No palco e fora dele

Eles têm dificuldade de conciliar agendas, convivem com horários apertados, quase não têm tempo para ensaiar, mas, ainda assim, levam a carreira artística em frente. Profissionais de diversas áreas apostam no seu talento musical e formam bandas que contam com público cativo

Rogério Borges 16 de junho de 2013 (domingo)
Zuhair Mohamad
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Educação física e forró

ENTRE HALTERES E ZABUMBAS

Eles andavam por João Pessoa, meio de bobeira, depois de um dia de praia. Chinelão no dedo, pé sujo de areia. Num mercado de artigos típicos do Nordeste, os amigos viram instrumentos musicais e um deles falou: “Vamos formar uma banda de forró?” E não é que formaram mesmo?

Hoje, o Forró Pé de Toddy tem seis anos de existência e um público fiel. Detalhe: os amigos estavam na Paraíba para um congresso estudantil da área que cursavam: educação física. O curso tem tudo a ver com o nascimento e a permanência da banda. Todos os seus membros passaram por uma faculdade de educação física. A maior parte exerce a profissão. Dos integrantes que fundaram a banda, todos eram da área, assim como aqueles que se juntaram ao grupo posteriormente.

O Forró Pé de Toddy conta hoje com Eduardo Gomes, 27 anos, tocador de triângulo e formado pela Eseffego em 2009; Victor Hugo Camargo, 25 anos, vocalista, responsável pelo cavaco e personal trainer; Luiz Carlos Marçal, 23 anos, sanfoneiro e professor de educação física formado pela UFG; Kennedy Marçal, 23 anos, zabumbeiro e que está com a matrícula no curso de Educação Física na Federal trancada, e Vinícius Teixeira, 27 anos, violonista e outro ex-aluno da Eseffego. Além deles, já passaram pela banda o percussionista Paulo César Vieira, professor de educação física, e Hugo Fernandes, contrabaixista e também formado na área. “Nós começamos cantando para nossos amigos da educação física e ainda hoje essa galera nos acompanha”, diz Eduardo.

O nome da banda veio daquela cena em João Pessoa. Os pés sujos de areia se associaram ao forró pé de serra, ritmo tradicional no Nordeste e que gerou derivados, como o forró universitário. Os então universitários de educação física começaram essa aventura mais como uma brincadeira. “A gente já cantava em viagens, mas nada tão sério. Quando começamos era tudo muito ruim”, lembra Victor Hugo.

“Eu mesmo não sabia tocar sanfona. Aprendi em seis meses”, revela Luiz Carlos, que entrou logo depois na turma e que levou para os shows do Pé de Toddy um outro público. “Eu sou professor de dança de salão e o pessoal sentia falta de ter um grupo que pudesse tocar algo mais bacana para dançar.” Foi em busca desse espaço alternativo que o conjunto se lançou. Deu certo.

Neste mês de festas juninas, a banda chega a fazer 15 shows. Agenda que exige jogo de cintura para ser conciliada com as atividades que os integrantes desempenham em academias e com os horários de seus alunos de personal. “Somos criteriosos para aceitar os convites porque senão corremos o risco de não conseguir cumpri-los”, afirma Victor Hugo.

Logística complicada

Recentemente a trupe recusou um convite para tocar no interior da Bahia por causa dessa logística complicada. “Ainda não saímos de Goiás por isso”, justifica o vocalista. O que não impede a trupe de fazer bons intercâmbios aqui mesmo. O Forró Pé de Toddy já tocou para plateias com 5 mil pessoas, principalmente no famoso Arraiá da Eseffego, berço da banda. E também dividiu o palco com grupos como o Fala Mansa e o Rastapé.

O debate entre os colegas na música e na educação física é intenso. Eles preferem não entrar no circuito das casas noturnas sertanejas da capital, ainda que convites já tenham sido feitos. “Nosso estilo é diferente e a plateia, muitas vezes, não entende isso. Acaba pedindo para a gente tocar Luan Santana ou Michel Teló, o que não fazemos”, explica Eduardo.

Eles agora discutem a mudança do nome do grupo antes da gravação do primeiro CD, que esperam seja realizada até o ano que vem. “Há um certo preconceito quanto ao nome atual”, diz Luiz Carlos. “Isso só começou a melhorar quando passamos a divulgar nossa foto. Aí as pessoas viram que somos arrumadinhos”, brinca Kennedy. Seja qual for a decisão, o grupo continuará em sua dupla jornada, nos palcos e academias.

