Mais da metade da população brasileira é de classe média

Classe social, que é composta por 104 milhões de pessoas, deve movimentar R$ 1 trilhão em consumo neste ano

Nos últimos dez anos, a porteira Edineide da Costa e Silva, de 36 anos, experimentou uma melhora significativa na sua condição econômica. Passou a ganhar mais, financiou um apartamento, o equipou com eletrodomésticos e agora sustenta a filha de 17 anos para realizar um grande sonho: o de ver a adolescente formada numa universidade federal. Por mês, Edineide consegue uma renda de cerca de R$ 1.500,00 – fruto do salário fixo de R$ 709,00 por uma escala de 15 dias e dos extras que faz no tempo que lhe sobra.

A realidade é muito diferente daquela vivida tempos atrás, quando ainda morava no Maranhão e recebia apenas o salário mínimo como professora. A história da porteira não é um caso isolado e retrata uma transformação econômica que muitos brasileiros experimentaram na última década, que mudou a cara da classe média no País. Agora, essa classe é composta por 104 milhões de pessoas - 37 milhões a mais do que em 2002.

Essa parcela representa hoje mais da metade da população (53%), contra apenas 38% de uma década atrás. Este ano, deve movimentar R$ 1 trilhão em consumo. Embora várias pesquisas já tivessem apontado essa evolução social, os dados desta vez são oficiais e estão reunidos no projeto Vozes da Classe Média, divulgado ontem pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República.

Segundo o estudo, o crescimento da classe média brasileira só foi tão acelerado porque foi baseado na redução de desigualdades sociais. Se não fosse assim, teria crescido apenas 4, em vez de 15, pontos porcentuais. “Isso quer dizer que o alargamento da classe média brasileira é muito mais um resultado da queda na desigualdade do que propriamente do crescimento econômico”, diz o relatório.

PILARES

Para o economista Sandro Monsueto, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), esse aumento é embasado principalmente em três pilares: o aumento real do salário mínimo (que serve de base para o piso de diversas categorias), a evolução positiva do Produto Interno Bruto (PIB) no País (que reflete o bom momento da economia) e o aumento da oferta de crédito. No estudo, a SAE também aponta a importância das transferências de recursos públicos para as famílias, por meio de programas sociais do governo, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

“O poder de compra aumentou realmente e, por isso, muitas pessoas passaram a ter acesso a bens que antes não podiam comprar, como a geladeira duplex, a TV de LCD, e principalmente o carro”, explica o especialista sobre o perfil dos consumidores da nova classe média. Que o diga a auxiliar de serviços gerais Regiane Santos Silva, de 28. Hoje, com um salário mínimo de renda, ela consegue se sustentar em Goiânia, mandar dinheiro para os filhos (que moram com a avó no Maranhão, sua cidade natal) e ainda guardar uma parte na poupança.

Foi assim que ela conseguiu comprar recentemente um guarda-roupas novo e uma TV LCD de 42 polegadas. “E eu compro tudo à vista, porque meu nome está sujo desde a época que eu morava no Maranhão, por causa de cartão de crédito”, conta a trabalhadora, que, naquele Estado, ganhava menos de um salário mínimo por mês.

Source: O Popular