”, reforça.

Source: O Popular