 

Uma banda que tem química

16 de junho de 2013 (domingo)
Mantovani Fernandes
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Marco Aurelio, Eduardo Eurípedes, Marcos e Tasso: giz e rock nacional

É um rotina estafante. Aulas em dois turnos do dia, elaboração de exercícios, simulados, provas. Vida de aluno? Não, vida de professor do ensino médio. Ainda assim a Banda Pó de Giz, cujos cinco integrantes são docentes em diversos colégios de Goiânia, Anápolis e Brasília, arruma intervalos para ensaiar.

Quatro deles ensinam química e um dá aulas de matemática para a garotada que se prepara para o vestibular. “A banda nasceu em 1995, num evento escolar. Pensamos que seria interessante fazer algo diferente para os alunos”, explica Tasso César Azeredo, o Velho Tasso, contrabaixista do grupo. “Tanto nós quanto os estudantes gostamos de música e isso gerou uma identificação. A banda deu química”, brinca Eduardo Eurípedes Vasconcelos, o Duda, vocalista.

Já se vão 18 anos e aqueles alunos adolescentes da década de 1990 agora são pais e seus filhos, estes também já adolescentes, têm contato com a mesma Pó de Giz. Quer dizer, quase a mesma. Da formação original permanecem na banda, além de Tasso e Duda, o professor Dalton Franco, guitarrista, hoje morando em Brasília. Já o guitarrista Marco Aurélio Ferreira, o Sombra, professor de matemática, e o baterista Marcos Mendanha, que leciona química, chegaram um pouco depois, mas também já há bastante tempo.

“O mais complicado é conseguir horários para ensaiar que sejam bons para todos”, diz Sombra. Atualmente dá para fazer apenas um show por semestre. “No início fazíamos mais, mas agora não é possível. Temos muitos compromissos”, justifica Duda.

Quando sobem ao palco, o sucesso é garantido. Tradição que vem desde a primeira apresentação, mais de 15 anos atrás. “Fizemos o show no Goiânia Shopping. Tinha cerca de 3 mil pessoas lá”, recorda-se Duda. “Nosso último show foi em novembro do ano passado aqui em Goiânia e a casa noturna lotou”, informa Marcos.

Para eles, a experiência em sala de aula ajuda nos palcos e vice-versa. “Nosso público nos shows acaba sendo parecido com os alunos de uma sala de aula”, alega Duda. “Isso nos renova para lidar com a juventude”, emenda Sombra. “Isso não quer dizer que temos a síndrome de Peter Pan, de querermos permanecer jovens”, esclarece Tasso. “Abrimos um diálogo, temos um elo para compartilhar experiências de tempos diferentes com os alunos.”

Repertório

Uma via que passa por repertório composto por canções de bandas dos anos 1980 e 1990. “A música não envelhece”, pontua Tasso, citando grupos como U2, Legião Urbana, Barão Vermelho. “Não temos preconceitos com outras músicas, mas nós gostamos mais destas. Tocamos o que gostamos. Este é um princípio nosso”, informa o baterista Marcos.

“Os alunos que não conhecem o trabalho que fazemos acham que nosso show será só um grupo de professores tirando um sonzinho. Muitos deles se surpreendem”, orgulha-se Sombra. A popularidade entre a molecada, claro, é grande. Durante a entrevista do grupo no Colégio Visão, onde três dos integrantes dão aula, muitos alunos ficaram espiando, interessados na movimentação em torno dos mestres artistas. Entre o pessoal da banda reina a descontração. Não chega a ser bagunça de turma problemática, mas eles não perdoam uns aos outros. “Este aí vive me sacaneando”, brinca o vocalista Duda, apontando o contrabaixista Tasso, responsável pela base das músicas. “É sempre assim. A culpa é sempre minha”, defende-se ele.

Sombra, por sua vez, volta as baterias contra o baterista. “O Marcos vive colocando a gente em fria”, acusa, recebendo uma gargalhada como resposta. Eles não integram aquela corrente que acha útil inventar musiquinhas para os alunos decorarem fórmulas – “Esse tempo já passou”, opina Sombra –. Mas têm no humor e na música de qualidade um respiradouro eficiente para a rotina acelerada da sala de aula. Um pó de giz que fazem questão de não espanar.

Source: O Popular