Cidades para pessoas

É impressionante como as cidades brasileiras se transformam. Trata-se de um processo inevitável, porém, que muitas vezes tem gerado consequências insustentáveis e degradado a qualidade de vida urbana.

Em nível mundial, as cidades também se transformam. Porém, algumas cidades em outros países tiveram coragem para mudar, e hoje colhem os frutos de uma melhor qualidade de vida e continuam a transformar-se para consolidar essa mudança. Nestas observa-se que edifícios são demolidos para dar lugar a praças; áreas públicas, antes sem uso, viram parques; ruas, antes ocupadas por carros, congestionamentos e poluição, são fechadas para dar lugar a calçadões, aos pedestres e ciclistas; e viadutos são demolidos para garantir que a cidade seja transformada (ou recuperada) em um espaço para pessoas. Gestores de cidades com boa qualidade de vida pensam primeiramente no espaço para as pessoas. A população das cidades com boa qualidade de vida apoia medidas que transformem sua cidade em um lugar para as pessoas.

Pensar em cidades para pessoas pressupõe pensar em espaços agradáveis, nos quais se pode caminhar e apreciar as belezas da cidade. Pensar em cidades para pessoas pressupõe pensar em cidades onde se prioriza o coletivo: espaços coletivos, transporte coletivo, paisagem coletiva, qualidade de vida coletiva.

Cidades para pessoas demandam espaços planejados cuidadosamente, iniciando-se na escala do pedestre, tratando-se o ambiente, o paisagismo, a sinalização, o mobiliário, a acessibilidade, a mobilidade, a recuperação de monumentos culturais e históricos, e a qualificação dos espaços; passa pela criação ou consolidação de novas centralidades, dinâmicas e consistentes com o desafio de projetar espaços para pessoas e dimensionados para garantir sua autonomia e integração; chega à escala do município, com todas as suas dinâmicas, integra-se à questão metropolitana e pode considerar ainda sua inserção regional.

Grandes empreendimentos são necessários para garantir a economia de uma cidade e para gerar oportunidades. Porém, cidades adensadas – com grande fluxo de veículos, grandes áreas comerciais, grandes edifícios – demandam mais e mais espaços para pessoas. Espaços “de respiro” para a cidade, que venham a contrabalançar os milhares de metros quadrados construídos e impermeáveis, como parques, praças, calçadas, calçadões, espaços de convívio e lazer, espaços culturais, áreas verdes, etc.

Nesse contexto, gostaria de provocar os gestores, e a sociedade, a refletir, por exemplo, sobre áreas públicas ainda existentes. É necessário resolver a equação, da forma mais adequada possível, sobre espaços públicos e privados. Será que os escassos terrenos públicos (municipais ou estaduais) ainda vagos não poderiam ser destinados à utilização pelas pessoas?

 

Erika Cristine Kneib é arquiteta e urbanista,

mestre e doutora em Transportes,

professora e pesquisadora da UFG