Jovens fora da escola e do trabalho

Estudo aponta que 146,4 mil jovens goianos, com idade entre 18 e 25 anos, não estudam nem trabalham

 

Aos 22 anos, a jovem Larissa Lopes Silva passa os dias em casa vendo o tempo passar. Ela abandonou os estudos no 2º ano do ensino médio depois de engravidar e hoje mora numa casa muito humilde com o companheiro. O filho Ruan, de dois anos e meio, mora com a mãe de Larissa. “Sinto falta de trabalhar e estudar. No ano que vem, quero fazer alguma coisa porque o dinheiro está fazendo falta”, garante a jovem, que já trabalhou como babá e sonha com um emprego bem melhor, mesmo sem ter qualificação profissional.

Larissa está entre os 146.474 jovens goianos, com idade entre 18 e 25 anos, que estão fora do mercado de trabalho e da educação formal, o equivalente a quase 17% da população nesta faixa etária. No Brasil, esse índice é ainda mais alarmante: 19,5%, segundo o estudo Juventude, Desigualdades e o Futuro do Rio de Janeiro, coordenado pelo professor Adalberto Cardoso, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), baseado em microdados do Censo Demográfico de 2010 do IBGE. Nas regiões Norte e Nordeste do País, o índice de jovens nessa condição chega a 25%.

A maioria é de mulheres que, como Larissa, deixaram os estudos depois de uma gravidez precoce, porque precisaram começar a trabalhar para ajudar a família ou por desmotivação. Aliás, o número de moças que ficam em casa chega a 24,4% em Goiás, bem mais que o dobro dos rapazes: 9,5%. Sem um bom nível de educação formal ou qualificação profissional, esses jovens têm dificuldades para entrar no mercado de trabalho formal, enquanto as empresas demandam muita mão-de-obra (veja matéria abaixo).

POBREZA

O estudo mostra que a grande maioria dos jovens que não estudam nem trabalham está entre as classes mais baixas da população: 46,2% entre os 10% mais pobres e apenas 6,9% entre os 10% mais ricos. Por isso, existem dois grupos de jovens fora da escola e do mercado de trabalho: uma minoria que conta com apoio financeiro dos pais e outra grande parte que abandona os estudos por razões econômicas e, depois, não consegue trabalhar por falta de qualificação.

“Estudos já mostraram que o jovem tem resistência ao trabalho, que não é visto como forma de realização, apenas de sobrevivência”, explica o professor Nildo Viana, da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília (UNB). Como para a maior parte dos jovens os estudos são apenas um passaporte para o mercado de trabalho, aqueles que não pretendem ter um emprego com carteira assinada acham que não precisam estudar.

Alguns até têm recursos, mas não se interessam em buscar uma qualificação, enquanto a maioria que procura emprego não tem formação suficiente para conseguir uma boa ocupação. Para o professor, às vezes, dependendo do nível de pobreza, o jovem não possui nem os documentos exigidos pelas empresas.

Os que conseguem um trabalho costumam registrar uma alta rotatividade nas funções. “Geralmente, as ocupações oferecidas a estes jovens, principalmente aqueles sem qualificação, são atividades repetitiva’s, que exigem força física e remuneram muito mal”, explica Nildo Viana. Muitos são empregados em supermercados e lanchonetes, por exemplo, e logo não querem mais trabalhar nos fins de semana e feriados.

SEM RECURSOS

Muitos jovens até sonham com um curso superior, mas não conseguem ingressar numa instituição pública e esbarram na falta de recursos para estudarem em uma instituição particular. É o caso do jovem Marcos Aurélio Esteves Fernandes, de 20 anos, que está sem trabalhar e estudar. Ele diz que sonha em cursar Direito, mas acha que precisará se contentar com um curso profissionalizante por causa da falta de recursos. Ele já trabalhou com atendente em supermercado e busca um novo emprego.

A amiga de Marcos, Brena Laiane Freitas Milhomen, de 18 anos, abandonou os estudos no 1º ano do ensino médio depois de engravidar. “Me arrependo muito de ter parado de estudar. Quero voltar porque está fazendo muita falta. Sem estudo, não consigo emprego”, reconhece Brena. Mas ela diz que, antes de qualquer coisa, precisa trabalhar para sustentar o filho. “Preciso colocar minha vida em ordem”, afirma. Hoje, Marcos Aurélio e Brena são sustentados pelos pais, que têm poucos recursos.

Para a socióloga Elizabeth Bicalho, coordenadora do Instituto Dom Fernando da PUC-Goiás, que trabalha com temáticas de Infância, Adolescência, Juventude e Família, há um desencantamento do jovem com o mundo, uma dificuldade de se situar e ser reconhecido. “Muitos não têm conseguido ser protagonistas de sua história”, alerta. Segundo ela, muitas famílias que receberam uma educação rígida, hoje estão mais permissivas. “Falta autoridade da família e da escola. Não é simplesmente dizer que os jovens não querem nada. Os pais precisam estimular seus filhos”, explica.

Fonte: O Popular