O portão de entrada

Li no portão de entrada da UFG a palavra Câmpus grafada assim com acento. O Aurélio não deixa dúvida de que a grafia é sem o acento. Minha gramática de Napoleão Mendes de Almeida nada esclarece. A palavra possui alguma anomalia? Qual?

Edmo Nunes – edmo.nunes@hotmail.com

Há momentos em que língua tem muito pouco a ver com dicionários e gramáticas e muito mais com política. Como estamos aqui diante de um desses casos, convém fazer uma analogia.

Imigrantes

Há diversas maneiras de tratar um imigrante, uma palavra que chega do exterior. Posso recebê-lo respeitosamente, mas pedir que se adapte a seu novo lar, adotando as regras da casa. Forasteiros ingleses transformam-se em futebol; franceses viram abajur ou filé; italianos transformam-se em espaguete. Pouca lembrança de quando chegaram por aqui footballabat-jour ou spaghetti. Para que ninguém diga que com latim é diferente, não custa lembrar colegas como ônus ou tônus, já perfeitamente adaptados.

Subserviência

Posso tomar uma atitude intermediária, apresentando nosso imigrante aos costumes da casa, mas permitindo que retenha parte de suas origens. Nesse caso, recebo o imigrante latino, que mantém sua roupagem, mas acrescenta um adereço para adaptar-se: é o caso dedéficithábitat, com nossos acentos. O inglês gol fica autorizado a manter seu estranho plural gols – enquanto as regras da casa pediriam algo como “gois”.

Finalmente, posso assumir uma atitude de extrema subserviência: o forasteiro recebe todos os direitos, e não precisa preocupar-se em respeitar nenhum dos costumes locais. Atualmente é isso o que mais gostamos de fazer: qualifyingchefshowshopping.

Política

A pergunta apropriada portanto é: qual o tratamento queremos dispensar a nosso imigrante latino campus? O leitor diz que o Aurélio opta pela forma estrangeira, mas isso é opção dele, não tem nada a ver com “não deixar dúvidas”, como sugere o leitor. A UFG opta pela forma adaptada, com acento e plural regular, e isso é política de imigração. Como cada organismo define sua própria política, o leitor deve, portanto, escolher sua própria política de inserção social: curvar-se ao que vem de fora ou pedir-lhe gentilmente que siga as regras da casa. Simples assim.

Você sabia?

Divergências

Numa edição passada, na seção Esporte, havia um comentário referente à vantagem do Palmeiras: “E estão perto do objetivo: com a vitória por 2 a 0, semana passada, no Olímpico, em Porto Alegre, até a derrota por um gol de diferença serve para passar de fase.” Em outro parágrafo o texto diz: “A missão é mesmo difícil. Depois de perder por 2 a 0 o jogo de ida, semana passada no Olímpico, o Grêmio só vai se classificar à decisão da Copa do Brasil se ganhar por três gols de diferença.”

Há uma divergência nestes parágrafos. Houve um enxerto de informações e o editor não se preocupou muito com o que estava colocando na matéria. Frequentemente vemos informações distorcidas por uma simples falta de revisão e incoerência com o que se escreve.

 André Guerra Montes / Santa Helena de Goiás

O leitor tem toda razão. O texto provoca dúvida: três gols ou apenas um?

Produzindo o texto

No trabalho jornalístico, o redator recebe informações de várias partes. Para finalizar o texto, é importante conferir informações e traduzir tudo em linguagem compreensível para todo tipo de leitor. No curso dessa tarefa, infelizmente, eventualmente uma incoerência pode escapar.

Regra de ouro

Como maneira de aprimorar a redação de um jornal, há uma regra de ouro na edição: um escreve e o outro revisa. Nenhum texto deve deixar de passar por mais de uma pessoa. Assim, se o redator produziu algo de difícil compreensão, o editor tem o dever de melhorar e corrigir o texto. Na redação de jornais diários, há momentos em que é impossível cumprir essa regra. Imagine o leitor um jogo de futebol terminando depois das 23h, as impressoras paradas, aguardando a diagramação, os entregadores a postos para despachar o jornal. E o redator lá, sentado diante da televisão. Metade do texto já pronto, apenas aguardando o resultado final da partida... A pressão não é pequena.

 

Fonte: O Popular