Goiás está na disputa para abrigar a fábrica e o centro de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de medicamentos biotecnológicos da BioNovis, empresa criada no ano passado pela associação dos laboratórios nacionais EMS, Hypermarcas, União Química e Ache, com o objetivo de produzir medicamentos contra câncer e esclerose múltipla .
Além do Estado, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul brigam pela empresa. O projeto prevê investimentos de R$ 1 bilhão em oito anos. “Aqui não é incentivo fiscal que faz a diferença”, alerta Odnir Finotti, presidente da BioNovis.
O assessor de Novos Negócios da Secretaria da Indústria e Comércio (SIC), Alberto Barbo, revela que o Estado manteve uma agenda de reuniões com dirigentes da BioNovis no ano passado e oferece, como diferencial, o polo famacêutico de Anápolis e mão de obra qualificada.
Segundo ele, a empresa seria âncora de complexo industrial integrado, dentro Daia. O modelo é conhecido como “cluster” e corresponde a uma concentração de empresas que se comunicam por possuírem características semelhantes e coabitarem no mesmo local, como ocorre no Vale do Silício, na Califórnia (EUA).
O novo complexo ocuparia parte da área prevista para expansão do Daia. “Além desta logística, poderá haver uma parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), que tem um dos maiores centros de farmacologia do País e 1,6 mil doutores. Uma reunião com representantes da universidade já foi realizada”, diz.
Avaliação
Os representantes da BioNovis, entretanto, ainda analisam o melhor local para instalação da indústria. “Existem pré-requisitos técnicos que precisamos avaliar antes”, afirma o presidente.
O fundamental, segundo ele, é a capacidade instalada da região em fazer inovação. Também vai pesar na decisão a existência de infraestrutura de estradas, aeroportos, portos e atrativos de mão de obra especializada.
“A gente precisa estar próximo de áreas onde existam polos acadêmicos e universitários com algum viés de inovação nessa área em que estamos entrando. Institutos que comecem a fomentar a produção científica inovadora e a formação de profissionais especializados”, ressalta Odnir Finotti.
Pioneira
Primeira grande empresa brasileira a ingressar no mercado de remédios biotecnológicos (feitos a partir de células vivas), a BioNovis já nasceu com vocação para ser uma empresa global. Em cinco anos, ela quer ser o maior laboratório de biotecnologia da América Latina e, em dez anos, competir em escala mundial.
É um mercado de US$ 180 bilhões no mundo e de US$ 4 bilhões no Brasil, que hoje depende da importação.
A primeira etapa do projeto prevê investimentos de R$ 500 milhões para construção da fábrica e do laboratório de P&D, realização de estudos clínicos e formação de mão de obra. “Em oito anos, o projeto vai consumir mais de R$ 1 bilhão, dos quais 60% a 70% dedicados a pesquisa”, afirma.
O início das obras está previsto para o segundo trimestre deste ano. A decisão sobre o Estado escolhido deve sair no fim do primeiro trimestre. Os medicamentos biotecnológicos, que serão produzidos, são usados para combater as chamadas doenças de alta complexidade, como as autoimunes, câncer e esclerose múltipla.
São produtos caros, de tecnologia de ponta e alto valor agregado. O custo do tratamento com esse tipo de remédio, em quase a totalidade dos casos, acaba sendo bancado pelo Ministério da Saúde.
“Nenhum cidadão de renda média, no Brasil ou em qualquer país, pode arcar com um tratamento desses”, diz. Segundo ele, o tratamento de um paciente pode chegar à casa de US$ 100 mil por ano.
Custos de medicamentos podem cair até 30%, prevê executivo
(Agência Estado) 20 de janeiro de 2013 (domingo)
São Paulo - Com o início da produção local de medicamentos biotecnológicos, o preço deve cair ao menos 30%, estima o presidente da BioNovis, Odnir Finotti.
O mais importante, para ele, é que desonera a pauta de importações e diminuir nossa dependência de tecnologia importada. “Hoje, se uma fábrica dessas tiver um problema no mundo e não puder produzir, vamos ficar sem o medicamento, porque não tem um segundo fornecedor”, frisa.
O projeto tem o apoio do governo federal, por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que poderia ter uma participação como sócio da empresa. “O BNDES já manifestou que vai participar, mas ainda não está oficializado.”
Hoje, a importação de medicamentos biotecnológicos custa ao governo cerca de R$ 8 bilhões ao ano, quase a metade de todo o gasto governamental com remédios adquiridos no exterior. Por causa do alto valor unitário, eles representam só 2% do volume dos remédios comprados lá fora.
Projeção
A BioNovis espera ter o primeiro medicamento de biotecnologia produzido no País em 2016, afirma Finotti. O foco da empresa é produzir a tecnologia para a fabricação dos medicamentos. Mas para iniciar as operações, ela negocia contratos de transferência de tecnologia de produtos cuja patente venceram, conhecidos como biossimilares.
1.264633
Investimento em pesquisa recua 34%
(AE) 20 de janeiro de 2013 (domingo)
São Paulo - A BioNovis está na contramão do resto da indústria brasileira. Em três anos, os investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação do setor encolheram 34%, de R$ 10,4 bilhões para R$ 6,8 bilhões. Entre 2010 e 2011, a queda foi de cerca de 26%, já descontada a inflação do período.
A informação é de um levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com base no relatório mais recente do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação sobre os resultados dos incentivos fiscais à inovação, referentes ao ano-base 2011.
“É muito difícil elevar o investimento em desenvolvimento e inovação de produtos num país em que a indústria vem perdendo espaço no PIB (Produto Interno Bruto) todos os anos”, diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor do departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, responsável pelo trabalho.
Ele argumenta que esse tipo de investimento está ocorrendo hoje nos países que são mais competitivos, como México, Coreia e China. E a conta dessa falta de investimento aparece nas transações comerciais do País. “A cada dia a gente vende mais produtos de baixo valor agregado e compra mais produtos de maior valor agregado”, afirma o executivo.
O diretor da Fiesp observa que os efeitos da crise econômica mundial no Brasil explicam boa parte da queda nos investimentos. Mas frisa que as condições para investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação são bem melhores hoje do que eram há uma década. As empresas beneficiadas por incentivos fiscais representam 15% do total das empresas que realizam atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica no País.
O problema, segundo a Fiesp, é que a chamada Lei do Bem restringe o alcance dos incentivos fiscais a empresas que fazem a declaração de Imposto de Renda pelo lucro real. Só 7% do universo das empresas brasileiras adotam esse procedimento.
“A questão é que, se a empresa der lucro, ela paga menos imposto, enquanto o governo não precisa desembolsar nenhum centavo de incentivo fiscal”, explica Roriz Coelho.
Nesse cenário, a participação dos incentivos fiscais à inovação representa um porcentual pouco significativo, oscilando entre 0,03% a 0,15% da carga tributária. Além disso, de um total de 1 475 empresas que participaram da Lei do Bem desde a sua criação, em 2005, somente 46 marcaram presença em todos os anos, o que representa só 3% do total.