História e nostalgia

Horieste Gomes lança hoje Reminiscências da Campininha, obra que traça os 200 anos do bairro de Campinas

 

O Popular – 27/09/2012

Uma época em que Campinas não era bairro, mas cidadezinha, com aura típica de vilarejo com uma rotina que incluía de pescaria a conflitos políticos, boemia e desenvolvimento. Essa história contada pela voz de campineiros legítimos, pesquisas em livros, jornais e pelas memórias de Horieste Gomes foram as matérias-primas deReminiscências da Campininha – 200 anos (1810-2010), que será lançado no Salão Paroquial da Igreja Matriz de Campinas hoje, das 19h30 às 22h30.

O livro, 25º do professor Horieste Gomes, tem 336 páginas e reúne entrevistas realizadas com pioneiros de Campinas, onde o autor chegou com sua família aos seis anos, no ano de 1939. Filho de Júlio Gomes Filho, um marceneiro, e Romilda Bariani, que trocaram o interior paulista por Campinas, Horieste estudou no Grupo Escolar Pedro Ludovico Teixeira, no Colégio Pedro Gomes, na Escola de Comércio de Campinas e no Colégio Assunção, antes de se formar pela PUC-GO (na época UCG), na qual foi professor de História e de Geografia, bem como na UFG, numa carreira de cinco décadas.

Além de várias obras em torno de temas da demografia e história goianas, o autor, que está aposentado desde 1992, foi militante do PCdoB e preso político entre 1972 e 1974 e, em 1975, partiu para o exílio na Suécia, vivências que ele reuniu no livro Cela 14. “Nunca me candidatei nem tenho a intenção. O Brasil teve uma evolução, está mais democrático e os políticos estão sendo mais sabatinados. Mas acho que a consciência política do cidadão ainda não foi conquistada, porque a pessoa ainda permanece muito no seu universo individual”, observa.

DEPOIMENTOS

Reminiscências da Campininha, publicado pela Editora Teixeira, narra das origens à fundação de Goiânia, baseada em depoimentos e pesquisas em documentos diversos. De 2008 a 2010 o escritor entrevistou 40 pessoas, alguns já falecidos e outros que, como ele, “hoje podem até morar em outros bairros, mas serão sempre campineiros”, descreve bem-humorado. Para 2013, Horieste Gomes conta que está preparando um livro sobre o Atlético Clube Goianiense, time que ele já integrou na categoria juvenil.

Entre as várias imagens, em preto e branco, que integram a obra sobre Campinas, destaca-se uma foto do Colégio Santa Clara no ano de 1928. A foto ilustra o depoimento de América Borges (irmã Celeste), religiosa do colégio tradicional, que descreve endereços de campineiros ilustres como Manoel dos Reis e de Urias Magalhães – que tinha a única casa do bairro com guilhotinas.

A freira conta ainda que, na Campininha, só existia um Ford velho dos Redentoristas, com motor que era acionado a manivela, que estragava sempre, mas levava muitas pessoas a Leopoldo de Bulhões, onde elas “pegavam o trem” da Rede Ferroviária rumo a São Paulo e Minas Gerais. Mary José Yazigi, que morou 68 anos no bairro, foi outra entrevistada, assim como Geraldo Coelho Vaz, José Mendonça Teles, dona Bita e o fotógrafo Hélio de Oliveira.

A artista plástica Evandra Rocha, o padre Walmir Garcia dos Santos, Odilon Soares são outras fontes de informação do autor. A obra traz ainda a história de campineiros com destaque fora do Estado, como Jussara Marques, que, em 1949, conquistou o título de Miss Brasil. “Ela viveu em Goiânia até o ano de 1954 e se mudou quando casou. Ela vinha sempre a Goiânia e morreu em 2006, aos 74 anos, no Rio de Janeiro, onde morava”, conta Horieste Gomes.

LEMBRANÇAS

A obra conta também com poemas, como A Campininha das Flores Cantada em Versos, do professor de História e candidato a prefeito de Goiânia Reinaldo Pantaleão. Reminiscências da Campininha também chama atenção pelo registro histórico de tipos comuns de um passado recente que até hoje permeiam o imaginário coletivo de campineiros e das novas gerações. Um deles era João Cego, um andarilho poeta que “batia ponto” nas praças da Igreja Matriz de Campinas e Joaquim Lúcio, com touca na cabeça e um bastão na mão.

Outra lembrança do autor e de outros que habitaram a Campininha das Flores nos anos 1940 fica por conta dos momentos de diversão em locais como o Circo de Touradas do Valdemar. “Cerca de duas vezes por ano este circo vinha a Goiás e montava sua tenda em Campinas. Eu não tinha dinheiro para pagar e entrava por baixo da lona, para ver aquele homem forte que pegava ‘touro pela unha’, como diziam. Ele segurava o bicho pelo chifre, sentado num tamborete”, relembra.