Atitude crítica versus torcida organizada

O homem é um ser social. Essa característica gera a aproximação de pessoas diante de determinadas concepções de mundo e esses grupos carregam em si um elemento importante para compreender o ser humano: eles querem (e precisam) convencer quem é de fora dele que trazem a melhor alternativa possível para a realidade existente. E eles provam isso. Ou pelo proselitismo ou pela força.

O exemplo mais fácil desse fenômeno são os conflitos entre torcidas organizadas. O estopim pode ser traduzido pela ideia de que se deve “mostrar a verdade” para o outro, mesmo que essa verdade seja o quanto a minha torcida é mais forte do que a sua. Apesar de ter nos espaços esportivos o seu cenário mais comum, esse movimento não tem sido restrito a eles.

Atualmente vemos uma intensa certeza de que estamos do lado da “verdade”, e que ela só pode ser alcançada se o indivíduo compartilhar do “meu” conjunto de ideias. Mais grave do que isso ainda é o passo seguinte dessa “cruzada” pelo “lado correto” das coisas: o indivíduo não consegue afastar seu senso crítico da participação ou não em determinado grupo. E isso é reforçado por um maniqueísmo que ganha em intensidade na atualidade.

Vemos isso na política, em que os partidos tornaram-se torcidas organizadas. As cores partidárias valem mais que um projeto de comunidade. Os integrantes destas “torcidas organizadas” parecem funcionar em lógica binária: ou você é pró-partido ou é contrário a ele. A crítica ao aliado ou o elogio ao adversário coloca você irremediavelmente contra o grupo.

Vemos isso na religião, na qual as torcidas parecem acreditar que ser de um grupo ou de outro, diferente, classifica o indivíduo como digno ou não de ser respeitado, como se o mundo se dividisse em “salvos” e “malditos”. Na verdade, hoje vemos isso em diversas áreas da vida em sociedade que exigem algum nível de interação e discussão de ideias.

As pessoas tentam se contrapor a esse movimento utilizando-se dele: atacam tudo e todos para romper com “a posição hegemônica” e valem-se para isso do desrespeito e da truculência, sob a bandeira de uma “opção pela criticidade” ou mesmo de um sinônimo de “liberdade de expressão”. Parece que ignoram que essa forma de oposição simplesmente as coloca mais próximos daqueles que são criticados.

A capacidade de ter uma “atitude crítica” perante o mundo é muito diferente de fazer parte de uma “torcida organizada”.

 

Givaldo Corcinio é historiador, mestrando em Comunicação pela UFG