Goiânia e Brasília são as capitais que mais atraem migrantes no País. As duas metrópoles brasileiras têm os maiores saldos de fluxo migratório no território nacional, ou seja, mais pessoas decidem viver nessas cidades do que se mudam delas. Os dados são do Atlas do Censo Demográfico 2010, divulgado ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As capitais goiana e federal deixam para trás São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ), que, apesar de terem um volume de migrantes bastante significativo, já não são mais os principais pólos de atração do País. Mas, por outro lado, a capital paulista ocupa o quinto lugar entre as maiores aglomerações urbanas do mundo. O fator econômico é o grande responsável por essa mudança na sociedade brasileira, de acordo com o chefe do IBGE em Goiás, Edson Roberto Vieira.
O processo cada vez mais crescente e intenso de mecanização da agricultura, no Estado, favorece o crescimento econômico, embora também intensifique o êxodo rural, observa Edson Roberto. “Quando se olha o porcentual de pessoas ocupadas nas diversas regiões do Brasil, consegue-se ver uma dinâmica diferenciada em Goiânia e na região metropolitana, com mais gente ocupada. Goiás tem hoje uma população urbana”, analisa o especialista.
A capital de Goiás, por exemplo, em termos de aumento populacional, está ao lado de cidades como Florianópolis (SC) e Manaus (AM), que apresentam taxa média de crescimento de 2,54%, mais de duas vezes maior que a do País (1,16%). Essa dinâmica diferenciada, observa o chefe do IBGE no Estado, promove benefícios para a população, mas também cria problemas.
O Atlas do IBGE, que cruza uma série de informações do último censo demográfico, revela que Goiânia está entre as grandes cidades em que os moradores têm de enfrentar problemas de mobilidade urbana. “As pessoas gastam muito tempo para se deslocar para o trabalho”, observa ele, destacando que a atração do fluxo migratório provoca crescimento desordenado, impondo desafios que precisam ser enfrentados pelo poder público.
O levantamento também mostra que Goiás ocupa o terceiro lugar entre os Estados que mais criaram municípios entre 2000 e 2010. Foram quatro novas cidades goianas que surgiram na última década. O Estado fica atrás do Rio Grande do Sul (29) e Mato Grosso (15).
Mudanças
Os fluxos de migrantes têm relação com as mudanças no mercado de trabalho e não são mais feitos só por pessoas com baixa qualificação, em busca de melhor qualidade de vida, de acordo com o IBGE. Apesar de haver uma diversidade muito grande de gente muda de cidade no País, o migrante com mais escolaridade tem mais chances de deslocamento e opções profissionais. Brasília consegue se destacar por apresentar um forte peso nos ramos da administração pública no total dos empregos oferecidos, o que pode garantir estabilidade econômico-financeira para quem muda para lá.
Para o professor associado do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Eguimar Felício Chaveiro, essas mudanças também provocam implicações nas cidades no Entorno do Distrito Federal (DF), bastante castigadas pela falta de infraestrutura.
Problemas
Desafios decorrentes do grande fluxo migratório
Expansão urbana desordenada
Crescimento horizontal esparso
Processo desenfreado de conurbação
Mobilidade urbana precária
Incidência muito forte do setor imobiliário
Graves impactos ambientais
Agravamento da falta de infraestrutura nas periferias
Mudança de rota teve início na década de 90
(C.A.) 29 de junho de 2013 (sábado)
Renato Conde
Eguimar Felício: “Geração de serviços e de trabalho”
A mudança de rota de migrantes rumo ao Estado de Goiás e à Região Centro-Oeste começou a ser percebida a partir dos anos de 1990, na avaliação do professor Eguimar Felício Chaveiro, associado do Instituto de Estudos Sociambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Segundo ele, o agronegócio no Estado garante a Goiânia o lugar de uma metrópole terciária, com geração de serviços e de trabalho. Todavia, a capital também torna-se palco de “trampolim demográfico”, já que muitos migrantes acabam indo morar no Entorno do Distrito Federal (DF).
O pesquisador ressalta que os migrantes que optam por Brasília são lançados no Entorno, sobretudo em 11 cidades goianas, até porque nesses lugares o custo de vida é menor do que na capital federal. Ao analisar essa movimentação de pessoas pelas cidades do País, ele frisa que, frente à desconcentração industrial do Sudeste, o agronegócio e o setor de serviços tornam-se mais atrativos.
Por outro lado, destaca Eguimar Felício, não se pode dizer, de modo geral, que esse diagnóstico do País mostra que o Nordeste é pobre. Cidades como Luís Eduardo Magalhães (BA) e Barreiras (BA) apresentam profundo dinamismo e atraem trabalhadores até de São Paulo, de acordo com o professor da UFG.
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Melhoria nos indicadores socioeconômicos
(C.A.) 29 de junho de 2013 (sábado)
A melhoria nos indicadores socioeconômicos no Centro-Oeste, como a redução das desigualdades e da precariedade nas relações de trabalho, contribuem para que Goiânia e Brasília (DF) sejam as metrópoles com o maior saldo de fluxo migratório no País. A avaliação é da antropóloga Luciana de Oliveira Dias, coordenadora da pesquisa Goianos no Mundo: Fluxos Migratórios, em andamento na Universidade Federal de Goiás (UFG).
Além disso, Goiânia, assim como Brasília, ainda resguarda características de pouco estrangulamento metropolitano. “Estamos numa metrópole com memória historicamente recente de uma certa ruralidade. Nesse sentido, a violência urbana e a precarização do trabalho ainda apresentam níveis toleráveis, o que já não ocorre em São Paulo e no Rio de Janeiro”, analisa a professora e pesquisadora da UFG.