De olho na vida alheia

Novas tecnologias aliadas à velha curiosidade sobre as celebridades provocam a exposição da vida íntima de famosos em todo o mundo. Por outro lado, quem deseja espaço na mídia lança mão de estratégias diversas, como a divulgação de fotos provocantes. Ética, respeito à privacidade e aos diretos humanos saem perdendo com essa exposição da intimidade

Neste mês, a revista francesa Closer es­tampou em sua capa uma “exclusividade mundial”: fotos da duquesa de Cambridge, Kate Middleton (30 anos), fazendo topless ao lado do esposo, o príncipe William (30), durante a estadia do casal na França. As imagens rapidamente se espalharam por sites da internet e chegaram a ser republicadas em outros veículos. O escândalo, pelo menos até agora, parece sob controle. 
Apesar da agitação inicial, William e Kate mantiveram a agenda de viagens e protagonizaram novas fotos, dessa vez autorizadas, durante os dias que passaram no Pacífico re­presentando a rainha Elizabeth II, que celebra seu jubileu de diamante. Enquanto o casal festejava, seus representantes conseguiram a condenação da Closer. A divulgação das fotos foi proibida, inclusive na internet, e os arquivos digitais com as imagens entregues à Família Real. 
Se os primeiros rounds da batalha contra a Closer foram ganhos, outra luta pode estar prestes a começar. É que a revista americana Stars anunciou na última semana que a duquesa de Cambridge está grávida de gêmeos. Mas segundo o jornal inglês Daily Mail a foto que comprovaria a gestação  foi alterada com Photoshop. 
É possível, no entanto, que William e Kate já tenham outras preocupações. Na última quinta-feira, retornando do Pacífico para a Inglaterra, durante parada em um  aeroporto da Austrália, a jovem foi surpreendida por uma rajada de vento que deixou seu bumbum a mostra. O vídeo, claro, já está na internet.

Consumo da imagem
Para o doutor em Comuni­ca­ção e professor da Faculda­de de Comunicação e Bibliote­co­­nomia da Universidade Fe­de­ral de Goiás (Facomb/ UFG), a perseguição às celebridades, como ocorre com a Família Real, faz parte do modo de funcionamento da mídia. As novas tecnologias, destaca, apenas agilizam e amplificam as “espiadinhas” na vida alheia. “Elas permitem que a sociedade espie mais, porém não provocam o impulso inicial de querer saber sobre o outro”, avalia. 
Nesse modus operandi, o interesse público não é pré-requisito para que uma informação seja publicada.  Ao contrário: o que dita as regras do jogo é o entretenimento. Assim, o consumo da imagem dos famosos se torna a mola propulsora dessa exposição midiática. “Ver os seios da duquesa não implica em nenhum benefício social, mas muitos ficam curiosos e do mesmo jeito que comem um salgado e bebem um refrigerante acessam a internet para ver esse tipo de imagem”, exemplifica. 
Kate não é a única vítima da sanha midiática, também fomentada pelo público e até pelos próprios famosos (leia correlata). Em agosto, o príncipe Harry (27), terceiro nome na linha de sucessão do trono inglês, depois do pai e do irmão mais velho, William, foi flagrado em uma festa na cidade de Las Vegas, Estados Unidos. Nada muito grave se o rapaz, taxado como festeiro e inconsequente, não estivesse nu.
A fama de bon vivant do jovem tem precedentes e foi talhada por episódios amplamente documentados e divulgados pela mídia. Um deles ocorreu em 2005, quando fotografaram Harry na festa a fantasia de um amigo usando um uniforme nazista com uma suástica. Na época, ele foi obrigado a fazer um pedido de desculpas público. A nudez recente, segundo comentaristas que acompanham a Família Real britânica, revertem, em parte, os esforços e os resultados obtidos na tentativa de mudar a imagem do rapaz.

Política
Diferente do que ocorre com os famosos, a divulgação de conversas entre políticos – mesmo aquelas com tons mais particulares - é motivada pelo interesse público, defende o doutor em Comunicação, Daniel Christino. Até a presidenta Dilma Rousseff já foi flagrada. Na foto, ela aparece trocando um bilhete com as ministras Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, e Izabella Teixeira, do Meio Ambiente.
Dilma cobrava explicações sobre um acordo envolvendo o Código Florestal. De acordo com Christino, nesse caso, o bilhete ganha contornos de relevância porque refere-se a questões que afetam todo o país. O mesmo não valeria se a presidenta, por meio de um bilhete, estivesse dando uma bronca em Paula, sua única filha. Ou se a agora ministra da Cultura, Marta Suplicy, fosse flagrada  puxando a orelha de um dos filhos, o roqueiro Supla. 
Esse click ainda não ocorreu, mas nas últimas semanas um e-mail da ex-senadora gerou repercussão. Na foto do Correio Brasiliense, Marta aparece mostrando a outra colega de partido um e-mail que recebeu de organizações não governamentais sobre o seu suplente no Senado. Classificado como “evangélico e homofóbico, ele não se manifestou, ao menos publicamente, sobre as críticas. Os dois episódios, porém, deixam uma lição: políticos, cuidado com a espiadinha!

Fonte: Tribuna do Planalto